Presidente não aplaudiu Trump “em obediência” à posição portuguesa pelo multilateralismo

Da Redação
Com Lusa

Na ONU, o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que não aplaudiu o discurso do Presidente norte-americano, Donald Trump, “em obediência” à posição portuguesa pelo multilateralismo e pelo diálogo.

A este propósito, Marcelo Rebelo de Sousa realçou que Portugal acredita “acima de tudo na orientação do secretário-geral das Nações Unidas”, António Guterres.

“Entendemos que a linha de orientação dele para as Nações Unidas está correta, coincide com a linha que nós defendemos. Há outras orientações, mas que são diversas das nossas”, afirmou.

O Presidente da República falava aos jornalistas na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, cerca de uma hora e meia depois de ter ouvido Donald Trump rejeitar “a ideologia do globalismo”, em favor da “doutrina do patriotismo”, num discurso no debate geral da 73.ª sessão da Assembleia Geral da organização.

Questionado sobre o motivo pelo qual não aplaudiu o discurso do Presidente norte-americano, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que Portugal “sobre a matéria do papel das Nações Unidas e da situação mundial tem uma visão que é defender o multilateralismo, defender o diálogo”.

“Defender a preocupação com as alterações climáticas, defender a concertação permanente para resolver os conflitos mundiais, defender o livre comércio internacional e não o protecionismo”, completou.

O chefe de Estado disse que a intervenção que fará na quarta-feira nas Nações Unidas “vai nesse sentido”: “Portanto, em função do sentido da intervenção, é natural que, perante as várias intervenções de outros países, nós reajamos em obediência à nossa orientação fundamental”, disse.

“Nós temos é, sobretudo, de defender aquilo em que acreditamos”, considerou. O presidente português participou, ainda ontem, de uma cerimônia na ONU em homenagem a Mandela.

Discurso

Trump pediu a todas as nações do mundo para isolarem o Irã pelo “comportamento agressivo” que exibe, ao discursar na ONU. Trump disse ter lançado uma campanha de “pressão econômica” para retirar ao Irã os recursos de que necessita para prosseguir a sua “agenda sangrenta” na Síria e no Iémen.

Para o presidente norte-americano, o Irã não respeita os seus vizinhos ou as fronteiras destes e, tratando-se de um regime que defende “Morte à América” e a destruição de Israel, o mundo não pode permitir-lhe desenvolver armas nucleares.

Trump falou também da Coreia do Norte para agradecer a Kim Jong-un – a quem há um ano chamou, perante a Assembleia-Geral, ‘rocket man’, – os passos que deu no sentido da desnuclearização, depois da cimeira entre Trump e Kim em Singapura em junho.

O presidente norte-americano dedicou boa parte do seu discurso a defender a “soberania americana” e a rejeitar “a governação global”.

Criticou o Conselho de Direitos Humanos da ONU, do qual se retirou em junho, por “proteger autores de abusos dos direitos humanos” ao mesmo tempo que ataca os Estados Unidos, e atacou o Tribunal Penal Internacional, afirmando que “não tem nenhuma legitimidade e nenhuma autoridade”.

“Os Estados Unidos não vão dar qualquer apoio ou reconhecimento ao TPI […]. Nunca abandonaremos a soberania americana a uma burocracia mundial não eleita e irresponsável”, afirmou, recusando “a ideologia do mundialismo”.

Trump anunciou que vai limitar a 25% a contribuição dos Estados Unidos para as missões de paz da ONU – contra os atuais 28%, cerca de 7.900 milhões de dólares – e que vai rever a ajuda a outros países que sejam “amigos”.

O presidente norte-americano acusou ainda a China de praticar um comércio injusto, afirmando que os Estados Unidos não vão mais tolerar acordos que permitam a outros países enviar os seus produtos para a América, subsidiar os seus bens e manipular a moeda para obter vantagens imerecidas.

“Os Estados Unidos não vão mais deixar que se aproveitem deles”, disse.

Donald Trump chegou atrasado à Assembleia-Geral, obrigando a uma alteração da ordem de intervenções.

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