A Poética Musical Fadista no Bioma Cerrado

Por Jean Carlos Vieira Santos

Em diversos estudos realizados em Portugal, no Brasil e em outros países é citado que Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, mais conhecida como Amália Rodrigues, nasceu em Lisboa no dia 23 de julho de 1920 e faleceu na mesma cidade em 1999. A artista deu alma musical às letras e aos poemas escritos para o fado e, por isso, passou a ser admirada e permitiu consolidar esse gênero musical não somente abaixo da Linha do Equador, como também em um cenário internacional.

Assim, a internacionalização do fado se inicia pela voz de Amália Rodrigues em 1943, com uma apresentação na Embaixada Portuguesa de Madri, e no ano seguinte, com o primeiro show no Brasil. A genialidade dessa fadista traduziu o sentimento lusitano para o mundo, ao se apropriar da poesia camoniana e atravessar fronteiras de um gênero musical que se origina nas vielas lisboetas. Com isso, Amália se tornou um ícone do fado.

Também há outro momento emblemático da música referência de Portugal, ao ser elevada à categoria de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a 27 de novembro de 2011 em Bali, na Indonésia. Esse título, associado à voz de Amália Rodrigues, fez com que o fado se aportasse com mais autoridade em territórios comerciais do mundo, para as pessoas viajarem pelo íntimo de uma poética cultural e musical.

Vale salientar que a voz de Amália Rodrigues foi responsável pela propagação do referido gênero musical nos núcleos urbanos do Cerrado brasileiro e goiano, pois passou a ocupar um lugar de destaque em restaurantes de Goiânia, Caldas Novas e outras cidades. Não seria autêntico abordar o fado sem versar sobre os restaurantes portugueses, devido ao fato de os dois campos estarem estreitamente relacionados nessa paisagem do Brasil por meio dos comércios voltados à gastronomia lusitana, onde ocorrem as apresentações musicais desse gênero.

Atualmente, tais territórios gastronômicos compreendem as casas do fado do Cerrado, expressão da cultura portuguesa com decorações típicas e espaços voltados às músicas de Amália, Mariza, Ana Moura e de outros grandes nomes fadistas. Nessa viagem de descoberta contínua de um lugar aberto à música internacionalizada por Amália Rodrigues, acontecem os concertos dos principais nomes do gênero, sobretudo em teatros e casas de espetáculos de Brasília, no Distrito Federal.

Em 2020 e 2021, diversas comemorações têm ocorrido sobre o centenário da principal voz do fado, com destaque para as exposições, conferências, tertúlias e colóquios, eventos organizados principalmente pelo Museu do Fado, a Universidade Nova de Lisboa e a Fundação Casa Museu Amália Rodrigues. É com a consciência do pouco que se sabe sobre a obra e vida dessa artista que este texto é escrito para também homenageá-la em seu centenário, um espólio de história com a música determinante para o aspecto cognitivo-científico.

Pelas leituras de diferentes textos, em especial a tese de Vilma Fernanda Séves de Albuquerque Silvestre, compreende-se que fadista não é somente a pessoa que interpreta o fado, mas que por ele sente a sua envolvência, seus dramas e se encanta pela voz de Amália Rodrigues. Sobre isso, a utilização do silêncio se sobressai como uma fronteira intransponível entre o fadista e o público, no que tange ao espaço da interpretação, no sentido de facultar ao intérprete um ambiente dramático em que ele, ao apelar às suas capacidades criativas, reproduz também a vivência, a experiência e o sentir de quem já foi turista nas tascas em Lisboa.

É comum iniciar uma sessão de fados com a asserção: “Silêncio que se vai cantar o Fado!”. Diante dos estudos sobre a música lusitana e do ousado silêncio para escrever estas linhas em homenagem aos 100 anos de Amália Rodrigues, concorda-se que tal artista é a supremacia do fado, a voz internacional de Portugal e uma das mais brilhantes cantoras do século XX, responsável por sedimentar essa arte sonora no Cerrado goiano.

 

Por Jean Carlos Vieira Santos

Professor e Pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG/TECCER-PPGEO). Pós-doutor em Turismo pela Universidade do Algarve/Portugal e Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (MG/Brasil).

 

Bibliografia Consultada

SANTOS, J. C. V. Centenário de Amália Rodrigues. O Popular – Carta dos Leitores, Goiânia – GO, p. 1 – 1, 23 jul. 2020.

SILVESTRE, V. F. S. de A. O Fado e a Questão da Identidade. 2015. 316 f. Tese (Doutoramento) – Estudos Portugueses da Universidade Aberta de Portugal. Lisboa, 2015.

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