Chefe da diplomacia angolana usa Sócrates para explicar prisão política de ativistas

Mundo Lusíada
Com Lusa

angola_bandeiraO chefe da diplomacia angolana, Georges Chikoti, invocou a detenção preventiva do ex-primeiro-ministro português José Sócrates para explicar a situação dos 15 ativistas detidos em Luanda desde junho, acusados de preparem um golpe de Estado.

O ministro das Relações Exteriores de Angola falava aos jornalistas na Assembleia Nacional, em Luanda. O arranque do novo ano parlamentar acontece numa altura de forte pressão internacional sobre Angola em relação ao caso dos 15 ativistas detidos desde 20 de junho, nomeadamente face à greve de fome que um destes, o ‘rapper’ Luaty Beirão, de 33 anos, cumpre há 25 dias.

Em causa está a prisão preventiva aplicada a estes jovens, quando o crime de que estão acusados formalmente pelo Ministério Público desde 16 de setembro – atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano – admite a liberdade condicional, até serem julgados.

“O caso de Portugal, onde o [ex-] primeiro-ministro [José] Sócrates está há nove meses em prisão preventiva [entretanto passou a prisão domiciliária] também. Então, este é um recurso ou é uma previsão da lei? A lei prevê que enquanto se quer investigar muito mais um caso, pode-se durar. Depois vai haver o momento da condenação”, afirmou o ministro Georges Chikoti.

Recusou ainda que o Governo angolano esteja a ser pressionado internacionalmente sobre este caso e voltou a criticar o relatório da eurodeputada portuguesa Ana Gomes, que em junho visitou Luanda, o qual serviu de suporte à resolução adotada em setembro pelo Parlamento Europeu, que critica as limitações às liberdades em Angola.

“O parlamento dos angolanos é este”, disse o ministro, junto à Assembleia Nacional.

Protesto em Lisboa
O jornalista e ativista angolano Rafael Marques disse à Lusa que bastava um “telefonema” do Presidente português Cavaco Silva ao seu homólogo angolano José Eduardo dos Santos para que o caso dos prisioneiros de consciência detidos em Luanda fosse solucionado.

“Bastava-lhe fazer um telefonema para o seu homólogo a solicitar informações sobre o estado de saúde deste português (Luaty Beirão)? Ele não tem o número do Presidente de Angola? Se quiser eu posso facilitar esse contato”, disse Rafael Marques referindo-se ao luso-angolano há 24 dias em greve de fome, em Luanda.

Rafael Marques que participou na vigília de solidariedade com os 15 ativistas angolanos no Rossio, em Lisboa, acrescentou que o caso da prisão dos 15 jovens detidos em junho em Luanda, acusados de tentativa de golpe de Estado devia ser debatido no parlamento português.

“É essencial que isto seja tratado no Parlamento português porque não se pode esperar muito do ministro dos Negócios Estrangeiros português, que já disse que não se vai imiscuir nos assuntos de Angola”, criticou Rafael Marques, autor do livro “Diamantes de Sangue” e que se mostrou preocupado com os jovens detidos, dois deles em greve de fome, sobretudo com Luaty Beirão.

“Ele não come há 24 dias, não come, não fala e tiveram de lhe dar uma cadeira de rodas porque sofreu uma queda ontem e perdeu a consciência durante uns minutos. Está a levar soro e enquanto estiver a levar soro nós ficamos minimamente mais descansados porque os órgãos podem não começar a falhar, mas ele está num estado de profunda desidratação”, disse à Lusa Serena Mancini, irmã de Luaty Beirão que também participa na manifestação.

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