Entrevista: Walter Vieira Ceneviva fala sobre o Futuro das Telecomunicações

“Se a gente pudesse ter mais de Portugal no Brasil seria muito bom”.

 

Por Ingrid Morais

Walter Vieira Ceneviva é advogado especialista em Direito das Telecomunicações, sócio do escritório Vieira Ceneviva Advogados Associados, ex vice-presidente executivo da Band, membro do Conselho de Comunicação Social e Presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB SP. E conversou com o Mundo Lusíada sobre o Futuro das Telecomunicações.

Mundo Lusíada: Esse ano estrearam nos cinemas brasileiros dois grandes filmes de heróis: a produção americana – “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, e a brasileira limitada a poucas salas de exibição – “Malasartes e o Duelo com a Morte” (popular personagem da cultura nacional e também da portuguesa). Por que não temos tanto acesso a uma produção cultural nacional na mesma proporção que é imposta a americana?
Walter Ceneviva: Do ponto de vista do noticiário, nossas fontes são Fox News, CNN…
Para os fatos que acontecem fora do Brasil, a fonte americana é sempre a mais conhecida e mais acessível. Os Estados Unidos se organizaram dessa maneira. Tiveram o cuidado com as suas indústrias: cultural, audiovisual e de produção de conteúdos. O brasileiro tem uma cultura muito sólida e forte. A música brasileira é consumida e apreciada no mundo todo, mas a indústria cultural não é tão forte, até porque sendo um país pobre, a distribuição se torna uma coisa quase impossível. O brasileiro aprecia o conteúdo. Tanto que na TV paga, onde há uma oferta tão variada, os canais de maior audiência são os brasileiros, a nossa TV aberta: Globo, Band, SBT, Record e RedeTV. Tenho esperança de que nos próximos anos haja uma pequena modificação. A partir da Lei do SeAC (Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011) melhorou um pouco a presença de conteúdo brasileiro na televisão paga. Talvez isso possa ser o começo, a primeira semente de uma mudança para o futuro.

ML: Como poderia se processar um maior intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal, sendo que existe basicamente nas telenovelas?
WC: Verdade. As novelas têm grande intercâmbio. Quando fui executivo do grupo Bandeirantes, participei de negociações para trazer novelas da RTP para o Brasil, e as novelas do Brasil em Portugal são bem quistas e aceitas. Tenho grande admiração pelos portugueses porque fizeram de nós brasileiros, e de nós enquanto Brasil, um país de uma só língua. Um país que tem identidade. Diferente do que acontece com os países espanhóis, que são todos pequenos países rivais entre si. O Brasil é um só país, unido por uma só língua, que é a portuguesa. E isso, evidentemente, é resultado da cultura portuguesa. Se somos tão próximos, por que não temos mais intercâmbio? Identifico uma grande barreira como sendo não o sotaque, nem o gosto propriamente dito, mas Portugal é um país pequeno do ponto de vista do mercado de audiovisual, de produção cultural, comparado com o Brasil. Para o produtor de conteúdo brasileiro exportar para Portugal representa um montante de dinheiro pequeno, considerando a população portuguesa ser do tamanho da população metropolitana de São Paulo. É também um segmento que demandaria apoio tanto do governo português quanto do brasileiro. E como telespectador, como leitor, gostaria muito que isso acontecesse. Porque a cultura portuguesa é fascinante. A história de Portugal é fascinante e se a gente pudesse ter mais de Portugal no Brasil seria muito bom, como também acredito que para os portugueses seria bom ter mais do Brasil lá.

ML: Acreditava-se que a grande revolução do futuro seria no transporte. Só que a grande revolução ocorreu nas telecomunicações. Como vê o futuro das telecomunicações?
WC: Dizem que um sapo numa panela, se esquentá-la, ele não se dá conta e pode até morrer ali dentro. Porque a pele dele não tem a sensibilidade para a mudança de temperatura. Somos como sapos numa panela. A verdade é que a revolução que a humanidade vive hoje é extraordinária e implica que estamos diante de muitas interrogações. Todavia, algumas coisas eu considero muito certas. Primeiro: a vida será melhor do que ela jamais foi. Temos uma repercussão das telecomunicações melhorando a saúde, o processo político, a atividade econômica. Há quem diga que a articulação da Amazon – aquela grande empresa americana – está produzindo uma redução de preços em diversos setores. Uma deflação de preços. Então, as telecomunicações produzirão coisas boas. Segundo: as telecomunicações trazem consigo o risco do desconhecido. Nunca antes na história foi possível gravar cenas íntimas. E hoje qualquer pessoa, rica ou pobre, pode gravar com seu pequeno aparelho celular. Aí acontecem coisas como as que temos visto – o caso de grande repercussão da Carolina Dieckmann, que gerou a edição de uma lei para proteção de dados. As pessoas têm que conviver com esse novo ambiente de cuidar mais da sua própria intimidade. Terceiro: o fake news. Notícias falsas que são disseminadas no ambiente digital, exigindo que cada um de nós, enquanto cidadão, tenha mais cuidado ao consumir notícias. Checar as informações. O fato é que hoje, consumir informação, o audiovisual, a televisão, é muito mais fácil do que jamais foi, faz parte da nossa vida, e isso vai acontecer cada vez com maior intensidade. Logo veremos a experiência da realidade virtual, o aumento da interatividade, e eu considero tudo isso muito positivo.

 

Ingrid Morais é Comunicadora e Advogada especialista em Entretenimento e Mídia.

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