Começam as comemorações do bicentenário da vinda da corte

 

Mundo Lusíada

José Sena Goulão/Lusa

Militares portugueses e brasileiros na cerimônia militar evocativa do bicentenário da partida da Família Real para o Brasil, junto à Torre de Belém, em Novembro de 2007, em Lisboa.

Neste mês de novembro, completou-se 200 anos que a família real portuguesa deixou Lisboa com destino ao Brasil. A saída da corte, em 29 de novembro de 1807, devido às ameaças napoleônicas, referia-se a um plano há muito tempo discutido entre os portugueses, e finalmente colocado em prática.

A comemoração do bicentenário não engloba apenas a mudança da corte para a colônia. Com a sua chegada ao Brasil, um país de fato começou a ser construído, e portanto marcando o que muitos historiadores chamam de “redescobrimento” do Brasil.

“Brasil e Portugal faziam um conjunto. O Brasil foi muito discutido como reino unido, a sede da diplomacia e a sede do governo estavam aqui. Portanto, o que se fazia em Portugal era aprovado a partir do Brasil”, relata o professor Titular da Universidade do Porto, Dr. Eugenio dos Santos, em entrevista ao Mundo Lusíada durante seminário em São Paulo.

Para ele, nesta época Brasil foi um grande porto-seguro para Portugal. “O governo que estava em Portugal, chamado Junta Provisória de Governo, tinha apenas uma pequena parte da autonomia, ou seja, Portugal dependeu do Brasil indiscutivelmente durante este período”, diz.

As invasões de Napoleão fizeram com que a família real e a “nata da sociedade” portuguesa viesse – e no caso de muitos permanecesse – para a colônia, o que na época nenhum rei havia realizado. “Período das invasões. A seguir um país [Portugal] ocupado de uma forma pacífica pelos ingleses. Isso significava que não só do ponto de vista político, mas econômico e cultural, a nata da sociedade portuguesa estava no Brasil”.

Além do território como refúgio, a economia para a corte portuguesa dependia também do país colônia, afirma Dr. Eugenio. “O incremento das relações econômicas a partir sobretudo de 1814 fez com que a economia portuguesa começasse novamente a crescer, isto devido ao comércio marítimo cuja peça-chave era o Brasil. Portanto não há qualquer dúvida em afirmar que, durante este período e por mais de 15 anos, Portugal dependeu estritamente do Brasil”, diz o professor.

De acordo com o professor da Universidade Nova de Lisboa, António Pedro Vicente, a chegada da corte evitou principalmente a divisão territorial do país. “A transmigração conservou a coroa, manteve a independência de Portugal, ao contrário da Espanha que ficou sem governo com a invasão de Napoleão, e trouxe muitos benefícios para o Brasil”. Para Pedro Vicente, a transferência da família real não foi uma fuga mas uma “estratégia tática de primeira classe” para assegurar a independência de Portugal. “Foi a única independência sem derramamento de sangue e sem qualquer ruptura política insanável, uma vez que a família real permaneceu no poder, por meio de D. Pedro I, filho de D. João VI”.

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