Arte Contemporânea de Angola e Bahia reunidas em São Paulo

Da Redação

Divulgação

A galeria SOSO arte contemporânea africana, em parceria com a Fundação Sindika Dokolo, abre no dia 02 de julho, duas exposições que apresentam o vigor da produção artística de Angola e a tradição africana reinventada pela arte contemporânea na Bahia. A SOSO monta a primeira mostra individual do artista angolano Yonamine no Brasil, ao mesmo tempo em que inaugura o espaço SOSO+ com a exposição PRIMEIRA PONTE, uma coletiva de sete artistas baianos.

O espaço está aberto a visitação até 31 de julho, de terça a sexta, das 11h às 19h, a aos sábados até as 16h.

“Me sinto honrado. Para mim, é um ato extremamente importante proporcionar em São Paulo este encontro, entre artistas africanos e baianos. Esta cidade, que é uma das maiores e mais importantes do mundo, que possui uma intensa vida econômica e artística, esteve sempre mais voltada à Europa que à África, ou à própria America Latina. Acho que esta é uma grande oportunidade para os paulistas conhecerem mais desta produção”, afirma Mario de Almeida, proprietário da galeria SOSO arte contemporânea africana.

Yonamine é um dos três representantes de Angola na 29ª Bienal de São Paulo (que ocorre em setembro deste ano). Um artista que recicla memórias e objetos, montando com suas obras uma crítica sutil e bem humorada do seu tempo. Ele tem se destacado no circuito internacional de arte contemporânea, participando de importantes mostras como a Bienal de Veneza, em 2007, a Sharjah Biennial (Emirados Árabes) e a Bienal de Havana, as duas últimas, em 2009.

Já a PRIMEIRA PONTE é parte de um projeto maior, o 3PONTES, que integra a II Trienal de Luanda e se desenha a partir de três momentos diversos da interação entre a África e a Bahia. A Primeira Ponte remete ao início desta relação – compreendido entre os séculos 16 e 19, período da escravidão, apresentando o trabalho de artistas que utilizam linguagens contemporâneas para expressar a forte influência da cultura africana. Estão em exposição, obras de nomes consagrados, como Mario Cravo Neto, e outros que mais recentemente têm se destacado no circuito local e em eventos internacionais de artes visuais, como o próprio filho de Mario, Christian Cravo, além de Ayrson Heraclito, Eneida Sanches, Gaio Matos, Flavio Lopes e Marcondes Dourado.

“São artistas que retratam os personagens, a religiosidade e os conflitos estabelecidos pela relação entre a Bahia e a África a partir de um olhar contemporâneo, com referências globais que surgem do diálogo com o mundo e, principalmente, com a própria África”, afirma Daniel Rangel, curador do projeto, diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, uma unidade da Secretaria de Cultura do Estado. A DIMUS é apoiadora deste projeto, assim como o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), que emprestou obras do seu acervo para a exposição.

YONAMINE Yonamine Miguel nasceu em Luanda, Angola, em 1975, atualmente vive e trabalha em Lisboa, Portugal. O artista possui um diversificado modus operandi técnico que pode variar da serigrafia a colagem, da pintura ao grafite, ou do vídeo à instalação.

Sua formação desenvolveu-se entre Angola, o Congo, o Brasil e a Grã-Bretanha. A guerra foi uma das razões para tantos paradeiros e hoje em tempos de paz suas obras procuram construir uma rede de referências e memórias através da recorrência a assuntos como a emigração clandestina, o colonialismo e os símbolos culturais de Angola. Yonamine integra um movimento recente, de recuperação iconográfica de seu país, de levantamento do estado das coisas em Angola.

Para a exposição na SOSO, Yonamine se utiliza da técnica da serigrafia sobre papel com predomínio do preto e branco. Em “Miami Be” mistura a serigrafia com diversas técnicas, usando colagens e as próprias rasuras que surgem e tornam-se elementos gráficos, adicionando materiais como tinta acrílica, crayons coloridos e carimbos. Os quadros formam uma sequência de imagens originadas todas sobre uma mesma base; seja essa base a figura de um rosto ou número zero. O artista transforma através de ações gráficas e materiais a superfície do papel, mas sem perder a referência gravada inicialmente em cada um dos componentes que formam os painéis. Completando o conjunto de obras da mostra: quatro serigrafias pintadas sobre folhas de jornal e três pinturas em técnica mista sobre tela em grandes formatos. Recentemente, expôs ao lado de diversos artistas angolanos de sua geração na mostra Luanda, Suave e Frenética 2, no MAM-Bahia, e Luanda, Suave e Frenética 1, na Galeria Solar Ferrão, mo Pelourinho, também em Salvador.

Como disse a crítica portuguesa, Carla de Utra Mendes, que assina o texto de Yonamine: “Num mundo globalizado em que as referências circulam num fluxo interminável, artistas como este informam-nos de abordagens outras que nos permitem repensar o lugar do Outro cultural e da sociedade ocidental que a pouco e pouco cai em desuso. Os mestiços, os crioulos, aqueles que possuem uma dupla, tripla ou múltipla referência identitária, os semionautas ou radicantes como lhes chama N. Borriaud, são, atualmente, o novo vigor que a arte precisa para se manter viva e sair da apatia em que acabou por se enterrar”.

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