Desnortes

OS MAIS ATENTOS ao que se está a passar na Guiné e ao seu redor, já deverão ter-se dado conta desta aparente, e autêntica, contradição: com os mais diversos golpes militares que tiveram lugar na Guiné, incluindo o que levou ao homicídio do Presidente Nino Vieira, nunca se operou uma qualquer especial mobilização, e muito menos a preocupação do Conselho de Segurança da ONU; desta vez, sem mortos, quase sem tiros, eis que a movimentação foi de uma amplitude completamente inesperada!

Além do mais, convém ter presente que se vive um tempo sem dinheiro, onde até se tem podido ouvir vozes que indicam dever ser tomada uma decisão sobre o papel a atribuir às Forças Armadas, assim como se o mesmo pudesse vir a ser diametralmente oposto do tradicional!

Posto isto, deixo ao leitor esta pergunta: porquê este completamente inesperado comportamento das nossas autoridades políticas? E deixo, por igual, um dado que é razoável: se costuma prestar atenção ao que se passa no País e no Mundo, e tem um mínimo de memória e de poder de conjetura, conseguirá facilmente explicar esta singularidade de agora.

MAS PORTUGAL VIVE UM TEMPO SURREAL, infelizmente também repleto de perigos, alguns nunca antes imaginados. Esse surrealismo foi há dias observado por via das palavras do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, com elevada probabilidade de estarem corretas, proferidas quase à porta do seu homólogo britânico.

Instado a pronunciar-se sobre a (suposta) ameaça de poder a UGT denunciar o acordo que subscreveuem plena Concertação Social– ainda tem este nome –, Pedro Passos Coelho foi direto e mui realista, salientando que, com elevada probabilidade, tal hipótese deveria estar condicionada à aproximação do 1º de Maio. Aqui está, pois, um ponto em que esta estimativa do Primeiro-Ministro coincide plenamente com a minha.

MAS ESTE SURREALISMO CONTINUA, desta vez com as recentes considerações de António José Seguro sobre o Primeiro-Ministro e a equipa que lidera: o Governo está a ficar cada vez mais isolado. Mais uma estimativa que merece a minha plena concordância, embora deva acompanhá-la desta pergunta: e então?

É simples a razão da pergunta, porque se prende com as mais recentes sondagens, indicando uma descida do PS de António José Seguro. E uma descida que não é assim tão pequena… Uma realidade mais que expectável, porque se percebe hoje bem que o PS, provavelmente com ou sem Seguro, será completamente incapaz de repor algo de parecido com o ideário que persisteem brandir. Temrazão, é verdade, mas nada faz para a materializar.

Pode defraudar-se as expectativas dos eleitores um dia, um ano, um mantado completo, até mesmo uma década, mas lá chegará o dia em que tudo acabará por ir por água abaixo. E quanta energia não será necessária para inverter o sentido da corrente de uma queda de água?…

POR FIM, O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL, de novo na berlinda, tal como a Maçonaria. O inverso, precisamente, do que se passa com a Opus Dei, sobre que nunca se fala, mau grado estar bem omnipresente e até mais representada que aquela…

Fez muitíssimo bem Paulo Saragoça da Matta, que se pôs de lado perante as mil e uma cabalas que nestes dias de destruição da Constituição de 1976 vêm pululando pelo seio da sociedade portuguesa. E é por isso estranho que tenham persistido nas suas candidaturas os outros dois juízes já publicamente conhecidos, José Conde Rodrigues e Maria de Fátima Mata Mouros, mas que não é a senhora que surge em certos noticiários: Conceição Oliveira, que teve em mãos, a dada altura, o caso de José Braga Gonçalves. Quem se não lembra da sua interessantíssima exposição, na RTP 2, feita a Fátima Campos Ferreira?…

Se há em Portugal quem tenha defendido o Tribunal Constitucional, fui eu. Fi-lo vezes sem conta. Constato, porém, já à beira dos sessenta e cinco anos, que uma instituição prestigiada, num ápice, pode ver-se caída em desgraça junto da opinião pública. Talvez me engane, mas creio hoje firmemente que o estertor da imagem coletiva do Tribunal Constitucional já chegou. É pena. Desnortes!

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