Politécnico de Santarém abre curso para quem tem deficiência intelectual

Da Redação
Com Lusa

A Escola Superior de Educação de Santarém (ESES), que faz parte do Instituto Politécnico, abriu este ano letivo uma formação de educação inclusiva, com a duração de dois anos, destinada a estudantes com deficiência intelectual.

A formação em Literacia Digital para o Mercado de Trabalho, que será apresentada num “dia aberto” na sexta-feira, nas instalações da ESES, em Santarém, surge como “o primeiro programa de formação de educação inclusiva, em contexto de ensino superior, para deficiência intelectual”, propondo ser “uma referência para outras experiências”.

“Esta formação promove o desenvolvimento pessoal, bem-estar e inclusão social e laboral a partir do ambiente de ensino superior da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém”, afirmam os responsáveis do programa.

A coordenadora da formação, Maria Potes Barbas, disse à Lusa que esta surge na sequência do projeto europeu “TV T21 COMmunity e-Skills, social inclusion and employability”, que o Politécnico de Santarém desenvolveu em 2017, envolvendo 31 jovens com síndrome de Down provenientes de Portugal, Itália e Croácia, trabalhando competências nas novas tecnologias e no turismo.

Na sequência desse projeto, foi “desafiada”, primeiro pela ministra da Presidência e depois pelos ministros da Educação e do Ensino Superior, a avançar para um projeto de formação, que acabou por se inspirar no curso que é ministrado há cerca de uma década na Universidade Autônoma de Madrid.

Embora não confira qualquer grau ou título, os estudantes portadores de deficiência igual ou superior a 60% receberão uma certificação que os habilitará ao exercício de profissões como as de guias ambientais, tutores de monumentos e contadores de histórias, jardinagem, colaboradores em empresas de ecoturismo e ecocampismo ou em instituições sociais e empresas, entre outras.

Como não confere qualquer grau ou título, o curso não foi precedido de aprovação ministerial, mas “responde integralmente à recomendação do Conselho Nacional de Educação, bem como às orientações do ministro da Tecnologia e Ensino Superior”, no sentido do alargamento da oferta formativa do ensino superior a novos públicos.

Com 11 inscritos, selecionados entre 18 candidatos – com a colaboração do Gabinete de Apoio ao Estudante com Necessidades Educativas Especiais -, o curso vai começar no dia 11 de outubro, depois de toda a estrutura e conteúdos terem sido adaptados, com o apoio do Departamento de Tecnologias Educativas da ESES, e aprovados, por unanimidade, pelo Conselho Técnico Científico, salientou a também diretora da Unidade de Investigação do Politécnico de Santarém.

O projeto passou pela formação dos funcionários não docentes e pela constituição de um grupo de voluntários para acolhimento dos jovens, sublinhando Maria Barbas o facto de os docentes da ESES que vão lecionar as unidades curriculares o fazerem de forma voluntária, já que estas horas não vão contar para a sua carga letiva.

Aos 16 docentes da casa juntam-se 40 voluntários, sendo que um professor da Escola Superior de Desporto de Rio Maior irá dinamizar um projeto de surf no segundo semestre, respondendo à escolha da maioria dos alunos.

Maria Barbas destacou ainda o fato de os docentes irem desenvolver linhas de investigação sobre a adaptação de cada unidade curricular às políticas nacionais, permitindo a transferência de conhecimento e aplicação desta “formação inovadora” noutras zonas do país.

Por outro lado, referiu as parcerias conseguidas com instituições, banca e empresas, algumas delas disponibilizando estágios remunerados e outras concedendo patrocínios, como os que vão permitir que os alunos da zona de Lisboa sejam transportados gratuitamente para Santarém graças à cedência de uma carrinha de transporte por dois anos, de um cartão de combustível e das portagens.

“Uma das maiores dificuldades que enfrentamos na orientação dos nossos filhos é o confronto com a falta de resposta de formação profissional adaptada, preparando-os para, em função das suas capacidades, se poderem integrar no mercado de trabalho, permitindo a sua parcial independência, mas sobretudo dando-lhes a autoestima e a dignidade que só a integração no mundo do trabalho pode proporcionar”, afirma a nota de apresentação da formação.

Na sessão agendada para sexta-feira, os estudantes inscritos neste ano letivo irão partilhar os seus “testemunhos inspiradores”, num encontro que contará com intervenções do eurodeputado Carlos Zorrinho e do presidente do Politécnico de Santarém, José Mira Potes, entre outros, e com a apresentação dos patrocinadores da formação, do ‘handbook’, da página web, da estratégia de social media, dos voluntários que integram o projeto e das unidades curriculares do 1.º ano.

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