Viagem: uma pausa em Monsaraz

Por Jean Carlos Vieira Santos

Toda viagem não é apenas movimento, tampouco um deslocar sem sentimentos diante de possibilidades geográficas que parecem pela vida toda, por haver infinitos lugares desiguais que os viajantes chamam de turísticos. É difícil escrever sobre viagens sem ser um sujeito de partidas e chegadas, sem as leituras das clássicas e contemporâneas obras; logo, é preciso partir todos os dias, atiçar o desejo do conhecimento e não fechar as portas e janelas da inquietação.

Assim, é possível se tornar turista, sempre perto e distante da rua onde mora, bem como ter um destino à sua espera, com caminhos de culturas, paisagens e pessoas. Engana-se quem afirma que ser viajante é fazer de tudo um pouco, pois contempla a vivência do lugar do outro na essência da superficialidade e ignora o residente. Ser viajante é a oportunidade de trazer consigo uma bagagem de novos conhecimentos e possibilidades como as leituras, antes impenetráveis pelo fato de não se deslocar. Entende-se que a viagem é um fecundo diálogo com o seu interior, ao falar de dentro para fora e romper com informalidades, desencantos e encantamentos.

Entre idas e vindas passei pela Vila de Monsaraz, lugar turístico do Concelho de Reguengos de Monsaraz, região do Alentejo, Portugal. Impossível descrever a emoção e o encantamento ao aportar na Vila, descer do ônibus e atravessar o portal de acesso ao centro histórico entre muralhas com seus restaurantes, cafés, pousadas e pequenas lojas, a igreja de Nossa Senhora da Lagoa, as casas brancas, o Castelo Medieval e a Casa da Inquisição – Centro Interativo da História Judaica. O tempo descansado combina com este turista vagaroso que, ao ser apresentado ao lugar, se esqueceu da partida e do retorno à Évora.

Sentei-me, fiz um hiato e, vislumbrado tirei fotos, caminhei, imaginei e guardei imagens das ruas Direita, de Santiago e da Guarda, dos becos de pedras que me levaram a taverna para um café, para um tempo de parênteses na caminhada. Uma conversa com o responsável pelo comércio me levou a entender a vida no destino, o charme da vila alentejana… deixei o café com uma informação: “o lugar está sempre à espera do visitante”.

Portugal é um país de mirantes e lugares para a pausa. Esse papel também cabe a Monsaraz que, com sua geomorfologia, não nutre o olhar do visitante apenas para a essência e o conteúdo entre muralhas, mas para o distante, o que está no horizonte, ao expor ao turista o lago de Alqueva, no rio Guadiana, a paisagem rural alentejana e sua vizinha ilustre: a Espanha.

Estar em Monsaraz foi uma viagem de aprendizado, vivência e experiência, em que se pretende retornar para aprofundar o conhecimento, um caminhar pela história, geologia, saberes e sabores em locais para a prosa e pausa. Tal conhecer é possível, permitido pelo guia de turismo e, principalmente, pelo morador contemporâneo que aceitou a presença do visitante na não totalidade do território.

 

Por Jean Carlos Vieira Santos

Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutorado em Turismo pela Universidade do Algarve (UALg/Portugal) e Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IGUFU/MG).

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