Varíola dos Macacos: Portugal e outros países europeus estudam casos

Da Redação com Lusa

Os casos de infecção pelo vírus Monkeypox confirmados em Portugal podem constituir um surto, mas não está “para já” identificada qualquer ligação entre eles para além do local onde foram detectados, segundo a infeciologista Margarida Tavares.

“Podemos utilizar a palavra surto porque podemos falar em surto sempre que há um aumento de casos face ao que é esperado. E nós não esperávamos que nenhum caso ocorresse em Portugal”, disse a médica que é membro do grupo de trabalho criado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) que está a gerir esta situação.

Em Portugal foram contabilizados, até dia 18 de maio, 14 casos, estando a ser feitos pela Direção-Geral da Saúde inquéritos epidemiológicos para identificar cadeias de transmissão e potenciais novos casos.

Em declarações aos jornalistas, no Porto, a também diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e HIV confirmou que os casos foram detectados numa clínica ligada a doenças sexualmente transmissíveis em homens jovens com idades entre os 20 e os 50 anos.

“Foram identificados em contexto de atendimento numa clínica de doenças sexualmente transmissíveis porque apresentavam lesões genitais. É verdade que são casos de homens que têm sexo com homens, mas essa pode só ter sido a forma como foi dado o alerta. Ainda não sabemos mais. Não está descrita, classicamente, a via de transmissão sexual [como passível de causar esta infecção], mas há transmissão por contato próximo, íntimo e prolongado”, descreveu Margarida Tavares.

Salvaguardando que a situação em Portugal “está a ser acompanhada e estudada” e que se tratam de casos “muito recentes” que, do ponto de vista clínico, se traduzem em “situações muito ligeiras e benignas”, a infeciologista que trabalha no Hospital de São João adiantou que além dos cinco casos já confirmados estão em estudo mais “cerca de 15”.

Todas as situações, frisou, estão localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo. “Mas para já não sabemos se existe relação. E sim, pode haver dispersão pelo país”, acrescentou.

Rejeitando a palavra “isolamento”, Margarida Tavares disse que as pessoas infectadas estão em casa e “estão aconselhadas a não contactar de forma próxima com outras pessoas”.

Margarida Tavares também rejeitou falar em grupos populacionais suscetíveis, apontando que qualquer semelhança que se encontre atualmente nos casos detectados pode estar relacionada “não com suscetibilidade”, mas sim com “oportunidade de contato”.

Esta é a primeira vez que é detectada em Portugal infecção pelo vírus Monkeypox.

O vírus Monkeypox é do género Ortopoxvírus (o mais conhecido deste gênero é o da varíola) e a doença é transmissível através de contato com animais, ou ainda contato próximo com pessoas infectadas ou com materiais contaminados.

Margarida Tavares alertou para a partilha de objetos como roupas de cama ou roupas de banho e admitiu que pode haver transmissibilidade através de gotículas respiratórias e das lesões cutâneas, nomeadamente da crosta em caso de escamação.

Manifestando-se em lesões que podem parecer idênticas à varicela, a infecção por vírus Monkeypox foi detetada pela primeira vez num ser humano em 1970 em países sobretudo da África Central e da África Ocidental.

Em 2003 foram reportados nos Estados Unidos da América algumas dezenas de casos.

No Reino Unido, o caso raro de varíola dos macacos foi notificado numa pessoa que visitou a Nigéria, na África, e depois voltou para casa. A informação foi enviada à Organização Mundial da Saúde, em 7 de maio.

Em comunicado a DGS disse que “está a acompanhar a situação a nível nacional e em articulação com as instituições europeias”.

Questionada se existe relação entre a situação reportada no Reino Unido e a realidade portuguesa, Margarida Tavares reiterou que a situação está a ser analisada.

“Poderá haver alguma proteção das pessoas que foram vacinadas contra a varíola que terminou em 1973, mas tudo está ainda a ser analisado”, voltou a salvaguardar a infeciologista.

Orientação sexual
Já a ILGA Portugal (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo) defendeu esta quinta-feira que “não faz qualquer sentido” relacionar a orientação sexual com o vírus Monkeypox ou qualquer outra doença, sublinhando que o foco tem de estar nos comportamentos.

“Não faz qualquer sentido relacionar a orientação sexual com esta doença ou com qualquer outra, o que nós temos de focar sempre é nos comportamentos”, defendeu a presidente da ILGA Portugal, em declarações à Lusa.

Ana Aresta sublinhou que “a ciência tem de ser a base” e sustentou que “não há qualquer correlação e não há nada que prove uma correlação” entre a transmissão do vírus Monkeypox e a orientação sexual das pessoas infectadas.

“Já não estamos nos anos 80 ou 90 em que de fato a desinformação contribuía para o estigma, já não estamos nesse momento”, referiu a responsável, lembrando a batalha por causa dos homens homossexuais que estavam impedidos de dar sangue e como, entretanto, isso foi desbloqueado.

A presidente da ILGA defendeu que a “forma como se comunica não poder ser leviana”, já que estão em causa grupos sociais “historicamente estigmatizados”.

O Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC) acompanha a “situação de perto” e indicou que vai publicar no início da próxima semana uma primeira avaliação sobre a doença.

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