Na Ucrânia, presidente de Portugal é primeiro chefe de Estado a entrar na trincheira

Mundo Lusíada com Lusa

Durante visita a Ucrânia, o Presidente português protagonizou nesta quarta-feira um momento insólito ao entrar numa trincheira que foi improvisada em Moshchun, na Ucrânia, durante a ocupação russa, tornando-se no “primeiro” chefe de Estado a fazê-lo.

“Isto nunca tinha acontecido! É o primeiro que faz isto”, comentou, admirada, Lesya Arkadievna, a vice-governadora para a região de Kiev, ao ver Marcelo Rebelo de Sousa entrar para uma trincheira.

Moshchun, uma localidade nos arredores da capital ucraniana, foi dizimada durante a ocupação russa e, ao contrário de, por exemplo, Bucha, a recuperação pouco avançou. Quase nada ficou de pé enquanto as tropas russas ali estiveram.

Marcelo Rebelo de Sousa não foi o primeiro líder a visitar o local, mas foi o primeiro a estar onde a população e militares estiveram a combater os ocupantes.

O Presidente não hesitou, ainda escorregou na areia, e acabou por entrar na trincheira, por onde teve de caminhar quase agachado.

“Já vim cá com vários presidentes e ministros e nenhum fez isto”, referiu Lesya Arkadievna. Populares e elementos da administração regional observaram com alguma surpresa o momento.

“Faz lembrar as trincheiras da primeira Grande Guerra”, comentou o Presidente da República assim que saiu da trincheira, ainda com terra no blazer.

A trincheira manteve-se como recordação da luta contra a ocupação.

Uma curta conversa com populares deu uma certeza ao chefe de Estado português: [se voltasse a acontecer até as] “crianças já estão preparadas e sabem como se defender.”

Contudo, lamentou que as crianças tenham de viver com esse conhecimento e a memória da devastação.

Apoio de Portugal

O Presidente português alertou, na cidade ucraniana de Bucha, que “uma justiça tardia não é justiça” e prometeu o apoio de Portugal nas investigações do crime de agressão.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Igreja de Santo André, em Bucha, localidade nos arredores de Kiev que nos primeiros dias da invasão foi ocupada por tropas russas.

Um mês depois dessa ocupação, as Forças Armadas ucranianas reconquistaram Bucha e destaparam os horrores que ocupação russa deixou.

No adro desta igreja foi encontrada uma vala comum com 190 corpos.

“Justiça tardia não é justiça”, advogou Marcelo Rebelo de Sousa, depois de uma cerimônia para homenagear as vítimas e de uma visita à exposição no interior da igreja que documentou a descoberta dos corpos, acompanhado pelo procurador-geral da Ucrânia, Andriy Kostin.

A Ucrânia está a equacionar a criação de um tribunal para julgar o crime de agressão. O processo “envolver muitos países e Portugal tem estado envolvido”, acrescentou o chefe de Estado português.

“Não há precedentes com sucesso rápido”, considerou o Presidente da República, opinando que Portugal pode ajudar a fazer com que seja realidade.

Na opinião do Presidente, o que aconteceu em Bucha “foi muito forte, muito chocante, muito desumano”, adiantando: “aquele choque inicial passado este tempo todo não perdeu força”.

“Podemos fazer isso, podemos apoiar nas investigações”, respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros perante o apelo do procurador-geral ucraniano.

Kiev

Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa (R), deposita flores na cerimônia em memória dos defensores da Ucrânia no Muro da Memória, em Kiev, Ucrânia, 23 de agosto de 2023. ANTONIO PEDRO SANTOS/LUSA

Marcelo vai encontrar-se com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na quinta-feira, e com o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal, além de participar na cimeira sobre a Crimeia.

“Amanhã [quinta-feira] será o dia de participar ativamente na celebração do Dia da Independência, ter encontros com o Presidente Zelensky, [e] com o primeiro-ministro”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, minutos depois de desembarcar na estação ferroviária de Kyiv-Pasazhyrskyi, na capital ucraniana, para uma visita de dois dias.

Neste dia 23, o chefe de Estado português participa na cimeira organizada pela Ucrânia sobre a recuperação da Crimeia e tem prevista “uma ida a uma instituição que se dedica ao problema gravíssimo das crianças ucranianas” separadas das famílias pela guerra ou que são órfãs.

Marcelo Rebelo de Sousa viajou com o Presidente da Lituânia, Gitanas Nausèda, que também participa na cimeira e nas comemorações do Dia da Independência.

“Nós nunca admitimos que a Crimeia deixasse de ser parte do território ucraniano. É uma posição da política externa portuguesa e isso fica claro uma vez mais. Haverá muitos que participarão por via digital, mas entendeu-se que Portugal devia participar por via presencial”, referiu o Presidente da República.

Sobre a possibilidade de a Marinha Portuguesa auxiliar a Ucrânia na desminagem do Mar Negro e do Mar de Azov, admitida na terça-feira pelo ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, em entrevista à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Porque não? Estamos a fazer já tanta coisa, no treino da Força Aérea, na preparação de novos meios aéreos que possam ser cedidos […], no equipamento, no treino dos Leopard. Porque não também a Marinha?”

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