Morre escritor brasileiro e presidente português homenageia: “mestre da língua”

Da Redação
Com Lusa

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou uma mensagem de homenagem ao escritor brasileiro Rubem Fonseca, que morreu na quarta-feira, aos 94 anos, descrevendo-o como “mestre da língua concisa e precisa”.

Numa nota da Presidência da República, o chefe de Estado refere que “este filho de transmontanos emigrados também ganhou, um pouco tardiamente, lugar de destaque nas preferências dos portugueses e dos leitores lusófonos, tendo-lhe sido atribuído muito justamente o Prêmio Camões em 2003”.

“No dia em que dele nos despedimos, deixo uma palavra de homenagem ao observador atento de um outro Brasil, ao escritor desenvolto, ao mestre da língua concisa e precisa”, acrescenta.

Segundo o Presidente da República, Rubem Fonseca “foi, sobretudo para as gerações nascidas na segunda metade do século passado, um dos ficcionistas de referência em português, um pouco à maneira do que Jorge Amado tinha sido alguns anos antes”, mas com uma obra que “representou o Brasil desencantado, violento, às vezes cínico, um Brasil urbano”.

“Os seus romances e contos devem muito a um percurso profissional e existencial que fez de Rubem jurista, comissário de polícia, argumentista, experiências que deixaram uma marca impressiva em textos onde o crime, a sexualidade, os episódios-choque e o laconismo lembram a melhor ‘pulp fiction’, sem esconder totalmente por completo o homem culto e irônico”, lê-se na nota hoje divulgada.

Marcelo Rebelo de Sousa menciona que Rubem Fonseca “alcançou grande popularidade e reconhecimento no seu país, tendo vencido diversas vezes o Prêmio Jabuti”, e considera que foi “também cronista da história de Brasil, com a obra-prima ‘Agosto’, sobre Getúlio Vargas”.

Rubem Fonseca morreu na quarta-feira, no Rio de Janeiro, aos 94 anos. De acordo com o jornal O Globo, o escritor sofreu um enfarte no seu apartamento no Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, e apesar de ter sido imediatamente transportado para o hospital, os médicos não conseguiram reanimá-lo.

Autor de livros como “O Caso Morel” (1973), “Feliz Ano Novo” (1976), “O Cobrador” (1979) e “A Grande Arte” (1983), Rubem Fonseca foi distinguido em 2003 com o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, e recebeu também, por seis vezes, o Prémio Jabuti, o principal galardão da literatura, no Brasil.

O escritor era apontado pela crítica como o maior contista brasileiro da segunda metade do século XX.

José Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, no Estado de Minas Gerais, no Brasil, em 11 de maio de 1925, numa família oriunda de Trás-os-Montes.

“Em casa falávamos português, minha mãe só cozinhava comida portuguesa e a biblioteca do meu pai era só de autores portugueses”, disse, durante a sua visita a Portugal, em 2012.

Foi nesta biblioteca que tomou o primeiro contacto com escritores como Luís de Camões, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e Guerra Junqueiro, o favorito de seu pai, lembrou então.

Em 2012, além do Prêmio Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, recebeu a Medalha de Mérito Cultural, da então secretaria de Estado da Cultura, do Governo português, e a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, da Câmara de Lisboa.

A sua obra encontra-se publicada em mais de uma dezena de línguas, na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos.

Quase todos os seus títulos foram editados em Portugal, ao longo dos anos, por editoras como a Contexto, Asa, D. Quixote, Edições 70 e Campo das Letras. Para o primeiro trimestre deste ano, antes de declarada a pandemia da covid-19, a Sextante, que tomou a obra do escritor na última década, anunciara a publicação de “O Doente Molière”.

Em 2018, o primeiro romance do escritor, “O Caso Morel”, foi adaptado a televisão por Suzana Amaral, que assinou o argumento com Patrícia Melo.

Muitos dos seus contos deram origem a filmes e ‘seriados’, como o seu inspetor Mandrake, que o seu filho José Henrique Fonseca levou para a televisão brasileira.

1 Comment

  1. Falar o que, sobre os escritores brasileiros dos séculos XIX e XX, sem mencionar o notável Joaquim Maria Machado de Assis? Na sua época, mesmo trabalhando como tipógrafo, era Machado quem revisava os textos dos maiores escritores do seu tempo. Jorge Amado foi um blefe para os leitores contemporâneos, como está sendo Paulo Coelho atualmente. João Ubaldo Ribeiro ainda merece algum crédito, já que sua capacidade criativa não fica restrita a apática Bahia.
    Dentre todos eles, prefiro ater-me ao Júlio Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade,
    Luís Fernando Veríssimo, e ao humorado cronista Fernando Sabino, entre outros.
    Os escritores atuais, com raras exceções, supõem que o Comunismo abrir-lhes-ão
    o caminho para o Jardim do Éden. Que ideologia mais estapafúrdia, não?

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