Aos 17 anos, Mara Pedro passa de promessa à revelação do Fado em Viseu

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Por Igor Lopes

Ao andar pelas ruas de Viseu, de onde é natural, Mara Pedro já não passa despercebida pelo público. Aos 17 anos de idade, acumula no currículo passagens pela televisão, prêmios e shows em Portugal e em outros países europeus. Em Julho, passou também pelos palcos do Brasil, onde, ao lado de Maria Alcina e Mário Simões, foi apresentada como uma das grandes atrações da festa de 50 anos da renomada Casa do Distrito de Viseu do Rio de Janeiro.

Dona de uma voz meiga, capaz de cativar um público fiel e de conquistar milhões de corações, Mara é do Fado. Confessa que foi nesse estilo musical que encontrou conforto para se expressar. E acertou em cheio na decisão. Atualmente, divide a sua rotina de shows com a agitada vida universitária. Seguida de perto pelos olhares atentos dos pais, essa fadista, que já participou em programas de televisão portugueses, espera poder em breve viver exclusivamente da música. Mara não esconde o orgulho de ter já alguns álbuns editados e de ter se apaixonado pelo Fado aos quatro anos de idade, por “culpa” de Amália Rodrigues.

Essa viseense tem os mesmos desejos e sonhos que toda “menina-mulher” tem nessa idade. Diz-se diferente, apenas, por querer se dedicar ao Fado, apesar de não ter no sangue, como sugere, a alma dos fadistas, as suas histórias e lutas. Mesmo assim, Mara Pedro guarda no seu íntimo muito do que uma fadista precisa ter para encantar e ser completa. Procura transformar a tristeza das letras em um ar de inspiração para quem se depara com as suas canções. E traz nos ombros um “rebolado” próprio. Bonito de se ver.

Além dos Fados já conhecidos, Mara aposta também em composições inéditas e no bom nível dos músicos que a acompanham. Quem a ouve garante que tem carreira promissora e que guarda na voz uma doçura característica de quem ama o que faz. Não é a toa que lhe chamam de a “cinderela do Fado”.

Em entrevista exclusiva ao Mundo Lusíada, Mara Pedro falou sobre os seus primeiros passos na música, sublinhou o que espera do futuro e destacou os momentos mais importantes da sua ainda curta carreira artística. A fadista revelou também parte do seu cotidiano, as palavras de apoio dos fãs e contou como está a preparação para o lançamento de um novo projeto musical. Mara promete mais sucessos e garante que na sua lista de afazeres surge como prioridade uma nova viagem ao Brasil, país que adorou conhecer.

Mundo Lusíada – ML: Mara Pedro, como o Fado entrou na sua vida? Hoje em dia já se pode dizer que entre o Fado e você existe uma grande paixão?

Mara Pedro – MP: De uma forma invulgar e que desperta a curiosidade de quem ouve a minha história pela primeira vez, costumo dizer que o Fado é que me procurou! Eu não tenho raízes fadistas na família. Aqui em casa também não se ouvia Fado e sou de Viseu. As pessoas sabem que no Norte o Fado não está tão desenvolvido como em Lisboa. Por acaso, há algum tempo estávamos de férias em Aveiro, onde havia um estabelecimento que vendia CD’s de música portuguesa e o que estava a tocar era um Fado cantado pela Amália Rodrigues. E essa foi a minha primeira ligação com o Fado. Fiquei encantada com a melodia e, a partir daí, comecei a ouvir e a querer aprender novos Fados.

ML: Para quem não a conhece, quem é Mara Pedro e quais são os seus sonhos?

MP: Costumo dizer que sou uma jovem como qualquer outra, mas com um talento que me deixa ter novas experiências e conhecer novos lugares. O resto do meu dia é normal e os sonhos são, sobretudo, profissionais. Gostaria de continuar a levar a nossa cultura pelo mundo através do Fado, mas também anseio acabar o meu curso universitário, enquanto faço esses espetáculos.

ML: Como é o seu dia a dia? Aposta a maior parte do tempo no desenvolvimento da sua carreira como fadista?

MP: Sou estudante universitária, o que me ocupa algum tempo. Por essa razão, não me dedico 100% à música, como é esperado pelas pessoas que assistem aos meus shows e reparam no profissionalismo e cuidado na escolha de cada um dos temas. Sempre consegui conciliar os meus estudos com a música. Tenho sorte de ter um grande apoio familiar que trata do que demora mais tempo, como confirmação de espetáculos, datas, contratação de músicos e as condições. A minha mãe costuma fazer essa parte. Digo por brincadeira que ela é a manager mais dedicada. O meu pai abdica dias do seu trabalho para me levar aos lugares aonde vou cantar.

ML: Como é a sua preparação para os shows?

MP: A voz depende muito do bem-estar geral do nosso corpo, tanto físico quanto psicológico. Portanto, o que tento fazer é apenas um treino continuado do meu músculo vocal, com exercícios específicos para a voz. De resto, antes dos shows faço por estar sempre o mais relaxada possível, o que nem sempre é fácil.

ML: Como vê a sua relação com o público em Portugal, principalmente em Viseu, sua terra natal?

MP: As pessoas estão cada vez mais a reconhecer o meu trabalho, a minha identidade como fadista, noto isso. Nas ruas, as pessoas falam comigo. Nesta última viagem de avião, um senhor do Canadá deu-me os parabéns pelo que tenho feito pelo nosso Fado, e isso é muito gratificante. Sempre que canto na minha terra, Viseu, é arrepiante ver a quantidade de pessoas que me vêm assistir, que me admiram e apoiam. É uma sensação muito familiar e emotiva para mim.

ML: A Mara já recebeu muitos prêmios…

MP: Só tenho a dizer que me orgulho de todos eles, que são recordações de um começo por mérito próprio, lembranças também de algumas histórias caricatas. Todos os prêmios, fotos ou documentos que guardei têm um significado muito especial.

ML: Como foi atuar no Brasil este ano? Consegue recordar a sua experiência no Rio de Janeiro?

MP: Foi uma experiência muito revigorante. A energia alegre e positiva das paisagens e das próprias pessoas é contraditória ao que se diz sobre criminalidade ou falta de segurança. Eu estive em São Paulo e no Rio de Janeiro em épocas diferentes, mas adorei as duas cidades. Não foi a minha primeira saída para o estrangeiro. Já viajei para outros locais, como Lituânia, Suíça, Estados Unidos, Canadá, etc.

ML: Em que locais costuma se apresentar?

MP: Os lugares das minhas atuações não são fixos. Sou chamada para várias festas e eventos de noites de Fado em vários locais. A verdade é que costumo ser mais solicitada para cantar no estrangeiro para a nossa comunidade portuguesa ou para público local.

ML: Quantos álbuns já tem editados?

MP: Já tenho três álbuns editados e fico muito orgulhosa por ter, com 17 anos de idade, estes trabalhos realizados, que acompanharam a minha evolução como fadista e aonde foram inseridos também temas inéditos. “Doce Fado” foi o primeiro CD. Fiz muito jovem, com 11 anos, e é aquele em que mais noto uma diferença vocal. O segundo foi “Fado Alma do Mundo”, inspirado nas minhas viagens e na maneira como eu sinto que o Fado é acarinhado por todo o mundo. Esse trabalho teve a produção de um músico argentino, Daniel Adzemian, e a participação de outros músicos espanhóis, o que deu um toque de uma melodia mais viva. Por último, o terceiro, e aquele com que me identifico mais, “Fado Sorriso”. O título surgiu pela maneira como é o meu Fado: alegre. Gosto muito de Fados antigos, mais introspetivos e melancólicos, mas, onde me sinto mais próxima do público, é nos Fados alegres, em que posso transmitir um sentimento positivo. O “Fado Sorriso” é o CD no qual tenho mais Fados inéditos e com produção de um músico conceituado, Custódio Castelo.

ML: Tem novos projetos?

MP: Estou a pensar em um quarto CD, mas a escolha de poemas, de arranjos musicais e até dos próprios músicos que farão parte do álbum é um trabalho demorado. Não quero deixar passar muito tempo entre o último trabalho e este que ainda está em mente, porque sei que as pessoas que me seguem já estão à espera de uma novidade nesse campo, mas é algo, como disse, que precisa ser decidido com calma para produzir música de qualidade e não apenas comercial.

ML: Que diferença há entre a Mara Pedro na época do seu primeiro álbum e a Mara Pedro de hoje, que é convidada para cantar em grandes salões?

MP: Acho que ao longo destes anos as diferenças são que estou a obter cada vez mais reconhecimento sobre a minha carreira, a minha voz vai ficando cada vez com mais corpo e madura, o número de atuações por ano vai aumentando e a minha personalidade tem se tornado forte, também, pelas experiências que tenho com o Fado.

ML: No evento que aconteceu em Viseu, em setembro, Mara Pedro se apresentou no mesmo espaço de Maria Alcina, fadista luso-brasileira consagrada, que atuou em telenovelas, trabalhou na produção da rede Globo, cantou com vários nomes importantes do Fado e tem uma carreira premiada em nível internacional. Como vê essa oportunidade?

MP: É uma grande honra cantar ao lado de alguém com um currículo musical tão vasto e rico. O que mais me surpreende é que no Fado temos a possibilidade de contatar diretamente com várias pessoas maravilhosas e talentosas, com quem se aprende muito também.

ML: Como caracteriza o Fado atualmente? O que pode ser feito para dar mais vida – ou vida longa – ao estilo musical mais característico de Portugal?

MP: Penso que o que é necessário fazer pelo Fado já se tem vindo a fazer e deve continuar a ser preservado dessa maneira: fazendo algumas modificações, mas sem ir muito longe e nem se afastando da sua essência, continuando a ser cantado por varias gerações. Todos os portugueses devem valorizar sempre um patrimônio que é nosso, uma música que é única e que identifica da melhor forma o nosso país.

ML: Quem são os seus exemplos no campo musical?

MP: A minha grande referência no Fado sempre foi Amália Rodrigues, mas tenho por hábito ouvir outras grandes vozes, tanto antigas quanto das fadistas atuais. É bom ter um pouco da melodia das duas épocas, a mais antiga e tradicional, e a atual e contemporânea. Assim, o público que conseguimos abranger é também de várias faixas etárias e não apenas de pessoas de mais idade, como se pensa. É uma forma de envolvermos cada vez mais o nosso povo com a nossa cultura, que é representada pelo Fado.

ML: Por fim, como se apresentaria para o público brasileiro que ainda está por descobrir o seu talento? Sabe que no Rio de Janeiro o seu “gingado” no palco já é marca registrada….

MP: Não fazia ideia de que o meu dançar ou “gingado” já tinha dado nas vistas. Acaba por ser quase involuntário. É a música que me faz dançar e querer que as pessoas também acompanhem esse movimento. Ainda quero cantar em outros lugares no Brasil que me disseram que são lindos. Quero fazer essa descoberta cantando, conhecendo pessoas novas e dando a conhecer o meu Fado também aos nossos irmãos da língua portuguesa.

2 Comments

  1. I have imigrated to South Africa in 1965 and altough I can speak portuguese well, the writing may be a slight problem.
    Mara everytime I hear your voice in RTP I drop everything to listen.. you have the most unbelievable voice and I am totally in love with it
    I have 2 questions :
    Please advise where in South Africa I can buy your CD’s

    PLEASE promise me that you will in the near future make plans to come and sing in South Africa and may I receive personal notification of this intention.

    I wish you the greatest success may you go from strengh to strengh
    Um beijinho grande
    Paula Abreu

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