Especial 200 Anos: A Chegança da Corte Portuguesa no Brasil

A chegada da corte portuguesa no Brasil – Parte I

" Aqui D`el Rei, os Franceses estão chegando "

 

Por Eulalia MorenoPara o Mundo Lusíada

 Uma cidade em pânico. Uma Corte atabalhoada e em fuga na madrugada cinza e triste de 29 de Novembro de 1807. No cais, o passado heróico e um povo órfão. Meses de Atlântico sob a proteção da esquadra inglesa seria o futuro imediato para os passageiros a bordo. Aproximadamente, quinze mil portugueses, sem saber se um dia regressariam, lançavam à Pátria o seu olhar de despedida.Na França, em 1792, o reino dos Bourbon, desmorona arrastando consigo a monarquia absoluta e a sociedade aristocrática do antigo Regime. A Revolução está nas ruas, o Rei já não governa, a nobreza já não exerce influência, o alto clero não tem privilégios, o povo se prepara para exercer o poder. Em Portugal reina a calma.Nos aposentos reais do Palácio de Queluz ecoam gritos de terror e uma mulher está face a face com o inferno. Os ministros querem entregar o Governo ao Príncipe Dom João. A notícia infeliz corre de boca em boca: a Rainha, Dona Maria I, está louca.A 10 de Fevereiro de 1792 quando assumiu o Governo de Portugal, Dom João era um moço baixo, gordo, mãos e pés muito pequenos, rosto redondo , olhos igualmente redondos e quase inexpressivos. Nascido em 1767 tinha então 25 anos e não fora destinado para reinar.Não era ele o herdeiro do trono. Durante toda a sua infância e adolescência ninguém se preocupou em dar-lhe uma educação que o preparasse para governar. Ele próprio, com o seu caráter bom, humilde e resignado, nunca ambicionara a Coroa. Ao nascer, reinava Dom José I, seu tio e avô. Tio por ser irmão de seu pai, Dom Pedro, avô por ser pai de sua mãe, Dona Maria. Ou seja, Dona Maria, além de esposa, era sobrinha de Dom Pedro. Eram eles os herdeiros do trono e, em 1777 com a morte de Dom José I, tornaram-se reis, como Dona Maria I e Dom Pedro III.Tampouco durante o reinado dos seus pais, Dom João era aspirante ao trono. O herdeiro era o seu irmão mais velho, Dom José. Assim cresceu Dom João, apenas um Príncipe que deveria ocupar o seu lugar na Corte e submeter-se à vontade do Rei, da Rainha e do herdeiro, sem ter uma posição de comando.Em 1785, quando Dom João tinha dezoito anos, os reis resolveram selar a sempre débil amizade com a Espanha, escolhendo para sua esposa Carlota Joaquina, filha do rei espanhol Carlos IV.Em 1786 morre Dom Pedro III e dois anos depois, em 1788 Dom José, com 27 anos e de varíola, o herdeiro natural do trono. As perdas repentinas acabam por agravar o estado mental de Dona Maria e Dom João tem de assumir o Governo.Esperando a cura da mãe, recusa-se a receber o título de Príncipe Regente. Só em 1799 se convence de que essa situação é definitiva e que lhe cabe a difícil tarefa de dirigir o país cercado de inimigos. Torna-se Príncipe Regente e aceita a imposição das circunstâncias: será ele o Rei de Portugal. Já nos seus primeiros dias como Regente, Dom João viu-se envolvido no tumulto da política européia. Em 1793 aliou-se a Espanha no combate à Revolução Francesa enviando tropas para os Pirinéus. A frota portuguesa uniu-se aos navios ingleses na patrulha das rotas comerciais. Períodos de guerra e tênues tréguas sucederam-se até 1799, quando um oficial de artilharia, Napoleão Bonaparte, assumiu o poder na França.              Habilidoso tanto na política como o seria, em breve, no campo de batalha, Napoleão, ao mesmo tempo que abria a luta contra os ingleses em 1801, procurava aliados no continente. Incitou os espanhóis a atacar Portugal como uma forma de enfraquecer a aliança luso-inglesa. Dom João não teve condições para enfrentar os invasores firmemente apoiados pela França. Em poucas semanas se rendeu, entregou a cidade de Olivença aos espanhóis e comprometeu-se a fechar os seus portos aos navios da Inglaterra.Contudo, Dom João não se curvaria a essas imposições já que desde meados do século XVIII a economia portuguesa estava profundamente ligada à Inglaterra e fechar –lhe os portos poderia ser interpretado como um ato de guerra. Os ingleses, donos da maior esquadra da época, poderiam bloquear o comércio português. Até as ligações Lisboa-Brasil eram feitas desde 1694, em parte por navios ingleses. Para Dom João era essa a opção: recusar o ultimato francês e correr o risco de ver Portugal invadido, ou fechar os seus portos à Inglaterra e assistir à morte do comércio e à possível perda do Brasil.Como se tal problema fosse pouco, Dom João ainda tinha mais um outro, doméstico e sério: sua mulher Carlota Joaquina, fiel ás suas origens espanholas, mantinha-se favorável a Espanha e conspirava contra o trono de Portugal tentando assumir a regência acusando Dom João de “ inábil e incompetente”.Mergulhado em todos essas questões , ora pensando em aliar-se aos franceses, ora pressionado a unir-se aos britânicos, ora tendo de se defender das intrigas domésticas de Carlota Joaquina, Dom João foi protelando a sua decisão até ao último momento. Em Setembro de 1806, Napoleão, cansado de esperar enviou o ultimato: ou Portugal fechava os portos à Inglaterra ou a França invadiria o Reino.E Dom João ainda hesitou.  O embaixador inglês, Lord Strangford propôs uma solução: embarcar sob a proteção de navios ingleses toda a família real para o Brasil. Dom João permaneceu indeciso até que um grito fez-se ouvir nas ruas de Lisboa: “Os franceses estão chegando”.Era verdade. O General Junot cruzara os Pirineus, invadira Portugal e marchava à caminho de Lisboa.

2 Comments

  1. Por gentileza, busco listas de passageiros de 1827, 1828 e 1829, de imigrantes alemães que vieram para o Brasil e desembarcaram no Rio de Janeiro e posteriormente em Santos, São Paulo. Preciso das listas de navios e fontes desses arquivos se alguém puder me ajudar.

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