Salário do Presidente: Tocou o fundo do tecido social português

As infelizes e inoportunas palavras do Presidente Cavaco Silva em torno do seu salário, indubitavelmente, geraram uma autêntica reação social em cadeia, consequência natural do afastamento que mostraram do seu pensamento face à realidade que hoje tem lugar no seio do nosso tecido social.
Nunca duvidei, por um segundo que fosse, de que a presença de Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República conduziria, numa primeira fase, a um conflito insanável com o Governo do PS de José Sócrates, numa segunda fase, a um Governo de direita, só do PSD ou como o atual, e, numa terceira fase, à completa destruição da estrutura do Estado Social, que a Constituição da República consagrava, com a concomitante implantação de um sistema político de natureza neoliberal. Bom, temos hoje a prova à vista de todos.
Por ser esta a minha perceção, sempre eu combati o convite de Marcelo Rebelo de Sousa aos portugueses, no sentido de que a presença de um Presidente da República oriundo de uma faculdade de Economia seria deveras importante para o futuro do País desse tempo. Simplesmente, o que eu então vi e escrevi, disse-o há umas semanas atrás um colega de Marcelo, Paulo Otero, com esta síntese muito clara: o facto do Presidente da República ser um professor universitário de Economia e de Finanças, como agora se pode ver, não trouxe qualquer vantagem. A evidência!
Por tudo isto, não deixa de ser extremamente significativa a recolha de umas dezenas de milhares de assinaturas na petição ora a correr, e a entregar na Assembleia da República, pedindo a destituição do Presidente Cavaco Silva. Claro que tal petição, dos pontos de vista jurídico e formal, é plenamente inconsequente, mas ela encerra um importante valor simbólico, até por ser a primeira vez, na História da III República, que uma tal iniciativa tem lugar.
Por fim, as também simbólicas manifestações de repúdio, muito pequenas, sem dúvida, mas que se sabe representarem um sentimento muitíssimo mais geral e disseminado no seio da sociedade portuguesa. Vá-se por onde se for, ninguém ficou indiferente ao conteúdo e ao simbolismo daquelas infelizes palavras do Presidente Cavaco Silva. E não deixa de ser sintomático do que aqui escrevo este facto por todos presenciado: raros vieram a terreiro defendê-lo. Até os da sua área político-ideológica!
Termino com estas palavras: fartei-me de chamar a atenção para o erro gravíssimo de eleger Aníbal Cavaco Silva, ou qualquer outra personalidade da direita, para o alto e estratégico cargo de Presidente da República. Lamentavelmente, também aqui tive razão.

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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