Fraternidade e a Vida no planeta

 

Desde a época do Concílio Vaticano II a Igreja convida seu povo a fazer reflexões sobre os vários aspectos da vivência em sociedade, pensando questões de gênero, analfabetismo, violência urbana e no campo, saúde, ecologia entre tantas outras coisas importantes mais na chamada Campanha da Fraternidade, ao longo da Quaresma. Este ano de 2011 a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresentou o novo tema para o período. Trata-se de “Fraternidade e a Vida no Planeta”.O nosso mundo, a casa comum que todos nós, seres humanos vivemos, passa infelizmente por sérias dificuldades. E nós, seus habitantes bípedes e racionais, somos profundamente responsáveis por tudo o que acontece e, portanto, precisamos mesmo refletir sobre. Aliás, mais que isso, precisamos mesmo é tomar atitudes urgentes.Cada vez mais a posse de bens materiais ganha importância na existência humana. Uma importância excessiva, que reflete-se em muito consumo e pouca consciência. Por isso, devido a essa absoluta falta de escrúpulos na hora de adquirir bens, fazendo-o de forma incessante, exaurimos o meio ambiente, cansamos o planeta pela grande exploração de seus recursos. E ele, então, reclama. Chove, cria furacões, eleva a temperatura como se estivesse com febre. Protesta.Certamente muitos ainda acham que essa questão ecológica é tremenda ‘conversa mole’. O mundo é grande o suficiente para suportar nossa algazarra neste balão azul solto no espaço. Mas, estão deveras equivocados. Ignoram por completo a realidade. Os dados sobre as estripulias que fazemos são assustadores.Tomando como exemplo o relatório do Worldwatch Institute, em 2008, foram vendidos no mundo 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares. O quanto de matéria prima não foi usado para fabricação desse total? Em 2006 os Estados Unidos sozinhos foram responsáveis por 32% de tudo que foi consumido no planeta. E eles representam apenas 5% de todos os habitantes da Terra. Assim, se a humanidade agisse como eles, o mundo comportaria só uma população de 1,4 bilhões de pessoas, representando, em outras palavras, 4,8 vezes menos do que a população atual, de 6,8 bilhões. É um absurdo. E dá para perceber, só por estes poucos itens, que além de excessivo o consumo é também desigual entre os povos. É um problema ético. De sérios valores culturais. Outro estudo, chamado “Estado do Mundo”, divulgado no Brasil pelo Instituto Akatu via Worldwatch, mostrou que em 2010 os 16% mais ricos do mundo são responsáveis por cerca de 78% do total do consumo mundial. Isto representa que os 84% restantes são responsáveis por apenas 22% do total do consumo que se observa hoje no planeta. Entre 1950 e 2005 a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes. Um relatório da Universidade de Princeton aponta que os 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (cerca de 7% da população mundial) são atualmente responsáveis por 50% das emissões globais de dióxido de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por meros 6%. E por aí vai.É uma loucura total. Não há equilíbrio natural que resista a essa ação que o modelo de produção capitalista instaurou há cerca de 250 anos e que permanentemente traga recursos para produção e consumo de maneira ampliada. O planeta é desrespeitado como um mero almoxarifado a ser saqueado e, ao mesmo tempo, um imenso lixão, porque recebe de volta o que ofereceu na forma de detrito, de poluição. Matas, oceanos, terra e ar estão sendo atingidos a cada segundo por essa prática predatória, devastadora e irresponsável. Egoísmo, gula, ostentação não podem ser transformados em virtudes. Menos shopping como busca da felicidade individual e mais meditação e amizade. Cuidar de olhar mais pelo outro. Urgentemente é preciso reformular nossa concepção de vida por outra mais justa e solidária com os irmãos e com a própria mãe Terra.Seja em casa, na rua, no trabalho, onde estiver e for todo ser humano tem obrigação de intervir a favor dessa missão quotidianamente. Independente de ser cristão, budista, muçulmano, judeu, panteísta, ateu ou seja lá que crença preferir. Estamos aqui de passagem neste mundo e devemos contribuir para algo chamado futuro, deixando a casa em ordem.

Prof. José de Almeida Amaral JúniorProfessor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.

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