Após polêmica, Web Summit retira convite à líder da extrema-direita da França

Mundo Lusíada
Com agencias

O presidente executivo da Web Summit, Paddy Cosgrave, anunciou pelo Twitter que decidiu retirar o convite à líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, depois das críticas de vários setores em Portugal.

“É claro para mim que a decisão correta para a Web Summit é rescindir o convite a Marine Le Pen. A sua presença é desrespeitosa para o nosso país anfitrião. E também é desrespeitosa para os muitos milhares de participantes que se vão juntar a nós de todo o mundo”, escreveu Cosgrave na sua conta na rede social Twitter.

Nesta quarta-feira, o Governo português esclareceu que não tem intervenção na “seleção de oradores” do Web Summit, a propósito de críticas sobre o convite à participação da dirigente política no evento deste ano.

“O Governo português, estando, pelo seu impacto, empenhado no acolhimento deste evento privado, não tem, como em outros eventos, intervenção na seleção de oradores”, informou o Ministério da Economia em comunicado.

Na mesma nota, o ministério dirigido por Manuel Caldeira Cabral refere que a Web Summit é um evento tecnológico e de inovação, com milhares de oradores, que atrai anualmente a Portugal dezenas de milhares de empreendedores e investidores.

“Trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”, justifica aquele ministério.

Na véspera, o presidente executivo da Web Summit respondeu às críticas sobre o convite à participação de Marine Le Pen no evento deste ano, dizendo que, se os anfitriões em Portugal pedirem, cancelaria imediatamente o convite.

Numa longa mensagem publicada no site Medium, Paddy Cosgrave explicou que é defensor da liberdade de expressão, para justificar a razão do convite à política de extrema-direita francesa, e se mostrou disponível para aceitar as críticas e até retirar o convite, compreendendo as diferenças históricas entre o seu país, a Irlanda, e Portugal.

“Se os nossos anfitriões em Portugal, o Governo português, nos pedirem para cancelar o convite a Marine Le Pen, iremos, evidentemente, respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente”, afirmou o cofundador da Web Summit, que este ano se vai realizar pela terceira vez em Portugal, no mês de novembro.

Até então, Cosgrave havia dito que os pontos de vista de Marine Le Pen “são errados”, mas o fato de que “mais de 30% dos eleitores franceses a escolheram na mais recente eleição presidencial da França não legitima”, afirma, “as suas opiniões”.

Acrescenta que também a ascensão ao poder de políticos igualmente de direita em Itália, na Áustria, na Hungria e em outros lugares “não legitima os seus pontos de vista repreensíveis”.

O criador do evento de tecnologias e empreendedorismo tentou explicar com profundidade as razões do convite a Marine Le Pen. “Enquanto eu era estudante em Trinity, se alguma vez a universidade pedisse a um estudante que admitisse cancelar um convite a um terrorista, anarquista ou fascista para falar num evento, tenho certeza de que teríamos feito isso imediatamente. Teríamos protestado, por uma questão de princípio, mas teríamos respeitado os pedidos da nossa anfitriã, a universidade”, disse.

Paddy defende que a sua posição quanto aos limites do debate e discussão e sobre os méritos da proibição e silenciamento de dissidentes e militantes “são, em grande parte, moldados pela história única da Irlanda. E a Irlanda até há pouco tempo estava a lidar com um conflito terrorista incrivelmente violento e desumano”.

Já a história recente de Portugal “é um pouco diferente”, diz Cosgrave afirmando-se consciente e “sensível a esse fato”.

“Em última análise, o interesse dos nossos anfitriões, Portugal, e o interesse do povo de Portugal, deve ser colocado muito acima dos da Web Summit”, clarifica.

Antes, o Bloco de Esquerda (BE) tinha exigido que o Governo e a Câmara de Lisboa tomassem uma posição sobre o convite da Web Summit à líder da extrema-direita francesa, considerando inaceitável serem utilizados dinheiros públicos para passar mensagens de xenofobia e racismo.

“Neste momento, tem de haver uma tomada de posição e tem de ficar esclarecido qual é que é a posição do Governo e da Câmara de Lisboa sobre este convite”, disse a bloquista Isabel Pires.

Também o PSD defendeu anteriormente que caso Le Pen venha a Portugal, a solução seria a Câmara Municipal de Lisboa retirar o patrocínio que faz à Web Summit.

Na segunda-feira, a associação SOS Racismo exigiu que as entidades envolvidas na organização da Web Summit assumam uma posição pública sobre o convite feito à líder do partido francês Frente Nacional, Marine Le Pen, e que esta seja desconvidada.

Em comunicado, a SOS Racismo sublinhou que “o racismo não é uma opinião” e que, por isso, condena que a líder da extrema-direita francesa tenha sido convidada para estar presente como oradora na Web Summit.

Na edição deste ano são esperadas cerca de 70 mil pessoas. Em 2017, segundo a organização, 59.115 pessoas de 170 países participaram do evento, entre mais de mil oradores, duas mil startups, 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.

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