Após 36 anos, presidente angolano anuncia saída da vida política e oposição quer “ver para crer”

Mundo Lusíada
Com Lusa

Dilma Rousseff durante cerimônia oficial de chegada do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Arquivo: Dilma Rousseff durante cerimônia oficial de chegada do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

O presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e chefe de Estado angolano há 36 anos, José Eduardo dos Santos, anunciou que deixa a vida política ativa em 2018, ano em que completará 76 anos.

A direção da UNITA prefere “ver para crer” o anúncio da saída do Presidente, mas o maior partido da oposição assume-se como pronto para a alternância em Angola.

“Era de esperar que, depois de 40 anos, ele [Presidente angolano] tomasse esta decisão, de se retirar da direção do país, mas também temos lembrado que não é a primeira vez que ele o faz. Já o fez no passado e por isso é preciso acompanhar essa questão de perto”, disse à Lusa o porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e deputado Alcides Sakala.

O anúncio de José Eduardo dos Santos foi feito em Luanda na abertura da 11ª reunião ordinária do Comitê Central do MPLA, convocada para preparar o congresso do partido, agendado para agosto e que servirá para preparar as candidaturas às eleições gerais de 2017 em Angola.

“Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política ativa em 2018”, anunciou José Eduardo dos Santos, depois de passar em revista o seu percurso no MPLA e na liderança de Angola.

“Temos dito ao longo destes anos que a UNITA é a alternância credível neste país, mas é preciso ver para crer. Já o disse [anúncio de saída] no passado e continuou”, concluiu Alcides Sakala, garantindo que o partido do ‘Galo Negro’ vai acompanhar a situação “com toda a atenção”.

No discurso, o chefe de Estado angolano não clarificou em que moldes será feita a sua saída da vida política e se ainda estará disponível para concorrer às eleições gerais de agosto de 2017 ou à liderança do partido, este ano, antes da sua retirada.

José Eduardo dos Santos é Presidente de Angola desde setembro de 1979, cargo que assumiu após a morte de Agostinho Neto, o primeiro Presidente angolano.

Na mensagem que dirigiu aos mais de 260 membros do comitê central presentes na reunião de hoje, José Eduardo dos Santos criticou ainda a gestão danosa nas empresas públicas, apelando à mobilização dos melhores quadros para as funções de governação do país.

Entre oito pontos da ordem de trabalhos da reunião de hoje consta um para “apreciação do projeto de resolução sobre a candidatura do camarada José Eduardo dos Santos ao cargo de presidente do MPLA”.

Gestão danosa
Durante o evento, o presidente José Eduardo dos Santos ainda falou que é necessário “prestar mais atenção ao desempenho dos quadros, aos quais foram confiadas tarefas de gestão, assim como combater com mais firmeza a gestão econômica danosa ou irresponsável nas empresas públicas”, mas também a “falta de disciplina na execução dos orçamentos afetos aos serviços da administração pública central e local”.

Esta posição surge dois dias depois da Igreja Católica angolana ter dito que a crise econômica e financeira que Angola enfrenta não foi causada apenas pela queda do preço do petróleo, mas pela “falta de ética, má gestão do erário público e corrupção generalizada” no país.

A crítica, recebida com alguma surpresa pela importância dada ao assunto, foi manifestada quarta-feira em nota pastoral divulgada no final da primeira assembleia ordinária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), realizada entre 02 e 09 de março, em Ndalatando, capital da província do Cuanza Norte.

Para os bispos, “aumenta assustadoramente o fosso entre os cada vez mais pobres e os poucos que se apoderam das riquezas nacionais, muitas vezes adquiridas de forma desonesta e fraudulenta”, realçaram.

O Presidente angolano defendeu igualmente que é preciso “tomar providências para colocar no aparelho governativo quadros que tenham sentido de responsabilidade e a consciência necessária, para o partido fazer cumprir a sua orientação para o desenvolvimento de instituições do Estado”.

Além disso, reconheceu que as metas inicialmente preconizadas para o desenvolvimento do país ficaram “muito aquém dos resultados pretendidos”, no que toca ao aumento da produção, eficiência das empresas públicas e do funcionamento do setor bancário.

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