A exemplo do Camões, Brasil anuncia Instituto Guimarães Rosa em evento ibero-americano

Da Redação

Representantes de 18 países de estados Ibero-americanos se encontraram na primeira reunião de alto nível de representantes ministeriais e institucionais de Cultura da Ibero-América entre quarta e quinta-feira, em São Paulo.

O evento foi promovido pela Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), que une países da Península Ibérica e da América Latina. Participaram vice-ministros e secretários de Cultura de governos de 18 países, além de diretores de fundações culturais, para discutir formas de ampliar o fomento e a economia criativa na região.

Durante a mesa de abertura, o secretária de Comunicação e Cultura do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Márcia Donner, anunciou a criação do Instituto Guimarães Rosa (IGR), em homenagem a um dos grandes nomes da literatura nacional. A exemplo de iniciativas similares de outros países, como o Instituto Camões, em Portugal, além do Goethe, na Alemanha, o Cervantes, na Espanha, e a Aliança Francesa, na França, o IGR nasce com a proposta de promover a cultura brasileira.

“Será um instituto para a promoção da língua, da cultura e para a internacionalização das indústrias criativas brasileiras em todo mundo. Vai ser também um lugar para ampliar parcerias vantajosas, para projetar a imagem de uma cultura diversa, sofisticada, colorida e de muito prestígio, como já é a brasileira. Com isso, poderemos ajudar a criar novas visões de mundo e a intensificar o poder brando de nosso País”, concluiu a embaixadora.

De Portugal, o Instituto Camões foi criado para a promoção da língua portuguesa e da cultura portuguesa no exterior. Com presença em diversos países, participa no Brasil também através de Cátedras criadas em convênios com universidades.

Segundo já divulgou o Itamaraty, sem adiantar datas de inauguração, o Instituto Guimarães Rosa deve ter sede em cidades como Nova York, Londres, Tel Aviv, Luanda e Lima, para promoção da cultura brasileira no exterior, conforme adiantou Folha de S.Paulo.

Para Henrique Pires, secretário especial da Cultura do Ministério da Cidadania, um dos desafios que os gestores culturais ibero-americanos enfrentam é encontrar formas de fazer com que atividades e projetos realizados por cada país sejam mais conhecidos pelos demais. “Eu entendo que o propósito deste encontro está em atualizar nossas perspectivas sobre gestão cultural. Nós temos um acervo de experiências que atestam a ação transformadora da cultura para a educação, a inclusão social e o desenvolvimento econômico e é fundamental que os gestores da região se unam para divulgar isso”, afirmou o secretário.

Indicadores de cultura

Durante o evento, um dos pontos mais destacados nos debates foi a necessidade de se estabelecer indicadores para a Cultura. Medir quantos empregos diretos e indiretos gera, quanto é movimentado diretamente com a montagem e execução de projetos e, indiretamente, com gastos de turistas em hotéis, restaurantes, além das correlações e conexões entre setores. Por exemplo, no Amazonas, os mesmo técnicos, coreógrafos, cenógrafos e figurinistas que trabalham no Festival Amazonas de Ópera também atuam no Festival de Parintins.

Outro ponto ressaltado foi a necessidade de uma maior circulação dos produtos culturais dentro de um mesmo país e entre os países ibero-americana. “Isso leva à diluição dos custos e, consequentemente, à maior visibilidade e acesso à população”, destacou Henrique Pires.

Sérgio Sá Leitão, Secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, e moderado por Luz Amparo Medina, diretora-geral de Cultura da OEI destacaram a cultura como propulsora de desenvolvimento social e de acesso à cidadania. Para Sérgio Sá Leitão, política cultural não se restringe apenas à cultura. “Envolve segurança, turismo, desenvolvimento, cidadania e muito mais.”

No Brasil, as atividades culturais e criativas representam 2,64% do PIB brasileiro. Essa participação é superior a de setores tradicionais que costumam ser mais reconhecidos pelo governo e pela sociedade como contribuintes do desenvolvimento do país, como as indústrias têxtil e de eletroeletrônicos, e se equipara a outros, como o farmacêutico, por exemplo. Em todo o mundo, as indústrias culturais e criativas geram US$ 2,25 bilhões de renda e empregam 30 milhões de trabalhadores, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Experiências

O diretor de Relações Culturais e Científicas do Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha, Miguel Albero, ressaltou que em seu país a cultura é atrelada à cidadania. “A Espanha coloca a cultura como elemento essencial. Os centros culturais são os que mais ajudam com a cidadania, com o empoderamento e produz pensamento crítico. Os centros de cultura nos fazem crescer do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e não é possível o avançar no desenvolvimento sustentável sem a cultura e sem a educação”, alertou Albero.

Já o Secretário de Cultura de La Paz, na Bolívia, Andrés Saratti, salientou os resultados que a promoção da cultura traz para os países. “Chegamos numa maturidade para entender que a cultura é fundamental. Os investimentos nessa área têm resultados contundentes. Mas temos que pensar como podemos gerar ações conjuntas nos âmbitos regionais. Precisamos é aumentar a quantidade de países que tenham leis de cultura, precisamos ter mais amplitude das ações”.

Para Saratti, a cultura é o quarto pilar do desenvolvimento. “É um instrumento de desenvolvimento e inovação criativa. A cultura promove a qualidade de vida dos cidadãos. Precisamos de uma política que tenha uma visão mais integral, com educação, economia e sustentabilidade. A cidadania tem o eixo central como força”, destacou.

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