Quase 80 mil toneladas de lixo plástico no Oceano Pacífico

Da Redação
Com agencias

Quase 80 mil toneladas de detritos de plástico, compostos por 1,8 mil milhões de fragmentos, ocupam no Oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havai, uma área equivalente a três vezes a França, conclui um estudo publicado nesta quinta-feira.

A quantidade de plástico encontrada nesta área está “a aumentar exponencialmente”, de acordo com o trabalho desenvolvido pela fundação Ocean Cleanup e por investigadores de instituições na Nova Zelândia, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Dinamarca e divulgado no boletim Scientific Reports, da revista científica Nature.

Os cientistas utilizaram dois aviões e 18 barcos para avaliar a poluição causada pelo plástico no oceano.

“Queríamos ter imagem clara e precisa daquela extensão de lixo no mar”, disse o coordenador do estudo, o investigador Laurent Lebreton, da Ocean Cleanup Foundation.

“Pensamos que há cada vez mais plástico a acumular-se nesta área”, salientam os cientistas.

A concentração de lixo flutuante, que é muitas vezes descrita como uma “ilha” apesar de ser dispersa, já tem sido descrita, mas o estudo estima que a quantidade da massa de plástico presente é quatro a 16 vezes maior que o anteriormente referido e continua a acumular-se mais devido ao sentido das correntes marítimas e ao descuido dos humanos, tanto no mar, como em terra.

Não se trata de uma ilha ou de uma massa única, mas sim de uma vasta área com grandes quantidades de plástico, com detritos que vão dos pequenos bocados a elementos maiores, como redes de pesca abandonadas, que representam 46% do total, segundo o estudo.

A maior parte daquele plástico tem provavelmente origem em países do Pacífico, mas também pode vir de qualquer ponto do mundo pois aquele material anda por todo o oceano e até já foi encontrado no Ártico, segundo Laurent Lebreton.

Plásticos, como cotonetes, palhinhas ou sacos de plástico descartáveis, vão parar aos oceanos e deterioram-se, dando origem a pequenas partículas que são ingeridas pelos animais e podem levar à sua morte.

Através dos peixes, os microplásticos chegam à cadeia alimentar humana.

Os microplásticos também são ingrediente de muitos cosméticos e produtos de higiene pessoal, como exfoliantes para cabelo, corpo e rosto, pastas e cremes dentais, entrando na rede de esgotos, mas como são pequenos para serem completamente filtrados nos sistemas de tratamento vão para os rios e mares.

A poluição do mar pelos plásticos é um problema global. Em 1990, a produção de plástico era metade da atual e daqui a alguns anos poderá existir no oceano mais plástico do que peixe, se nada for feito para evitar o elevado consumo deste material, segundo organizações ambientalistas.

Dever moral

“Temos obrigação moral de fazer com que o Objetivo 14 das Nacões Unidas seja fielmente cumprido porque essa é a única maneira de preservar os oceanos”. A frase é do enviado especial da Secretaria-Geral da Organização das Nações Unidas para os Oceanos, Peter Thomson, e foi repetida em várias oportunidades no 8º Fórum Mundial da Água.

O chamado ODS14 é um dos 17 objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, ratificada por 150 países em 2017, durante a Conferência sobre os Oceanos, quando o próprio Thomson presidia a 71ª Assembleia Geral das Nações Unidas. E o ODS 14 é exatamente a meta dedicada à preservação dos mares.

Thomson lembrou que entre as medidas propostas pelo ODS 14 estão a redução significativa da poluição marinha de todos os tipos, especialmente a derivada de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes, a proteção dos ecossistemas marinhos e costeiros e diminuição do impacto da acidificação dos oceanos que está entre as grandes ameaças à vida marinha.

Apesar do trabalho de voluntários, entre iniciativas descritas na pasta, o maior obstáculo para a mudança de atitude em relação aos oceanos é a falta de vontade da sociedade. “Porque se tivermos o poder da vontade nós podemos unir a ciência, governos, o mundo dos negócios, das finanças e resolver todos os problemas que temos em relação aos oceanos. E nós podemos fazer isso” defendeu.

Nascido num arquipélago, as Ilhas Fiji, Peter Thomson reconhece que o maior dano aos oceanos têm sido causado pelas mudanças climáticas que, entre outras consequências, está aumentando o nível dos mares principalmente por causa do efeito estufa.

“Os gases do efeito estufa aquecem os mares provocando a redução da vida marinha, a acidificação das águas. Os gases do efeito estufa reduzem o nível de oxigênio dos oceanos, o que vai tornando impossível a sobrevivência da vida marinha. Então, as mudanças climáticas são o pior problema que temos com relação aos oceanos”.

Para evitar uma catástrofe, o plano é simples: cumprir o ODS 14 que tem metas claras: “Por exemplo, remover essa horrível pesca predatória e isso é algo factível, basta que os governos tenham a vontade política de fazer isso”, disse, lembrando que muitos países ainda subsidiam frotas de navios para a pesca ilegal: “Dá para acreditar nisso?”

Ele elogiou a decisão do Brasil de proteger o litoral. O país ampliou a proteção de áreas marinhas com a criação de duas unidades de conservação federais nos estados de Pernambuco e Espírito Santo. Atualmente, 1,5% das áreas marinhas é protegida. Com a novas unidades, o percentual será ampliado para 25%.

Otimista, Peter Thomson diz que o homem precisa pensar no legado para as gerações futuras e acredita na recuperação dos oceanos se soubermos cuidar deles: “Uma das coisas que me fazem crer nisso é a de que os oceanos são generosos e perdoam”.

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