A comunidade lusa da Venezuela deve ser uma prioridade para o Governo, diz Secretário

Mundo Lusíada com Lusa

A comunidade lusa da Venezuela deve ser uma prioridade para o Governo português, declarou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, dirante visita oficial sublinhando que as desigualdades sociais refletem-se nos portugueses, mas que a solidariedade é visível.

“Se repararmos, estamos a falar de uma sociedade muito desigual e é natural que o país, sendo um país desigual, essa desigualdade também se reflita na comunidade portuguesa”, disse o SEC.

Paulo Cafôfo falava à imprensa, após visitar o Lar da Terceira Idade Padre Joaquim, onde anunciou que o Governo português tinha outorgado 30 mil euros para a atenção a anciãos naquela instituição luso-venezuelana.

“A minha visita à Venezuela tem sido muito abrangente. Tenho visitado colégios, associações, organizações não-governamentais e da sociedade civil, e tenho estado em contacto com empresários de muito sucesso que são um orgulho para o país pela sua capacidade empreendedora, mas também tenho estado com outros portugueses que infelizmente estão numa situação de fragilidade, que a vida foi até madrasta para eles e que precisam da nossa ajuda”, explicou.

Paulo Cafôfo sublinhou que “a comunidade portuguesa aqui também é reflexo da comunidade da sociedade venezuelana” e que a sua função, na visita à Venezuela “é mostrar a comunidade no seu total, com aquilo que tem de bom, de capacidade empreendedora e empresarial, mas também de solidariedade, porque a verdade é que precisamos também de solidariedade e ela efetivamente existe com os portugueses e lusodescendentes que têm uma maior fragilidade nas suas vidas”.

“Esta minha vinda aqui não foi para esconder nada, foi para valorizar a nossa comunidade, mostrando a capacidade empreendedora, mas também mostrando a solidariedade que existe. Esta visita permite conhecer as pessoas, olhá-las nos olhos, e ter a certeza de que a Venezuela tem de continuar a ser uma prioridade para o Governo português”, sublinhou o SEC.

Sobre o apoio de Portugal ao Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira, explicou que é “uma ajuda importante porque estamos a falar de algumas pessoas que não têm capacidade econômica para pagarem a mensalidade necessária”.

“Mas também o lar é um encontro com Portugal, porque estamos a falar de portugueses ou lusodescendentes que, numa altura de vida mais avançada, têm ali o amor e o carinho que necessitam e os cuidados e atenção que são essenciais para a qualidade que merecem, com a idade que têm”, disse.

Explicou ainda o apoio social e o associativismo, são uma “prioridade do Governo português no que diz respeito às nossas comunidades” e que Portugal está a “investir 170.000 euros no movimento associativo” luso-venezuelano.

Paulo Cafôfo iniciou na quinta-feira uma visita à Venezuela, enquadrada na iniciativa “Portugal no Mundo: Caminhos para a Valorização das Comunidades Portuguesas” e que tem como objetivo “reforçar laços” e aproximar os portugueses residentes no estrangeiro dos que vivem em Portugal.

Além do Lar da Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira, esteve também no Colégio San Agustín, em Caracas, que definiu como “um baluarte do ensino do português”.

“Nós estamos a crescer muito no ensino português na Venezuela (…) temos aqui 630 alunos que estão a aprender a língua (portuguesa)”, disse precisando que existe um acordo entre aquele colégio e o Instituto Camões.

Segundo Paulo Cafôfo, a Venezuela tem atualmente 7.500 alunos de português a nível nacional, um número que “vai crescer muito rapidamente” como uma garantia de que as novas gerações acabam por ter uma ligação a Portugal através da língua, mas do ponto de vista estratégico pelas ligações com o Brasil, o que permite que seja uma oportunidade profissional para os alunos locais.

No início da visita, Paulo Cafôfo disse que Portugal está a retomar a distribuição de medicamentos a portugueses carenciados na Venezuela, que foi afetada pela pandemia, tendo enviado 1,8 toneladas de fármacos desde que, em 2018, foi criada a rede local de assistência médica à comunidade.

“Temos aqui a funcionar na Venezuela uma rede médica que permite não só consultas gratuitas, mas exames de complemento e diagnóstico. Temos dado mais de duas mil consultas e foram canalizados para cá 1,8 toneladas de medicamentos”, disse o secretário de Estado.

“Os medicamentos vão continuar a chegar. Houve dificuldades que conhecemos, durante a pandemia, em termos de transporte, de deslocalização, de dificuldades de comunicações. Realmente houve um período de quebra, mas estamos novamente a retomar e este programa é para continuar”, respondeu.

A visita de Paulo Cafôfo à Venezuela termina nesta terça-feira, 17 de maio.

Lesados BES

Paulo Cafôfo, no Centro Português de Caracas, à margem de um encontro com membros da comunidade portuguesa local,  ouviu queixas dos luso-venezuelanos pela demora na solução dos processos de lesados do BES, que hoje precisam das suas poupanças para, entre outros assuntos, tratar de problemas de saúde.

Alguns destes lesados queixaram-se que os residentes em Portugal já estariam a receber parte das poupanças que tinham no BES, insistindo que para os emigrantes na Venezuela e na África do Sul não havia ainda nenhuma solução.

Segundo o SECP, o Governo português quer que os lesados do BES e do Banif na Venezuela e na África do Sul tenham um tratamento igual ao de quem reside em Portugal.

“O caso do BES, tal como o caso do Banif, que também é preciso dizê-lo, são situações dramáticas de pessoas que perderam muitas delas as suas poupanças, as poupanças de uma vida, e esta é uma situação a que, obviamente, o Governo português está atento e não pode haver um tratamento desigual”, disse.

Segundo Paulo Cafôfo, trata-se de “uma situação muito injusta, que, obviamente, merecerá toda a atenção face à complexidade também que existe de um processo que não é simples, bem pelo contrário, mas ao que obviamente o Governo português dará maior atenção”.

De visita à Venezuela, Paulo Cafôfo, reforçou ainda que a sua governação terá “a marca da proximidade”.

“É isto que estou aqui a fazer, algo importantíssimo que é olhos nos olhos das pessoas, ouvi-las e escutá-las. E aqui, há preocupações das comunidades que levo com toda a atenção e vou levar aos membros do Governo que têm as respetivas tutelas, seja a questão da Segurança Social, a questão do programa ‘Regressar’, seja a questão dos apoios”, disse.

O que é “fundamental”, sublinhou, “é que Portugal e o Governo português não esquecem os portugueses” que residem na Venezuela.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: