Santuário de Fátima na primeira peregrinação do ano. “Não deixem de rezar”

Da Redação com Lusa

Neste 13 de  maio, milhares de peregrinos participam, a partir das 10:00, no Santuário de Fátima, à missa final da peregrinação de maio à Cova da Iria, presidida pelo cardeal espanhol Juan José Omella, arcebispo de Barcelona.

Omella, na noite de domingo, nas cerimônias de abertura da peregrinação, exortou os católicos a não terem medo de recorrer à Virgem Maria, entregando-lhe todos os pedidos e orações.

Perante cerca de 250 mil peregrinos – número divulgado pelo Santuário de Fátima –, entre os quais o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, o cardeal espanhol aconselhou os fiéis a, perante a Virgem, pedirem “pela paz do mundo e pela conversão dos pecadores”.

Para esta peregrinação, o santuário recebeu a informação da presença de 186 grupos de peregrinos, 92 dos quais portugueses, estando ainda registados fiéis de 32 países estrangeiros.

A peregrinação que hoje termina, além de assinalar os 107 anos da primeira aparição de Nossa Senhora aos três Pastorinhos, em 1917, evoca, também, o sétimo aniversário da canonização de Francisco e Jacinta Marto, que em 13 de maio de 2017 se tornaram os mais jovens santos não mártires da Igreja.

Neste âmbito, às 18:00 está previsto um “momento de veneração dos dois santos”, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde estão sepultados.

Rezar

O arcebispo de Barcelona, cardeal Juan José Omella, alertou para as situações de conflito que se vivem no mundo, apelando aos católicos que “não deixem de rezar”.

“Não podemos perder esse costume de rezar, pedir por todo o mundo, rezar pela paz”, disse o cardeal, na homilia de improviso na missa de encerramento da peregrinação de 12 e 13 de maio ao Santuário da Cova da Iria.

Deixando a homilia que tinha escrito para que os fiéis leiam na internet, questionou “quantos países estão em guerra? Quantas famílias estão em guerra?”

“Oremos pela paz no mundo”, pediu Omella, perguntando “quantos países reclamam, necessitam, da paz?”, referindo-se, nomeadamente, à Ucrânia, à Rússia, à Faixa de Gaza e territórios em África.

Depois, pediu aos católicos presentes no santuário que sejam missionários, sublinhando que “o Papa convida, no Sínodo, à evangelização”.

Antes de terminar a homilia, com um apelo a que os fiéis não deixem de ler o texto que tinha preparado, “pois estava melhor” que o seu improviso, Omella exortou a que “a fé não desfaleça” e defendeu uma Igreja unida em torno do Papa, para que possa ser evangelizadora.

Já no texto original distribuído aos jornalistas, o cardeal espanhol alertava para os conflitos existentes no mundo que, citando Bento XVI, fazem com que a humanidade esteja “acabrunhada por misérias e sofrimentos”.

“O mundo arde em muitos lados”, escreveu o prelado espanhol, sublinhando que o Papa Francisco “não se cansa de dizer” que o mundo está “a viver uma terceira guerra mundial aos pedaços”.

Para o cardeal Omella, que vê os homens com o “coração ferido”, que por vezes “sucumbe à tentação e ao pecado que provocam a divisão no seio das famílias e ambientes sociais”, surge a pergunta: “que podemos fazer diante deste mundo que caminha perdido?”.

“Que podemos fazer para pôr fim às guerras na Ucrânia, na Terra Santa e em tantos outros lugares de África e do mundo? Que podemos fazer para que as pessoas recuperem a alegria e a esperança? Como podemos vencer esta indiferença que, com tanta facilidade (…) nos faz viver continuamente centrados em nós mesmos?”, questionava o arcebispo de Barcelona.

Juan José Omella recordava ainda o ambiente vivido em 1917, na altura das aparições, em plena I Guerra Mundial, para fazer o paralelismo com a atualidade.

“Hoje, desgraçadamente, também temos muitas guerras por todo o mundo, que nos inquietam. Os portugueses sabem bem que esse tempo não foi fácil para vós nem para os países europeus. Além disso, no vosso país estes conflitos coincidiram com uma triste perseguição religiosa contra os católicos”, escreveu o cardeal espanhol, reconhecendo que, “diante dessa situação dramática, muitos perderam a esperança”.

No entanto, “houve um ‘pequeno resto fiel’ que confiou plenamente em Deus e nas suas promessas”.

Segundo Omella, “foram pessoas que, com profunda fé e insistência, iniciaram uma cruzada de oração do Rosário. Pediam à Virgem que voltassem os seus filhos da guerra, e pediam-lhe que salvasse Portugal. Confiaram na maior intercessora”.

Neste ponto, deixava o desafio aos fiéis, que hoje tiveram de suportar alguma chuva no Santuário de Fátima, a integrarem a “humilde família que reza e se oferece pela salvação da humanidade”.

“Diante deste mundo onde a paz se vê ameaçada, onde se perde a esperança”, o arcebispo recordava a mensagem deixada pela Virgem aos pastorinhos de Fátima, e que considera um “precioso programa” consubstanciado na “conversão, reconciliação, renovação da vida cristã, reforma dos costumes, oração e sacrifício pela conversão dos pecadores e pela reparação dos próprios pecados”.

Também na Oração dos Fiéis, a situação na Ucrânia e na Faixa de Gaza foi evocada, com um pedido pela paz e para que os responsáveis políticos sejam guiados “na construção de um mundo novo”.

Foi ainda feita uma prece pelos cristãos “que são discriminados ou perseguidos por causa de Jesus”, para que “possam permanecer firmes como testemunhas”.

Conflitos

No dia 12, o bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, sublinhou que “as dramáticas situações de conflito armado que se encontram no mundo nunca podem estar longe das celebrações e da oração” no Santuário de Fátima.

Lembrando que as aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos ocorreram “durante a terrível primeira guerra mundial”, o prelado disse que, por esse motivo, “a guerra, o ódio, os atentados e o desejo de repressão e domínio sobre pessoas e povos está bem no centro da mensagem de Fátima”.

“Preocupam-nos especialmente a selvagem e dramática situação que se vive na faixa de Gaza e na Ucrânia, como outras no Iémen, Sudão, Congo”, afirmou José Ornelas, que, na conferência de imprensa antes da peregrinação aniversária de 12 e 13 de maio ao santuário, lembrou também as vítimas de desastres naturais ocorridos nos últimos dias.

Assim, expressou “solidariedade com as vítimas dos desastres naturais no Brasil, no Afeganistão e em outros países do mundo, que apelam à solidariedade e proximidade pelas vítimas de tanto sofrimento, chamando a atenção também para as alterações climáticas, muito acrescidas pela ação humana, que tanto contribuem para a dimensão destrutiva destes fenômenos”.

José Ornelas, no dia em que a Igreja Católica assinala o Dia da Comunicação Social deixou também uma saudação aos jornalistas, realçando “a sua importância, particularmente nestes tempos em que a informação é silenciada, perseguida e negada a povos inteiros, como forma de esconder o grito dos que sofrem a injustiça, a discriminação e a exploração”.

“Lembro particularmente os cerca de 100 jornalistas mortos em 2023, 70 dos quais na Faixa de Gaza, a que se juntaram muitos mais nos primeiros meses deste ano. Que a sua coragem ao serviço da justiça e a dignidade maltratadas possam apressar o dia da paz e da reconstrução”, desejou.

Na conferência, em que participaram também o cardeal Juan José Omella, arcebispo de Barcelona que preside à peregrinação, e o reitor do santuário, Carlos Cabecinhas, o bispo de Leiria-Fátima fez questão ainda de deixar uma palavra aos migrantes que, em todo o mundo, “tudo arriscam para encontrar condições de vida e dignidade para si e para as suas famílias”.

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