Presidente diz que é preciso “tudo fazer” para “defender a liberdade”

Da Redação
Com Lusa

Em visita ao Porto, o Presidente da República disse numa cerimônia com líderes e representantes de várias confissões religiosas, que é preciso “tudo fazer” para “defender a liberdade”, num tempo em que “é tão sedutor encontrar bodes expiatórios”.

“Apelo para que, em salutar diálogo e convergência de propósitos, tudo façamos para defender a liberdade, a tolerância e a compreensão mútua, num tempo em que é tão sedutor dividir e catalogar, encontrar bodes expiatórios, acusar sem fundamento, marginalizar sem humanidade”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República, que tomou nesta terça-feira posse para um segundo mandato depois de ter vencido as eleições presidenciais que de 24 de janeiro, falava na Câmara Municipal do Porto, onde presidiu a uma a cerimônia ecumênica que contou com a participação de representantes de mais de uma dúzia de confissões religiosas presentes em Portugal.

“Portugal agradece o vosso contributo ao longo de um ano de pandemia. [O contributo] dado a milhares e milhares de Portugal. Portugal pede-vos um novo contributo por palavras e por obras para a pacificação dos espíritos, a aceitação do diferente, a aceitação do diverso, a aceitação do estranho”, disse o Presidente da República que antes da cerimônia reuniu com o presidente da autarquia do Porto, o independente Rui Moreira, numa sessão à porta fechada que durou cerca de uma hora.

Já no exterior, perante os vários representantes religiosos e o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa começou por agradecer a recepção no Porto de Rui Moreira, apontando que “Portugal está presente no Porto através do Presidente da República portuguesa, assinalando a história, cultura, e força do Porto e das suas gentes”.

Num discurso marcado por duas palavras-chave, “gratidão” e “apelo”, o chefe de Estado recordou que há cinco anos fez em Lisboa uma sessão semelhante com vários credos religiosos e que agora repetia o “singelo encontro” como “um sinal dado aos portugueses daquilo que os deve unir, o respeito da liberdade e portanto da diversidade”.

“É no pluralismo que caracteriza uma sociedade de livre, uma sociedade aberta, uma sociedade democrática, que é consagrada e floresce a liberdades religiosa, que são consagradas e florescem todas as liberdades, todos os direitos fundamentais”, disse.

“[Este é] um sinal dado não em Lisboa, mas no Porto, coração da luta pela liberdade há 200 anos para que entenda bem que o espírito ecumênico, o espírito da abertura, o espírito da tolerância, o espírito do respeito dos demais, é um espírito nacional e deve ser nacional. A todos importa sem exceção porque importa a Portugal e aos Portugueses”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para agradecer aos representantes das várias religiões o que “Portugal lhes deve na educação, na saúde, na solidariedade social, na resistência às crises, no combate à pandemia”, sublinhando que “este ano doloroso para todos os portugueses, seria outro sem o contributo”, destes.

Presidente de todos

Marcelo Rebelo de Sousa assumiu ainda ser o Presidente de todos os portugueses, mas também de todos aqueles que vivem em Portugal.

“O Presidente da República é, naturalmente, Presidente eleito pelos nacionais portugueses, mas é Presidente também de todos os que vivem em Portugal, mesmo não sendo portugueses ou não sendo portugueses de origem”, disse, no Centro Cultural Islâmico do Porto.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou a diáspora portuguesa, referindo que existem portugueses em todo o mundo e sublinhando como é importante o acolhimento compreensivo, fraternal e tolerante.

“Não podemos querer, para os que partem de Portugal para os confins do mundo, aquilo que não estamos dispostos a dar aos que chegam do mundo a Portugal”, frisou.

É “espírito universal, fraterno, de amor, de concórdia, de compreensão, de aceitação e de diálogo que explica porque é que os portugueses estão presentes em tantas organizações mundiais e internacionais”, referiu Marcelo, dando o exemplo de António Guterres à frente das Nações Unidas.

O Presidente da República sublinhou que não há um português puro, tendo os portugueses influência dos gregos, dos orientais, dos romanos, dos africanos, dos nórdicos, dos americanos, norte-americanos, latino-americanos, sul-americanos e dos asiáticos.

“Foi assim na nossa história. Não temos uma origem, temos inúmeras origens, foi essa a riqueza da cultura portuguesa, termos palavras que são palavras árabes, latinas, gregas, fenícias, celtas, nórdicas, de influência americana, africana e asiática”, vincou.

E tudo isso faz parte da cultura, patrimônio e história de Portugal, não havendo portugueses de primeira, segunda ou terceira.

Marcelo prosseguiu: “somos todos de primeira, tenhamos origens mais longínquas ou mais próximas nas nossas linhagens familiares. Somos assim e devemos ser assim, no respeito pela liberdade religiosa, de pensamento, de expressão ou cultural”.

E o Presidente da República é assim que se sente, representante de toda esta diversidade “muito rica”.

O programa de tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa teve início pela manhã na Assembleia da República, à qual se seguiu a deposição de coroas de flores nos túmulos de Luís de Camões e Vasco da Gama, no Mosteiro dos Jerónimos, entre outros momentos.

A segunda parte do programa de tomada de posse estava reservada para a cidade do Porto, onde o chefe de Estado chegou cerca das 13:45 e foi surpreendido por uma manifestação de trabalhadores da Groundforce no aeroporto Francisco Sá Carneiro.

Posteriormente, seguiu para o Centro Cultural Islâmico do Porto, onde presidiu a uma curta cerimônia e onde, à saída, tinha dezenas de pessoas à espera para o cumprimentar, seguido de uma visita até o bairro do Cerco.

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