Câmara de Pinhel lamenta falta de “coragem” para aplicar quarentena a emigrantes

Mundo Lusíada
Com Lusa

O presidente da Câmara Municipal de Pinhel lamentou que Portugal não tenha tido a “coragem” de obrigar a uma quarentena os emigrantes e os cidadãos que chegam à região oriundos de outros pontos do país.

“Infelizmente, o país não teve a coragem e a determinação de tomar a medida de obrigatoriedade daqueles que vinham de fora para esta região, ou para o país. [As autoridades] não tiveram a coragem de o fazer, de obrigar as pessoas a ficar de quarentena, e o que está a acontecer no meu concelho, e no âmbito distrital, e também na zona de fronteira, é que todos os casos [de infetados com o coronavírus] são oriundos de pessoas que vieram do estrangeiro”, disse hoje Rui Ventura à agência Lusa.

Para o presidente da autarquia de Pinhel, no distrito da Guarda, neste processo “houve uma falta de coragem da tomada de decisão” e o país está “agora a sofrer as consequências”.

Na semana passada, o autarca de Pinhel escreveu ao Presidente da República a pedir ajuda para que fossem efetuadas, “junto do senhor primeiro-ministro e da senhora ministra da Saúde, todas as diligências tidas como adequadas para que seja ordenada, com caráter de urgência, a quarentena obrigatória a todos os que regressem a um concelho, provenientes do estrangeiro ou de outros pontos do país”.

Segundo ele, o apelo de nada valeu, uma vez que recebeu um telefonema de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o assunto e não lhe anunciou “decisão nenhuma, apenas o conforto, como sempre”. O autarca lamenta que o país não resolva um “problema grave” que tem pela frente.

“Estamos a caminhar para o abismo, estamos a ver o abismo, e não tomamos decisões, andamos envolvidos em burocracias. Esta é uma semana muito importante, ainda, para tomar esta decisão da obrigatoriedade. Não se toma. E, portanto, eu diria mesmo que é o segundo episódio de abandono do interior”, rematou.

O presidente do município de Pinhel apelou também aos emigrantes e aos residentes em outros pontos do país que, na Páscoa, não se dirijam para as terras de origem e, fazendo-o, que “fiquem em casa”.

“Se gostam da vossa terra, se gostam do vosso país, se gostam dos vossos pais, dos vossos familiares e amigos, não venham. Mas, se vierem, por favor, fiquem em casa. Porque, de facto, ficar em casa é a única forma que nós, hoje, conhecemos de controlar a propagação deste vírus”, solicitou.

Segundo o autarca, a semana da Páscoa é “muito complicada”, porque as pessoas “vão insistir” em se deslocar para as terras de onde são naturais.

No entanto, Rui Ventura diz que podem fazê-lo, desde que sejam “responsáveis”, respeitem “os que cá estão, respeitarem-se a eles próprios e permanecerem em casa”.

A Câmara Municipal de Pinhel tem estado a percorrer as aldeias com desdobráveis e a fazer a sensibilização de todas as pessoas que chegaram de fora do território para que “fiquem em casa”.

“Por favor não venham”

O presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, também apela aos emigrantes para que, “por favor”, não regressem agora ao país e nesta Páscoa “fiquem nas terras” que os “acolheram em segurança”.

“Este vírus infernal que nos assola leva-me agora a pedir-lhes um grande sacrifício, por favor não venham”, afirmou o autarca num vídeo que gravou e colocou na terça-feira à noite nas redes sociais, numa altura em que muitos emigrantes regressam à terra natal.

Rui Santos pediu para que, nesta Páscoa, os emigrantes optem por ficar “em segurança” nos países onde residem e trabalham.

“Vocês são filhas e filhos de Vila Real espalhados pelo mundo, são gente que adoramos receber de volta na nossa casa comum. Mas a vossa vinda poderia representar um perigo, principalmente para as nossas populações mais idosas, para os vossos próprios pais e avós”, afirmou.

Localizado entre o Douro e Trás-os-Montes, este é um concelho também envelhecido e de onde muitas pessoas partiram para países com a França, Suíça, Luxemburgo, Bélgica ou Reino Unido.

Dirigindo-se diretamente aos emigrantes, o presidente apontou que “alguns estão em zonas muito afetadas e a própria viagem é altamente desaconselhada”.

“Mais do que apelar a que as forças de segurança imponham seja o que for, quero apelar-vos a vós que tomem a atitude certa e permanecem nas vossas terras de acolhimento. Quando conseguirmos vencer esta guerra contra a covid-19 cá estaremos novamente, com alegria, a dar-vos o abraço que desejam o merecem”, afirmou.

E continuou: “desta vez não venham a Vila Real na Páscoa, se Deus quiser vamos voltar a ver-nos no próximo verão”. “Sei que preferiam estar aqui, sei que as minhas palavras não vos sossegam o coração, mas peço-vos que confiem em nós”, afirmou.

Em Vila Real, garantiu, todos estão “empenhados nesta guerra” contra a covid-19.

De acordo com os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), divulgados na terça-feira, em Vila Real contabilizam-se 121 pessoas infectadas com o novo coronavírus.

Só no Lar de Nossa Senhora das Dores, localizado no centro da cidade, foram detectados 88 utentes e funcionários com o novo coronavírus, em 99 testes realizados pelo INEM.

Após esta situação no lar, que acabou por ser evacuado, a autarquia está a criar um centro de acolhimento temporário no ex CIFOP e na residência de Codessais, edifícios cedidos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Este centro destina-se a, em caso de necessidade, instalar utentes de equipamentos sociais, lares de idosos, serviço domiciliário das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e famílias de acolhimento.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: