Lisboa é palco de lançamento da Organização de Jovens dos Países de Língua Portuguesa

No final deste ano, a associação pretende levar a Luanda o primeiro encontro de juventude dos países de língua oficial portuguesa. Um projeto que dependerá do apoio e envolvimento dos setores público e privado dos países lusófonos.

 Por Vanessa Sene

Mundo Lusíada


Divulgação

 

Lisboa foi palco do lançamento oficial da Conexão Lusófona – primeira Organização de Jovens dos Países de Língua Oficial Portuguesa. A iniciativa surge da vontade de um grupo de jovens, provenientes de quatro continentes, em trabalhar para uma maior integração das sociedades a que pertencem.

O evento, ocorrido no último 12 de dezembro, contou com o cantor cabo-verdiano Tito Paris, no Restaurante-Bar Casa da Morna, na capital portuguesa. A programação do evento contou ainda com debate entre os presentes e apresentação dos objetivos e projetos da Organização, que pretende criar “um sentimento generalizado de identificação e pertença à comunidade lusófona”.

“Apesar da crescente relevância na cena internacional, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ainda se encontra aquém do seu potencial no que diz respeito à adesão a um sentimento de pertença a um espaço linguístico comum. No nosso entender, isto deve-se essencialmente à falta de laços entre as sociedades que a integram, em parte gerada pelo desconhecimento mútuo. Achamos que o trabalho, no sentido da criação de uma consciência lusófona, no momento atual que vivemos, constitui uma oportunidade única para assegurar e fortalecer o futuro da cooperação entre os povos de língua portuguesa” defendem.

De acordo com o grupo de jovens, são atualmente 244 milhões de falantes no mundo, na sua maioria jovens, e com taxas de crescimento demográfico que evoluirão, segundo a ONU, na ordem dos 44% até 2050, ou seja, cerca de 4% da população mundial.

A associação pretende realizar projetos que envolvam a juventude e promovam a interculturalidade e a troca de conhecimento, utilizando novas tecnologias de comunicação e conhecimento acadêmico e profissional, além de contar com um quadro consultivo que reunirá conselheiros nas áreas política, artística e empresarial, e ainda, dialogar com cidadãos, setor público e setor privado.

Em 2010, eles registraram a associação, estabeleceram contatos, sobretudo com o setor público e algumas personalidades do panorama cultural, lançaram um site e restantes plataformas de comunicação web, além de divulgarem artigos e recolherem imagens do que em breve deverá ser um vídeo institucional. “2011 será com certeza um ano de concretizações” garantem. No final deste ano, a associação pretende levar a Luanda o primeiro encontro de juventude dos países de língua oficial portuguesa. Um projeto que dependerá do apoio e envolvimento dos setores público e privado dos países lusófonos.

No ano passado, eles também participaram do V Encontro Empresarial da Língua Portuguesa, no Ceará, em representação aos jovens luso-descendentes. Em entrevista ao Mundo Lusíada, este grupo falou sobre como foi o encontro e sobre a iniciativa de, agora, lançar uma associação.

 

ML – Vocês afirmam que ainda existe desconhecimento, falta de atenção e interpretações enviesadas para a Lusofonia. Por quê?

Constatamos que a Lusofonia é uma problemática à qual são sensíveis sobretudo pessoas com predisposição “natural” para tal, devido aos seus percursos de vida, histórias familiares etc. Fora destes Lusófonos natos, encontramos pessoas com uma vaga ideia do que é a Lusofonia, ou mesmo com uma total ignorância da sua existência como elo cultural, político, económico, histórico e identitário à escala mundial, já que esta está presente em todos os continentes. As nossas passagens e experiências, pelos mais variados países e comunidades de língua portuguesa nos levaram a crer que a grande maioria das pessoas, e sobretudo as novas gerações, não fazem ideia do que é Lusofonia e qual o seu real/atual significado ou, se fazem, têm acepções maioritariamente erradas que podem até a carregar esteriótipos e preconceitos perigosos.

 

ML – Qual o objetivo de lançar uma Associação?

O objetivo de lançar um Movimento, uma Associação, ou até mesmo, sendo mais ousados, a Primeira Organização de Jovens dos Países de Língua Oficial Portuguesa, é de fomentar uma consciência lusófona, um mais apurado sentimento de pertencimento à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (e restantes regiões espalhadas pelo o mundo) apostando num diálogo horizontal: da sociedade para a sociedade, dos jovens para os jovens. O objetivo da Conexão Lusófona é justamente o de despertar todas as sensibilidades para a existência e importância da Lusofonia. Esta, no nosso entender, não se limita a uma língua comum, mas engloba todo um conjunto de elos, de conexões (daí o nome), de pontes entre as culturas dos diferentes países Lusófonos. Estas pontes realmente existem, e só nos conhecendo um pouco melhor é que nos poderemos dar conta de tudo o que temos em comum. Queremos incentivar os jovens dos países Lusófonos a atravessar essas pontes, pois são eles, somos nós que daremos amanhã um novo rumo à Lusofonia.

 

ML – Quantos e quem participa da iniciativa?

A Conexão Lusófona se traduz atualmente num grupo de jovens – muitos deles separados geograficamente mas unidos pelas novas tecnologias – que trabalha diariamente em rede tentando colocar na prática projetos e iniciativas que nos aproximem e nos integrem cada vez mais. Nesse momento temos uma equipe baseada em Lisboa constituída por 15 pessoas de diversas origens lusófonas. Temos ainda equipas menores no Rio de Janeiro (BR), Luanda(AO) e Praia (CV). Contamos ainda com colaborações individuais que nos chegam de Barcelona, Paris, Macau, Boston, Singapura e Madrid.

 

ML – Quais as suas principais atividades?

Aspiramos passar a nossa mensagem de uma forma sincera, inovadora, contemporânea e, acima de tudo eficaz, sempre preocupados em inspirar mais e mais jovens para este processo de busca e construção colectiva de uma Nova Lusofonia. A Conexão Lusófona procura sobretudo conectar pessoas, ideias e fazê-las pensar sobre os desafios que se colocam aos países de língua portuguesa e ao resto do mundo. Nesse sentido, acreditamos que o melhor mecanismo é começar a dar a conhecer as sociedades e as culturas dos países lusófonos, num trabalho constante de incorporação e mistura por parte de todos. Sendo esse o fim último de todo e qualquer projeto Conexão, muita coisa se poderá fazer nas mais diversas áreas.

 

ML – O grupo participou do V Encontro Empresarial da Língua Portuguesa? O que levaram de lá?

A Conexão Lusófona foi privilegiada em estar presente neste evento na qualidade de única instituição sem fins lucrativos convidada, com isso foi possível, para além de poder visitar os stands e participar das apresentações (mesas de trabalho) o estabelecimento do pleno convívio com os demais convidados por meios dos almoços e outros eventos fornecidos pelo evento. Com isso foi possível melhor apresentar a Conexão não só aos potenciais financiadores como também as autoridades e representantes da imprensa presentes.

 

ML – O que vocês tem sentido com relação a parcerias e apoios para a Conexão Lusófona em diferentes países?

A Conexão Lusófona tem recebido encorajamento e entusiasmo de diferentes instituições, organizações, grupos e associações com as quais se tem procurado “conectar”. No momento em que o fizemos com maior persistência (ano de 2009 sobretudo no Brasil e em Portugal) tínhamos consciência de que nos encontrávamos numa fase muito embrionária em que procurávamos apenas difundir nossa existência, nossos objetivos, nossa visão de Lusofonia e o porquê de acharmos que tal conceito é de importância capital para o futuro de nossos países. Nos fechamos sobre nós mesmos durante um ano, o tempo passou e atualmente gostaríamos de converter todo esse entusiasmo em ação. Nossa missão e visão só será possível com o auxílio do maior número de parcerias. Por estas razões continuamos a solicitá-las, e à medida que forem nascendo e tomando forma os projetos, temos fé que todos estaremos devidamente conectados em um futuro próximo.

 

ML – O que seria a Nova Lusofonia?

A Nova Lusofonia é para nós uma Lusofonia ativa, voluntária, consciente, na qual “Ser Lusófono” é mais do que apenas falar português ou ser oriundo de um País de Língua Portuguesa; a Nova Lusofonia é para nós a apropriação de uma identidade que existe DE FATO cujos reflexos vemos em pequenas coisas que, se analisarmos bem, têm grandes significados. A nossa cultura é rica, e foi enriquecendo ao longo dos séculos. Hoje, temos a responsabilidade de transmitir este legado, mas também de explorar todas as possibilidades que ele nos oferece. A Nova Lusofonia significa mais abertura, mais conexões, mais ação de e para os países, regiões e populações Lusófonas.

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