Maior Espetáculo em Areia do Mundo homenageia Portugal

Por Eulália MorenoDe São Vicente, para Mundo Lusíada

Fotos: Deco Vieira

ESPETÁCULO >> A cena, na Idade Média trazendo mitos do mar e das navegações através dos monstros marítimos com a presença de uma Nau dos Loucos, a atriz Elke Maravilha interpretou uma Deusa Mítica. AO LADO >> Werner Schunemann interpreta João Ramalho, casado com a índia Bartira, interpretada por Lucielle Di Camargo.

Um ano depois do lamentável espetáculo levado a efeito nas areias da Praia da Biquinha, quando os colonizadores portugueses foram tratados como ladrões e estupradores para constrangimento de grande parte do público e das autoridades presentes dando ensejo, inclusive, a veemente protesto junto à Prefeitura da cidade por parte do Conselheiro das Comunidades Portuguesas, José Duarte, a 26ª edição da Encenação da Fundação da Vila de São Vicente retomou o seu cunho cultural e pedagógico e, com grande rigor na pesquisa histórica e solenidade louvou aqueles que em 1532, a bordo de cinco naus fundaram a Célula Mãe da Nação brasileira.

Com as arquibancadas sempre lotadas a Encenação teve início no passado dia 16 e prolongou-se até 22 de janeiro, dia do aniversário da cidade. As apresentações diárias foram assistidas por aproximadamente 50 mil pessoas. Além de 1300 atores da comunidade, alguns artistas, mais ou menos, famosos foram convidados para dar vida aos personagens históricos.

Sob a direção de Tanah Corrêa que retorna ao espetáculo depois de dez anos de ausência e contando com uma equipe de duas mil pessoas que trabalharam nos ensaios dos atores da comunidade, cenografia, maquiagem, adereços e figurinos durante 8 meses, a Encenação narrou a história da fundação da Vila de São Vicente baseada no diário de viagem do navegador Pero Lopes, irmão de Martim Afonso de Sousa, combinando o real , o poético e o imaginário. A dramaturga Orleyd Fraga produziu o roteiro de 92 páginas centralizado na vida e na coragem dos homens que se arriscavam no mar aberto sem a certeza de voltar.

A Encenação foi dividida em 22 cenas que se desenrolavam nas areias da praia do Gonzaguinha iniciando-se na Idade Média, apresentando os mitos que envolviam o mar e os desafios as navegações através dos monstros marítimos com a presença de uma Nau dos Loucos e a personagem mítica interpretada pela atriz Elke Maravilha (Deusa Mítica). A Igreja Católica na intenção de arrebanhar novos fiéis concede aos aventureiros navegadores o direito e a posse das terras a serem descobertas. Em cena cinco caravelas, uma delas trazendo a bordo Pedro Álvares Cabral (Luiz Geraldo Gonçalves). No mesmo ano de 1500 nascia Martim Afonso de Sousa (Luigi Baricelli) filho de Dom Lopo de Sousa (Antonio Abujamra) e de Brites de Sousa (Bete Mendes).

Durante os anos seguintes o Brasil foi invadido por corsários que escravizavam os curumins e trocavam quinquilharias por pau-brasil. Dom João III (Daniel Saullo) convoca Martim Afonso de Sousa para dar início a colonização. Martim Afonso inicia a jornada onde enfrenta as dificuldades da viagem: tempestades, ataques de piratas franceses e doenças. O escorbuto ataca a tripulação e os mortos são jogados ao mar em cerimônia celebrada pelo padre Gonçalo Monteiro (Cecil Thiré).

Quando Martim Afonso desembarca em São Vicente encontrou os índios com os ânimos exaltados mas, quando o combate entre índios e portugueses é iminente, João Ramalho (Werner Schunemann), casado com a índia Bartira (Lucielle Di Camargo) intervém e promove a paz entre os dois povos. A primeira missa em São Vicente é celebrada e Martim ordena que se construa o Pelourinho, a Alfândega, a Igreja, as casas da vila, os caminhos e o Porto, fundando, assim, aquela que viria a ser a primeira cidade do Brasil.

BastidoresO aderecista Ricardo Romano coordenou uma equipe de cinco voluntários que durante três meses produziu espadas, lanças, armaduras, espingardas, arcos, ombreiras e estátuas. O idealizador das esculturas Ginez Munhóis auxiliado por uma equipe de 26 profissionais, produziu as 600 cabeças de polioretano, articuladas pelo elenco numa representação dos sete pecados capitais, do bem e do mal.

Cores quentes para os índios, tons de bege para a Corte. Toda a maquiagem seguiu o contexto do figurino e mostrou as emoções vividas pelos personagens da história real e 30 maquiadores que participaram, ao longo do ano, das oficinas de maquiagem, se encarregaram de dar cor aos rostos e corpos dos mais de 1300 atores.

No quesito iluminação, 200 lâmpadas de 1.000 watts iluminaram a arena com o auxílio de 12 refletores robotizados, quatro canhões de perseguição com 5.000 watts de potência e mais quatro lâmpadas estroboscópicas que serviram para simular uma tempestade durante o espetáculo.

Gil Nuno Vaz assinou as 32 composições da trilha musica especial da Encenação que incluiu trechos de poemas de Gonçalves Dias, Florbela Espanca e Fernando Pessoa, dentre outros. Outra inovação foi a participação da Escola de Samba X-9 que no final do espetáculo entrou com o enrêdo “Início da Vila- Samba da Fundação da Vila de São Vicente”, também uma composição de Gil que levantou as arquibancadas com o seu refrão: “Quem é que não sabe/Quem é que não sente/ Que o Brasil inteiro cabe/ Na Vila de São Vicente”.

Deixe uma resposta