Entrevista Eduardo Saron: Brasil e Portugal estreitam laços na gestão cultural

Por Ingrid Morais

Eduardo Saron é Gestor Cultural há quinze anos, atua no Instituto Itaú Cultural desde 2002 , onde atualmente é Diretor Superintendente responsável pelos Projetos Culturais. Também é Secretário Geral da Associação Nacional de Entidades Culturais não Lucrativas (ANEC), Vice-Presidente da Fundação Bienal, Conselheiro do MASP, Membro do Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) e Conselheiro do Instituto CPFL.

Mundo Lusíada: Em junho desse ano o senhor esteve com o Ministro da Cultura e o Secretário de Estado da Cultura de Portugal para tratar do intercâmbio de gestores culturais do Brasil e de Portugal. O que resultou de concreto dessa reunião?
Eduardo Saron: Foi uma reunião com o foco central da necessidade de aproximar os dois países, de trocar experiências entre eles. Naturalmente quando falamos com Portugal nós falamos com a Europa de alguma forma, mas conversarmos sobre a experiência, as necessidades, os desejos de uma gestão cultural contemporânea. E a idéia é fazer um encontro no próximo ano, em 2018, levando um conjunto de gestores culturais, de vários equipamentos, não só com o perfil do Itaú Cultural, mas ligados à dança, à música, às artes visuais, reunindo-se com o conjunto de gestores culturais de Portugal, onde cada um possa trocar experiências e a partir disso estabelecer um outro patamar de relacionamento.

ML: O Itaú Cultural e Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa, teve como vencedora a escritora portuguesa Ana Teresa Pereira com o romance Karen. Tendo em vista essa aproximação, é possível prever quais serão as tendências literárias luso-brasileiras nos próximos anos?

ES: Ana Teresa Pereira, a vencedora, é uma escritora portuguesa da Ilha da Madeira. Acho que uma previsão das tendências futuras dessa aproximação é a ampliação do diálogo, do contato. Parte desses livros, não só os que foram selecionados entre os ganhadores, mas também os que ficaram entre os finalistas (que não tem editoras no Brasil por vários motivos), há o desejo de editá-los aqui. Então, a primeira tendência que eu vejo é a aproximação da literatura de língua portuguesa com a literatura realizada no Brasil. Diria que esses livros começam a partir desse contato do Oceanos a serem procurados por editoras brasileiras. Eu acho que esse é o maior dos legados, inclusive do projeto, do prêmio. Naturalmente, na medida em que queremos que os autores de fora do Brasil possam ser editados aqui, também seria muito interessante que autores brasileiros pudessem ser editados não só em Portugal, como também nos demais países que possuem a língua portuguesa como sua língua oficial. Esse é o grande legado, o aprofundamento dessa tendência que é a aproximação do mundo do livro e da leitura entre esses vários países.

ML: O Itaú Cultural tem desenvolvido um intenso trabalho na divulgação e preservação da cultura brasileira. O que mais o orgulhou nesses últimos anos à frente desse trabalho?
ES: Naturalmente o Itaú Cultural é visto como um espaço de realinhamento das fronteiras, encontra novos projetos e novos artistas, debate tendências da produção contemporânea, isso é uma marca do Itaú Cultural. Mas o que mais me orgulha, e isso se associa à própria origem do Itaú Cultural há trinta anos, é a oportunidade de construirmos a memória da arte e da cultura brasileira. Seja pela Enciclopédia do Itaú Cultural, seja pelo projeto Ocupação, pelas várias digitalizações de acervo, pelos filmes que fazemos de artistas importantes e relevantes, enfim, constituir a memória é uma forma também de dialogar com a produção contemporânea. Ao fazermos isso, damos uma amalgama da constituição do repertório dessa produção atual.
Nessa linha de constituir a memória e sistematizar, lançamos esse ano um site que dá a oportunidade ao grande público de ter contato com esse acervo. O conteúdo reúne os acervos do Itaú Cultural, da Pinacoteca do Estado, da Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles. O site brasilianaiconografica.art.br é uma primeira experiência e muito importante de reunir todo o material da iconografia do século XIX, desde a vinda das expedições francesas, holandesas e da própria Alemanha. Essas quatro instituições hoje disponibilizam duas mil e quinhentas obras do que há de mais relevante dos seus acervos. E ao disponibilizar essas obras, um pesquisador por exemplo, poderá comparar momentos, traços do artista, identificar um pouco melhor as obras inclusive através dos textos que são elaborados sobre elas. A idéia desse projeto é não se deter a essas quatro instituições, mas atrair outras para que coloquem à disposição do grande público seus materiais. Esse para mim é um dos grandes feitos desse ano do Itaú Cultural, que mais uma vez coloca luz na constituição da memória, do pensamento, da produção artística feita no Brasil.

Ingrid Morais é Comunicadora e Advogada especialista em Entretenimento e Mídia

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