Portugal acompanha posição de secretário-geral da ONU sobre conflito entre Israel e Hamas

Nesta quarta, 25, Guterres manifestou-se “chocado com as interpretações erradas” das declarações que fez na terça-feira no Conselho de Segurança e negou ter justificado os atos de terror do Hamas.

[ Atualizado 15h ]

Mundo Lusíada com Lusa

Portugal “compreende e acompanha” a posição do secretário-geral das Nações Unidas sobre o conflito entre Israel e o Hamas, que motivou um pedido de demissão de António Guterres por Telavive, segundo o ministro português dos Negócios Estrangeiros.

“Compreendemos e acompanhamos inteiramente a posição de António Guterres, que foi inequívoco quando condenou o terrorismo do Hamas, que é absolutamente inaceitável. Foi absolutamente cristalino na análise que fez”, afirmou à Lusa João Gomes Cravinho, que lamentou esta polêmica entre o Governo de Israel e o secretário-geral da ONU.

Para o Governo português, “não há forma nenhuma de dizer que António Guterres está de alguma maneira a desculpabilizar o terrorismo”.

Tal, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa, “é um erro absoluto que não se pode deixar passar em branco”.

O embaixador israelita junto das Nações Unidas (ONU), Gilad Erdan, pediu na terça-feira ao secretário-geral da organização, António Guterres, que se demita “imediatamente” após este ter dito que os ataques do grupo islamita Hamas “não aconteceram do nada”.

“O secretário-geral da ONU, que demonstra compreensão pela campanha de assassínio em massa de crianças, mulheres e idosos, não está apto para liderar a ONU. Peço-lhe que renuncie imediatamente”, escreveu o diplomata pelo Twitter.

“Não há qualquer justificação ou sentido em falar com aqueles que demonstram compaixão pelas mais terríveis atrocidades cometidas contra os cidadãos de Israel e o povo judeu. Simplesmente não há palavras”, acrescentou.

Momentos antes, na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU dedicada à atual situação no Médio Oriente, Guterres condenou inequivocamente os “atos de terror” e “sem precedentes” de 07 de outubro perpetrados pelo grupo islamita Hamas em Israel, salientando que “nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberados de civis”.

Sobre o pedido de demissão feito por Telavive, o ministro português recusou “valorizar excessivamente”. “É um comentário emocional que não tem qualquer tipo de fundamentação”, considerou.

Neste dia 25, o primeiro-ministro português enviou uma mensagem de solidariedade ao secretário-geral das Nações Unidas, considerando que, perante a “tragédia humanitária”, tem sido “exemplar” na afirmação humanista do Direito Internacional.

Também o presidente Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que as sucessivas declarações de António Guterres, desde o ataque do Hamas em Israel foram conformes à Carta das Nações Unidas.

Numa nota publicada pela Presidência da República, o chefe de Estado afirma que “sempre interpretou as sucessivas declarações do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, proferidas desde o injustificável ataque do Hamas em Israel, como sendo conformes à salvaguarda dos valores e princípios decorrentes da Carta das Nações Unidas”.

Marcelo Rebelo de Sousa “reitera esse seu entendimento quanto às declarações de ontem [terça-feira] e de hoje” do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Vistos ONU

Israel anunciou nesta quarta-feira que vai recusar vistos a representantes das Nações Unidas após as declarações do secretário-geral da ONU, ao afirmar que o ataque do Hamas “não vem do nada, mas de 56 anos de ocupação”.

O anúncio foi feito pelo embaixador israelita na ONU, Guilad Erdan, que acrescentou que Israel já tinha começado a adotar esta política e que tinha recusado um visto ao subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.

“É altura de dar uma lição aos altos funcionários da ONU”, disse Erdan hoje numa entrevista à rádio do exército israelita.

A indignação do Governo israelita foi manifestada na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU dedicada ao conflito em curso no Médio Oriente, quando Guterres condenou inequivocamente os “atos de terror” e “sem precedentes” de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, mas admitiu ser “importante reconhecer” que os ataques do grupo islamita “não aconteceram do nada”, frisando que o povo palestiniano “foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante”.

“Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer”, prosseguiu Guterres, na mesma intervenção.

O líder da ONU sublinhou, porém, que “as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas”, frisando ainda que “esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestiniano”.

Para Guterres, nenhuma parte em um conflito armado está acima da lei humanitária internacional. O chefe da ONU destacou que é vital “manter princípios claros”, começando pelo respeito e proteção da população civil.

António Guterres solicitou que as partes cumpram e respeitem suas obrigações de acordo com o direito internacional humanitário, incluindo a proteção de hospitais e a inviolabilidade das instalações da ONU, que abrigam mais de 600 mil palestinos.

Chocado

Já nesta quarta, dia 25, Guterres manifestou-se “chocado com as interpretações erradas” das declarações que fez na terça-feira no Conselho de Segurança e negou ter justificado os atos de terror do Hamas.

“Isto é falso. Foi o oposto”, garantiu o ex-primeiro-ministro português.

“No início da minha intervenção de ontem (terça-feira), afirmei claramente – e passo a citar: ‘Condenei inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro cometidos pelo Hamas em Israel. Nada pode justificar o assassinato, o ataque e o rapto deliberados de civis – ou o lançamento de foguetes contra alvos civis'”, disse, repetindo parte do discurso que fez anteriormente no Conselho.

Guterres admitiu que falou das queixas do povo palestiniano, mas salientou que ao fazê-lo, também afirmou: “’Mas as queixas do povo palestiniano não podem justificar os terríveis ataques do Hamas'”.

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