Por Odair Sene
O primeiro ministro de Cabo Verde, José Maria Pereira Neves, fez uma visita oficial ao Brasil com uma agenda diversificada entre 17 e 20 de outubro. Ele que é formado na FGV (Fundação Getúlio Vargas) teve em um dos compromissos justamente visitar a instituição e participar da solenidade de aniversário de 70 anos da FGV.
José Maria Neves participou de uma reunião com a Diretoria Internacional (DINT) da FGV, visando ampliar a discussão sobre uma cooperação no âmbito da formação superior entre Cabo Verde e a Fundação. O encontro fez parte da Semana Internacional promovida pela DINT, em comemoração aos 70 anos da Fundação.
Após a reunião, o ministro foi um dos ex-alunos homenageados pela FGV. Graduado em Administração Pública pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV/EAESP), o Primeiro-Ministro recebeu a homenagem por sua carreira de destaque e pelo notável percurso realizado, tanto no nível profissional quanto no político.
José Maria Neves e sua comitiva estiveram também na cidade de Santo André, no ABC Paulista, na Sabina Escola Parque do Conhecimento para conhecer a exposição “São Nicolau – Cidade Irmã de Santo André” onde foram recebidos pela prefeita em exercício Oswana Fameli.
São Nicolau é uma cidade localizada em uma das dez ilhas que compõe o arquipélago de Cabo Verde, na África, e uma das cinco cidades irmãs de Santo André. A mostra, que fica no espaço até janeiro de 2015, retrata, por intermédio de objetos, imagens, fotografias, músicas, jogos e contos, a beleza e a singularidade do povo, não só da cidade de São Nicolau, mas também de Cabo Verde e da África.
A cidade é a segunda a ocupar o espaço de exposições temporárias da Sabina dentro do projeto “Conheça as cidades irmãs de Santo André”. Além do ministro, da vice prefeita e outras autoridades, esteve na solenidade também o presidente da Associação Caboverdiana, José Augusto do Rosário, que dirige a entidade com sede em Utinga, sub-distrito de Santo André.
Acompanhado pelo Embaixador de Cabo Verde no Brasil, Domingos Dias P. Mascarenhas, e pelo Secretário de Estado da Administração Pública, Romeu Modesto, no sábado, dia 18, após o evento da exposição no Sabina, o ministro e sua comitiva foram visitar a comunidade caboverdiana justamente na referida Associação Caboverdiana, onde estavam muitos dos caboverdianos que vivem na região.
No local foi realizada uma solenidade com apresentação do presidente José Augusto do Rosário, que mostrou às autoridades, em telão, muitas das atividades realizadas nos últimos dois anos pela comunidade ali sediada. Destaque para a promoção e difusão da cultura caboverdiana levada a cabo, há muitos anos pelo grupo de dança mantido pela associação.
Falando da boa relação do governo de Cabo Verde com a diáspora, José Augusto fez referência a reciprocidade neste quesito: “Essa atenção é a tônica do nosso governo, ao ponto de transformar o que era nosso antigo Instituto das Comunidades em um Ministério. Então nossa comunidade hoje é cuidada pelo Ministério das Comunidades. Isso demonstra o cuidado que Cabo Verde tem com sua gente fora do país, e a imigração busca ajudar o país e nós aqui no Brasil não somos diferentes. Na medida de nossa capacidade fazemos a nossa parte”, disse ele fazendo ainda referências à recente “perda irreparável” com a morte do então cônsul honorário em São Paulo Aguinaldo Rocha.
O Embaixador de Cabo Verde no Brasil, Domingos Mascarenhas também fez uma rápida declaração aos presentes, com destaque para a coincidência da data da visita do ministro, naquele dia, se comemorava o “Dia da Cultura e das Comunidades Caboverdianas”, data enaltecida pelo embaixador que representa seu país no Brasil desde janeiro deste ano.
Na sequência o Primeiro Ministro fez um longo discurso no qual procurou atualizar seus conterrâneos da atual situação do país. Desde a infra-estrutura até nas relações internacionais. Das dificuldades na comunicação de antigamente ao clique do computador de hoje, tudo se pode saber de Cabo Verde e das Comunidades. Além disso atualmente Cabo Verde já tem até voo direto do seu país para Fortaleza, no Norte do Brasil. “Então apesar da distância estamos muito mais próximos”.
Com todas as dificuldades ainda existentes, José Maria Neves disse que Cabo Verde tem poucas coisas: suas dez ilhas, no meio do Atlântico, muito vento, com sol durando o ano todo, não muito mais que isso. “Mas costumo dizer que temos muitos diamantes, que são nossas cabovedianas e nossos caboverdianos, é só isso que nós temos, mais nada”.
O ministro disse que atualmente o país passou de uma promessa a um país viável, inclusivo e mais acessível, com futuro e realizando sonhos. De avós, dos pais e dos filhos. Segundo ele, o país cresce a cada ano com o turismo tendo hoje cerca de 600 mil visitantes/ano. Por conta desse aumento no turismo o país vem se desenvolvendo em muitas áreas, em especial transportes aéreos e marítimos, tecnologias de informação e comunicação, finanças internacionais, energias renováveis, cultura, e inclusive o agro-negócio, mesmo sem o país ter recebido chuva até este 18 de outubro.
“Só que quando chove é muita chuva, então nós desenvolvemos uma estratégia de utilização da água com barragens [cerca de cinco barragens construídas] para reter água da chuva e assim aumentar a cadeia alimentar sobretudo por conta do turismo”, disse ele fazendo ainda referências a problemas que chegam com turistas, deportados de outros países e isso tudo faz Cabo Verde ser a décima democracia do mundo, inclusive e principalmente com respeito à imprensa que tem total liberdade para exercer suas atividades. “Agora estamos investindo na qualidade de vida dos nossos cidadãos”.
Ao final da fala do ministro, o presidente da entidade, José Augusto, presenteou o ilustre visitante com um quadro, como um mimo oferecido pela sua diretoria. Os presentes ainda puderam questionar o ministro com algumas perguntas, sendo todas amplamente respondidas.
Questionado pelo Mundo Lusíada sobre os cuidados que o país vem tendo em relação ao Ebola, José Maria Neves tranqüilizou a todos dizendo que seu país (como nenhum) pode garantir que não terá nenhum caso, mas pode assegurar o controle muito rígido da chegada de cidadãos vindo de lugares considerados de risco. E garante que Cabo Verde está bem protegido internamente.