AltoMinho/Galiza lançam documentário sobre efeito de encerramento de fronteiras

Da Redação
Com Lusa

O Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Rio Minho vai lançar o documentário “Confinados no rio Minho”, com testemunhos de trabalhadores, empresas e população do território que “continuam a sofrer um duplo impacto na sua rotina”.

Em comunicado nesta sexta-feira, o agrupamento que reúne 26 municípios portugueses e galegos explicou que, além da pandemia de covid-19, os trabalhadores, empresas e população “sofre com o encerramento de fronteiras” entre as duas regiões vizinhas.

“Por detrás das perdas econômicas, das viagens de centenas de quilômetros a mais para trabalhar e dos gastos em combustível e de tempo, há histórias pessoais bastante emotivas que são o exemplo do que acontece aos cerca de 6.000 trabalhadores afetados por esta medida”, refere a nota.

O documentário, que será lançado nas próximas semanas, pretende “dar voz”, a essas pessoas.

“Com esta iniciativa pretende-se atribuir um rosto e um nome às diferentes dificuldades causadas pela existência de apenas um ponto de passagem autorizada em regime permanente (24h) entre o Alto Minho e a Galiza”, explica o AECT Rio Minho.

O “objetivo é difundir e partilhar o documentário junto do maior número de pessoas e autoridades de Portugal e de Espanha, assim como com a Comissão Europeia, pelo que será legendado em português, galego e inglês”.

“Neste momento, já está a circular um ‘teaser’ nas redes sociais da província de Pontevedra, do ‘Smart’ Minho e das autarquias do AECT”, especifica a nota.

O “documentário “Confinados no Rio Minho”, produzido pelo AECT foi elaborado pelo diretor, cineasta, guionista e ator Suso Pando”.

Com “uma duração aproximada de 60 minutos e, com imagens do território transfronteiriço, recolhe testemunhos na primeira pessoa de quem viveu o impacto do encerramento da fronteira no primeiro confinamento devido à covid-19”.

O filme “apresenta uma visão econômica e institucional das reivindicações pela abertura das várias travessias, insistindo na máxima de que o Minho é um território muito dinâmico economicamente, com uma interdependência secular enorme entre ambas as margens do rio, e com uma fronteira que representa 5% do total de quilômetros entre Portugal e Espanha, mas que assume 50% do tráfico de veículos”.

O ‘teaser’ agora lançado apresenta três testemunhos em dois minutos.

Um deles é o de Noélia Salgueiro, residente em Valença, no Alto Minho e trabalhadora em Tui, na Galiza explica que, “durante o primeiro confinamento e encerramento de fronteiras, teve de deixar a sua residência em Portugal com o filho mais novo para se instalar na casa dos pais, em Tui, durante um mês e meio, separando-se do resto da família, uma vez que problemas administrativos não lhe permitiam passar o controlo fronteiriço”.

“Espanhóis e portugueses estamos todos misturados. As autoridades não sabem como se vive nesta zona”, refere, no filme.

O “Confinados no rio Minho” resulta da ação-piloto do Observatório das Dinâmicas Transfronteiriças – ODT -, que pretende ser “um instrumento de apoio à decisão, com o objetivo de estruturar informação e melhorar o conhecimento da realidade socioeconômica do território do AECT Rio Minho, no âmbito do projeto REDE_Lab_Minho, cofinanciado pelo Interreg V A”.

Com sede em Valença, o AECT Rio Minho abrange 26 concelhos: os 10 municípios do distrito de Viana do Castelo que compõe a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho e 16 concelhos galegos da província de Pontevedra.

Fechamento cego

Em entrevista à Lusa, a ministra da Coesão Territorial disse que a “dinâmica” entre o Alto Minho e a Galiza deu uma “lição para o futuro” de que o encerramento de fronteiras entre Portugal e Espanha não pode ser feito “cegamente”.

“Isto também é uma lição para o futuro. Não podemos fazer cegamente o encerramento da fronteira, sobretudo naqueles territórios onde ela já desapareceu há décadas, porque no dia a dia as pessoas não a vêm, não a sentem e não a querem”, afirmou Ana Abrunhosa em Melgaço, no distrito de Viana do Castelo.

A governante sublinhou tratar-se de um “território onde dificilmente se entende que se fechem fronteiras, porque, de ambos os lados, elas não existem”.

“Quando nós, burocraticamente, tomamos estas decisões, as pessoas, no terreno não entendem porque a fronteira não existe no dia a dia”, reforçou.

Atualmente, das oito passagens que ligam o distrito de Viana do Castelo às Galiza, o atravessamento da fronteira durante 24 horas apenas está autorizado na ponte nova de Valença. Há ainda em Monção e Melgaço pontos de passagem que estão disponíveis nos dias úteis, das 07:00 às 09:00 e das 18:00 às 20:00.

Ana Abrunhosa acrescentou tratar-se de um território transfronteiriço “onde não é possível o teletrabalho”. “Penso que essas são as lições para o futuro porque, em muitos territórios, se as pessoas podem trabalhar a partir de casa, aqui não. As pessoas trabalham na indústria. Têm de sair de casa para trabalhar e sustentar as suas famílias”, reforçou.

A governante reconheceu que a abertura de todos os pontos de passagem entre os dois países “torna mais difícil a gestão e controle”, mas admitiu que é preciso “olhar os territórios de forma diferente”.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.570.291 mortos no mundo, resultantes de mais de 115,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.486 pessoas dos 808.405 casos de infecção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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