Descendentes portuguesas no Rio revelam o que pensam sobre o dia das mulheres

Por Igor Lopes
Do Rio para Mundo Lusíada

 

Ana Lúcia Melo. Fotos: Divulgação

Bonitas, lutadoras, valentes e amorosas. Esses são alguns dos atributos que fazem com que os homens, mais ou menos conscientes, respeitem as mulheres. De meninas a mulherões. De sonhadoras a profissionais que ocupam altos cargos em qualquer empresa. O mundo feminino está mais atraente. Vestem-se como querem, ditam ordens, antecipam cenários e vislumbram soluções. Competitivas e harmoniosas, as mulheres há muito deixaram de ser comparadas a rosas simples e frágeis. Hoje, vão à luta. São “pais” de família e sustentam os filhos sozinhas, se for preciso. Têm opinião própria e não desistem de serem ouvidas. Normal? Atualmente sim, mesmo que haja muito ainda por fazer. Mas é inegável a reviravolta que o mundo presencia. No dia 8 de março, milhares de pessoas pararam para celebrar o dia das mulheres. Mas foi mesmo uma celebração?

O Mundo Lusíada conversou com quatro representantes desse mundo “cor de rosa” que pertencem a uma safra recente de descendentes portugueses no Rio de Janeiro. A maioria delas conta com dupla nacionalidade (portuguesa e brasileira), mostram no dia a dia muito amor as suas raízes, têm nível superior, orgulham o lado feminino da melhor forma possível e são, acima de tudo, pessoas que fazem o futuro acontecer. Procuramos saber a opinião dessas guerreiras sobre a data que celebra o dia das mulheres, que enche as ruas de buquês e abastecem as casas comerciais de clientes.

Esse dia celebra realmente a conquista de direitos fundamentais por parte do público feminino ou é apenas uma maneira de fazer a economia circular, numa eterna roda vida sem emoções? Elas contestam, exclamam e “soltam o verbo”. Com simpatia e trejeitos bem femininos.

Na opinião de Ana Lúcia Melo, promotora de justiça no Rio de Janeiro, essa comemoração serve somente para assinalar o quanto ainda há por fazer em relação aos direitos das mulheres.

“Há um dia dedicado às mulheres porque, até hoje, elas ainda não têm o tratamento digno. Em muitos países, e mesmo em muitas regiões do Brasil, são tratadas de forma diferenciada, menosprezada, preconceituosa. Prova disso é o alto índice de violência física sexual praticada contra elas, sem falar na disparidade de reconhecimento profissional, mesmo quando exercem bem as suas funções. Quando as mulheres tiverem o tratamento natural não haverá necessidade de homenagens e dias comemorativos”, afirma Ana Melo, que tem os pais provenientes de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real.

Atualmente com 39 anos de idade, Ana Melo ocupa um lugar de destaque no poder judiciário do Rio. Ela não esconde o amor pelas duas pátrias. “Trago dentro de mim o amor por Portugal, terra da minha origem, dos meus antepassados. Amo também o Brasil, país onde nasci, e que acolheu meus pais. No entanto, Portugal pulsa forte dentro das minhas veias. A força portuguesa, fruto de minha origem e criação, me fizeram vencer os obstáculos da vida. No espelho de minhas avós, tias e mãe, vejo que a mulher portuguesa é das mais fortes que conheço”, explica Ana.

Ana Lopes

Para a advogada Ana Lopes, que foi casada com um português de Constantim, distrito de Vila Real, e que é filha delusitanos da região de Armamar, o dia das mulheres é importante, pois representa reconhecimento, respeito, carinho e admiração.

“Sempre fomos usadas e abusadas por todos, porém, creio que não foi esse o motivo da criação desse dia. Mas o verdadeiro mote foi alimentar o comércio e nada mais, já que as mulheres continuam sendo, cada dia que passa, mais usadas, mal-tratadas e vítimas das mais absurdas e inacreditáveis violências”, critica a profissional de direito, que julga que “é indiferente ser homem ou mulher na cidade carioca por vários motivos, sendo certo que no Brasil, então, é pior, já que tudo depende da sua aparência corporal para que se trate um pouquinho melhor as pessoas, mas não deixando de ser só para os mesmos fins: usar e jogar fora”.

Em tom de revolta, Ana Lopes, porém, faz uma ressalva: “creio na humanidade e espero que um dia possamos nós, mulheres, sentirmos orgulho de comemorar nossa data de cabeça erguida. Devemos nos sentir realmente respeitadas, admiradas e reconhecidas por todos”, sublinha a advogada de 55 anos de idade.

Cristina Felix

Mais jovem, mas não menos contestadora, Cristina Felix, de 32 anos, admite que o dia da
mulher “significa libertação dos padrões impostos pelo gênero masculino em uma época específica”. Segundo ela, “é interessante esse dia para sempre lembrarmos daquelas mulheres que sofriam com a submissão aos seus respectivos homens, seja em casa ou no trabalho, e que tiveram coragem de mudar essa situação. Mas, infelizmente, ainda hoje vemos muitas mulheres sofrerem com maus-tratos e desvalorização”, reforça a enfermeira.

Com familiares de origem lisboeta e da Serra da Estrela, Cristina considera que “a mulher, no Rio, tem liberdade de expressão, trabalho, poder de ir e vir, dita moda, regras. No mundo todo é a mulher mais cantada e retratada, graças ao nosso saudoso Vinícius de Moraes”.

Sandra Pereira

Já Sandra Pereira, com familiares de região de Armamar, recorda que essa “é uma data que lembra a todos os homens que as mulheres são amigas, amantes, melhores amigas, conselheiras e fiéis companheiras”, mas com uma condição: “quando os homens merecem”.

Empresária do ramo da estética e beleza, aos 31 anos, Sandra tem em mente que o sexo feminino é “forte” e que as mulheres estão “sempre dispostas a ajudar, amar incondicionalmente” e que são “completas quando somos mães”, finaliza Sandra.

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