Incêndios “refletem irresponsabilidade de Bolsonaro”, dizem ONG brasileiras

Da Redação
Com Agencias

A coordenação do Observatório do Clima, coligação de cerca de 50 organizações não-governamentais (ONG) brasileiras em prol do ambiente, declarou que o “recorde de queimadas no país reflete a irresponsabilidade do Presidente Jair Bolsonaro”.

“O fogo reflete a irresponsabilidade do Presidente com o bioma (conjunto de ecossistemas) que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população da Amazônia e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso”, declarou o grupo em comunicado.

“As queimadas são apenas o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do Governo de Jair Bolsonaro e do seu ministro do Meio Ambiente, o ímprobo Ricardo Salles, que turbinou o aumento da taxa de desflorestação no último ano”, acrescentou a aliança de ONG.

As declarações do Observatório do Clima surgem horas depois de o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, ter dito que as ONG podem ser responsáveis pelos incêndios florestais que estão a ocorrer na região da Amazônia.

“O crime existe e nós temos de fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiros de ONG. Das transferências de fora, 40% iam para as ONG. Não tem mais. (…) De forma que esse pessoal está a sentir a falta do dinheiro”, disse Bolsonaro, à saída do Palácio da Alvorada, em Brasília.

O Presidente brasileiro adiantou que considerava estranho os incêndios deflagrarem em diversas áreas da Amazônia e, por isso, acredita que poderiam fazer parte de um alegado plano orquestrado para prejudicá-lo, embora não tenha apresentado qualquer prova para fundamentar as suas suspeitas.

“Então, pode estar a haver, não estou a afirmar, ação criminosa desses ‘ongueiros’ [pessoas que trabalham em ONG] para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o Governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, acrescentou o chefe de Estado.

Jair Bolsonaro voltou a afirmar que as ONG que atuam na proteção do ambiente no Brasil estão ao serviço de “interesses estrangeiros”.

O Observatório do Clima frisa que desde que assumiram os seus mandatos, Bolsonaro e Salles têm “desmontado as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização”.

Extinção de órgãos responsáveis por planos de controlo da desflorestação na Amazônia, cortes de verbas dedicadas à proteção ambiental, redução de ações de fiscalização e a suspensão do Fundo Amazônia foram alguns dos exemplos citados pelo grupo de ONG.

“A combinação de autoritarismo e fanatismo ideológico do Presidente e do seu ministro transformam em fumaça não apenas as árvores da Amazônia e a reputação do Brasil, mas também o bem-estar de uma população que o Governo federal deveria proteger e o nosso acesso a mercados internacionais e a investimentos”, conclui o Observatório do Clima, divulgou a Lusa.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com base em imagens de satélite, indicam que as queimadas no Brasil aumentaram 82% de janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2018.

Na segunda-feira, uma nuvem de fumaça produzida por queimadas no Paraguai, Bolívia e também na região amazônica dentro do território do Brasil transformou o dia em noite na cidade de São Paulo, onde o céu pareceu escurecer pouco depois das 15:00 locais.

Mil brigadistas

O ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, sobrevoou neste dia 21 algumas regiões de Mato Grosso para acompanhar o combate a queimadas no estado. Segundo o ministro, a maior parte dos focos de incêndio está localizada na área urbana. Salles destacou que, dos 10 mil hectares de área que foram queimados, cerca de 3 mil estão localizados na Chapada dos Guimarães.

O governo federal vai apoiar todos os estados que precisarem de reforços federais em função das queimadas. Mais de mil brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio ) estão atuando para conter as chamas em regiões críticas.

Salles destacou que o que ele verificou foi que a maior parte dos focos de incêndio é proposital, em áreas de concentração de lixo, o que é “muito ruim”. “A maior concentração de focos aqui na região está em perímetro urbano, (…) razão pela qual essa concentração de fumaça na cidade.”

Apenas na Chapada dos Guimarães, segundo o ministro, atuam 69 brigadistas do Ibama e mais de 20 membros do Corpo de Bombeiros do Estado de Mato Grosso. O fogo teria se proliferado muito rapidamente, em apenas um dia, em razão do calor, da baixa umidade e do vento forte, de acordo com o ministro.

Em entrevista à imprensa em Cuiabá, Salles destacou que o agronegócio brasileiro é um exemplo de sustentabilidade, utiliza as melhores práticas, mas nem por isso “está imune a riscos”. De acordo com ele, não houve redução de recursos para a contenção de incêndios florestais.

“Não há corte na destinação final de recursos de trabalho de incêndio, tanto que estamos com o mesmo número de brigadistas, trabalhando da mesma forma”, afirmou. “Agora é um clima que está mais seco, mais quente, com mais vento, e isso propicia uma propagação maior dos focos”, acrescentou.

O ministro esteve acompanhado do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes. Ricardo Salles deve visitar outros estados a partir da próxima semana para monitorar as queimadas e o desmatamento ilegal.

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