Sem ousadia e liderança, Queiroz aborta sonho português no Mundial

Por Emídio Tavares

Estela Silva/Lusa Portugal

>> Goleiro Eduardo após a partida contra a Espanha, no jogos das oitavas de final para o Mundial de Futebol da África do Sul no Parque das Nações, Lisboa, 29 de junho de 2010.

Conforme prevíamos nesta coluna há mais de quatro anos, quando por pressões de cartolas lusos a Federação Portuguesa de Futebol trocou Scolari – um técnico vencedor, tarimbado e acima de tudo motivador de seus comandados – por Carlos Queiroz, então adjunto do Manchester United, e com pouquíssimas conquistas relevantes nas equipes em que atuou como técnico; a seleção das cinco quinas naufragou na Copa da África, apresentando um futebol nada ousado, extremamente defensivo, de baixa qualidade técnica e acima de tudo apático e sem determinação. "A Saga do Naufrágio” Toda a derrocada portuguesa começou quando do corte de Nani a poucos dias do início da disputa, a princípio por lesão na clavícula, embora várias hipóteses tenham sido aventadas, principalmente porque Amorim já estava se condicionando fisicamente para a convocação que ainda nem houvera acontecido. A pior e mais contundente hipótese (embora pouco provável devido à eficácia e vigor físico, além de disciplina exemplar do atleta) era a de que Nani estaria sendo cortado por medo de um flagrante da comissão anti-dopagem, por suposto uso de substância dopante por parte do jogador. Outra hipótese surgida seria a do desentendimento entre treinador e atleta pela função tática imposta a ele em campo, que de pronto a rejeitou.

Posteriormente, a revolta de Deco demonstrada frente às câmeras de todo o mundo quando foi substituído por Queiroz na partida diante a Costa do Marfim (que tinha Drogba no banco, mas mesmo assim fazia com que o comandante luso entrasse com uma equipe cautelosa a campo), fez com que o treinador o afastasse, alegando contusão; embora também tenha afastado Liedson, que saiu em defesa do meio-campista brasileiro.

A goleada histórica aplicada na Coréia, numa partida em que Queiroz ousou ser ofensivo, e dar aos seus comandados a liberdade para criarem, apaziguou um pouco a crise, que voltou a se realçar quando frente ao Brasil, Queiroz entrou com uma equipe totalmente defensiva, deixando Cristiano Ronaldo isolado no ataque, o que desagradou por demais o maior craque luso.

A eliminação contra a Espanha fez vir à tona o que muitos já sabiam mas não queriam acreditar: alem de não ter competência para dirigir o selecionado luso, Queiroz não tinha ascensão sobre os atletas e muitos não o viam com bons olhos; fato que ficou evidente ao final desta que seria a última partida na Copa, quando questionado por toda a imprensa do mundo sobre o porquê da eliminação de Portugal, Cristiano Ronaldo pediu para que perguntassem a Queiroz. A Eliminação Contra a Espanha, Queiroz levou a campo uma equipe um pouco mais ofensiva do que na partida diante do Brasil, atuando Hugo Almeida e Cristiano na frente; Tiago, Simão e Raul Meireles no meio-campo; Ricardo Carvalho e Bruno Alves no miolo de zaga; Coentrão como ala esquerdo e Ricardo Costa como lateral direito que guardava posição; Pepe como um reforço a frente do miolo de zaga e Eduardo no gol. Mesmo assim, até quase dez minutos de jogo só deu Espanha, com Eduardo fazendo três defesas importantes.

Perto do décimo minuto, Portugal atacou pela primeira vez objetivamente, conseguindo dois escanteios, mas infrutíferos. Aos 20 minutos, após Cassilas rebater chute de Raul Meireles, Hugo Almeida quase pegou o rebote. Aos 28, numa falta cobrada por Cristiano, Cassilas deu rebote novamente; mas sem maiores consequências para a meta espanhola. E no finalzinho da primeira etapa (com mais de 65% de domínio de bola por parte dos espanhóis), Hugo Almeida desviou de cabeça cruzamento de Raul Meireles, por pouco não abrindo o marcador a favor de Portugal.

Para a etapa complementar Portugal conseguiu concentrar, durante os 15 minutos iniciais, as ações do jogo no meio de campo, equilibrando um pouco a posse de bola que até então era de amplo domínio da Espanha. Porém, Queiroz resolveu então sacar Hugo Almeida (que em momento algum demonstrou cansaço, embora o técnico tenha usado esta alegação para justificar a substituição) e fez entrar Danny, para reforçar o meio-campo. Imediatamente os espanhóis sacaram Torres e fizeram entrar Fernando Llorente, o que deu mais ímpeto ao ataque castelhano; tanto que com menos de dois minutos em campo Llorente cabeceou sozinho na área portuguesa, para grande defesa de Eduardo.

Aos 18 minutos, Villa recebeu a bola (22 cm impedido) e chutou cara a cara com Eduardo, que fez nova importante defesa; mas não conseguindo evitar o rebote que sobraria para o mesmo Villa fazer o gol espanhol.

Ciente da besteira tática que fez ao atrair para o campo português o adversário, com a substituição de Hugo Almeida (atacante que ainda segurava alguns espanhóis mais atrás) por Danny (que entrou para reforçar o meio-campo); Queiroz trocou dois de uma só vez, aos 27 minutos: Pepe por Pedro Mendes, e Simão por Liedson. Mas de nada adiantou, e se não fosse Eduardo intervindo milagrosamente por mais duas vezes, Portugal teria sido goleado frente à Espanha. No último minuto, Ricardo Costa ainda foi expulso após empurrar Capdevila, que simulou uma agressão.

Retorno cedo para casa de uma seleção que apesar de ter feito sete gols em quatro jogos, só tomou um, e por ironia do destino, o gol que a eliminou.

Análise Numa analise global da participação de Portugal no mundial, é certo que a defesa lusa foi muito compacta e eficaz em 90% das vezes em que foi exigida; assim como também é lógico que isso aconteceu porque na grande maioria das vezes teve o reforço de um meio de campo que guardava posição e muitas vezes de dois “leões de chácara” que postados a frente dos quatro homens da zaga como falsos líberos davam a retaguarda necessária; retaguarda essa que se sobrava no setor defensivo, faltava no de ataque, onde na maioria das vezes Cristiano Ronaldo se via isolado sem nada poder fazer.

Mesmo assim, os “comandados” de Queiroz mostraram muita garra e brio; apesar de faltar a eles a ascensão de um comandante, coisa que sobrou nas duas vezes em que em outras copas Portugal chegou entre as quatro melhores seleções (1966 e 2006).

Na meta Eduardo mostrou-se seguro e decisivo em muitas situações de perigo. Uma verdadeira muralha. A dupla de zaga formada quase sempre por Ricardo Carvalho e Bruno Alves esteve quase que impecável. Nas laterais, Coentrão na esquerda foi o destaque da seleção e sem dúvida alguma o melhor jogador de Portugal nos quatro jogos disputados, defendendo e atacando com muita determinação e consistência. Miguel, que teve sua chance contra a Coréia, mostrou que não deveria ter saído da equipe, sacrificado que foi pelo sistema defensivo de Queiroz, que optou por Duda e até Ricardo Costa nas outras partidas, mais preocupado em não levar gol do que ajudar no ataque. Pepe e Pedro Mendes, nas vezes em que atuaram, o fizeram mais como protetores dos homens da zaga, compactando ainda mais o miolo defensivo luso.

No meio campo Deco queimou-se com o treinador ao ser substituído na primeira partida e sair reclamando, e não voltou mais a campo, por alegada contusão que até hoje poucos acreditam que tenha sido o real motivo de seu afastamento. Já Raul Meireles mostrou desenvoltura e dinamismo, ajudando o ataque e criando jogadas ao lado de Tiago, que entrou na segunda partida do Mundial e não saiu mais, mostrando ser o verdadeiro motorzinho da seleção lusa, criativo, combativo, e ainda fazendo gols. Danny, embora com características ofensivas, pouco ajudou no ataque luso, que teve em Liedson figura apagada na primeira partida, embora entrando na segunda e fazendo um oportuno gol. Já Hugo Almeida soube aliar seu grande porte físico para criar jogadas e confundir as zagas adversárias. Simão, com sua técnica e agilidade, colaborou muito para as poucas jogadas ofensivas da seleção de Carlos Queiroz; e Cristiano Ronaldo, isolado na maioria das vezes, pouco fez ou criou pela seleção, embora demonstrasse sua técnica e habilidade, que infelizmente de nada serviram para ajudar seu país.

Ficha Tecnica Estádio : Green Point Arbitro : Hector Baldassi (Argentina) ESPANHA – Casillas; Sergio Ramos, Gerard Piqué, Puyol, Capdevila; Sergio Busquets, Xavi, Xabi Alonso, Iniesta; David Villa, Fernando Torres. PORTUGAL – Eduardo; Ricardo Costa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Fábio Coentrão; Pepe, Raul Meireles, Tiago; Simão, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo.

Deixe uma resposta