Embaixador do Brasil em Cabo Verde diz que visita de Bolsonaro ainda está “em cima da mesa”

Da Redação Com Lusa

O novo embaixador do Brasil em Cabo Verde, Colbert Soares Pinto, garantiu à Lusa que a visita do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ao arquipélago, anunciada anteriormente, continua em cima da mesa, dependendo apenas do evoluir da pandemia de covid-19.

“Depende do contexto da pandemia e de sua evolução nos próximos meses. Podemos afirmar que permanece o desejo do Presidente brasileiro em visitar Cabo Verde”, afirmou o embaixador, questionado sobre a intenção anunciada em 2019.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, anunciou em dezembro de 2019, na Praia, a intenção do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de visitar Cabo Verde em 2020, no âmbito da nova visão do relacionamento do país da América do Sul com África.

“Certamente seria um sinal muito claro dessa nossa prioridade, dessa nossa visão de aproximação”, insistiu Ernesto Araújo, descrevendo como “excelentes” as relações entre os dois países.

“Cabo Verde é o país mais próximo do Brasil geograficamente e também, certamente, um dos mais próximos na nossa visão do mundo e nessa nova etapa da nossa política externa queremos um lugar muito especial para África”, destacou o ministro brasileiro.

Acrescentou que nessa nova estratégia do Brasil para África, Cabo Verde “é um parceiro essencial”.

Ainda segundo o embaixador Colbert Soares Pinto, o Brasil tem ainda interesse em participar “na garantia da segurança das rotas de navegação do Atlântico Sul”, em conjunto com Cabo Verde.

“Com base nisso, os dois países têm cooperado na área de defesa e segurança, inclusive no objetivo de fortalecer a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul [Zopacas]. Além disso, a posição estratégica de Cabo Verde no globo terrestre torna-o num importante parceiro no contexto ampliado da defesa, onde temos empreendido esforços com vista ao combate coordenado a ilícitos internacionais e ao terrorismo”, afirmou o diplomata.

Sobre este assunto, o chefe da diplomacia do Brasil afirmou em 09 de dezembro de 2019, aquando da visita à Praia, que o Governo brasileiro pretende “reavivar” a Zopacas, criada em 1986 por resolução das Nações Unidas, envolvendo 24 países africanos e sul-americanos.

Ambos os Estados são membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Zopacas, esta última criada para tratar questões relacionadas com a segurança e economia no Atlântico sul.

Ernesto Araújo recordou então que o Brasil já tem uma presença “bastante importante” na cooperação naval com Cabo Verde, mas admitiu que a participação conjunta na Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, cuja sede é em Brasília, tem estado “um pouco dormente nos últimos anos”.

“Queremos reavivá-la, como o núcleo em que se possa discutir formas de combater a criminalidade neste corredor do Atlântico”, disse o chefe da diplomacia brasileira.

Além dos dois países de língua portuguesa, são signatários da Zopacas também Angola, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial (todos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Integram igualmente a organização a África do Sul, Benin, Camarões, Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Libéria, Namíbia, Nigéria, República do Congo, República Democrática do Congo, Senegal, Serra Leoa e Togo (África), bem como a Argentina e o Uruguai (América do Sul).

Segundo a diplomacia do Brasil, a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul foi criada por resolução das Nações Unidas em 1986, com o objetivo de evitar a introdução de armamentos nucleares e outros de destruição em massa na região, bem como, por meio do multilateralismo, aproveitar todo o potencial socioeconômico do corredor atlântico.

Parcerias
Colbert Soares Pinto afirmou ainda que os dois países têm “potencial” para “parcerias de sucesso”, assumindo o objetivo de alargar o relacionamento bilateral.

“Ao longo de mais de quatro décadas de interação frequente e trabalho conjunto, nossas sociedades foram descobrindo e explorando, tanto na esfera oficial quanto na informal, áreas de cooperação e convívio que têm constituído terreno fértil para o fortalecimento dos fraternos laços de amizade e respeito que nos unem”, apontou Colbert Soares Pinto.

Segundo o embaixador, o Brasil “reconhece e aplaude o bem-sucedido empenho de Cabo Verde para a construção de instituições verdadeiramente democráticas”, com base na “estabilidade política e a crescente prosperidade socioeconômica”.

“Fatores que distinguem o país não apenas na esfera continental africana, como também no concerto ampliado das nações. O compartilhamento de valores democráticos, assim como as afinidades histórico-culturais, são naturais facilitadores em nossos processos de diálogo, o que se nota pela confluência de posições em torno a entendimentos e projetos”, reconheceu.

Destacou que o Brasil vê “como importantes todos os ângulos da relação com Cabo Verde”, mas sublinhou o “êxito” das parcerias já realizadas em áreas de cooperação técnica, como o projeto Banco de Leite Humano, com a primeira fase já concluída na Praia e o previsto alargamento para a ilha de São Vicente, da cooperação na defesa, com formação de militares cabo-verdianos e missões conjuntas, ou da cooperação educacional.

“Nos últimos 20 anos, mais de 3.000 alunos cabo-verdianos realizaram estudos em universidades brasileiras”, apontou o embaixador.

“Há potencial para ainda mais parcerias de sucesso”, reconheceu.

Atualmente, segundo os dados avançados à Lusa pelo embaixador, estima-se que 250 a 300 brasileiros vivam em Cabo Verde, distribuídos pelas nove ilhas habitadas do arquipélago, sendo que “mais da metade” estão “em missão de caráter religioso”.

“O que caracteriza muitas vezes ânimo de permanência de médio prazo”, admitiu.

A “outra metade” está em Cabo Verde “basicamente de vínculos originados no Brasil, como de uniões matrimoniais com estudantes cabo-verdianos do programa de cooperação educacional”.

“Há ainda pequena parcela de empreendedores individuais, alguns deles também vinculados, de alguma forma, a unidades familiares originadas no Brasil”, explicou.

Num plano de reforço das relações bilaterais, Colbert Soares Pinto reconheceu a importância da decisão das autoridades cabo-verdianas de isentarem de visto prévio de entrada em Cabo Verde para os turistas brasileiros. A decisão foi tomada no final de 2019, mas a pandemia de covid-19, que em março seguinte levou à suspensão dos voos internacionais por Cabo Verde, acabou por não ter ainda resultados.

“A medida, muito relevante para aumentar o número de potenciais visitantes do Brasil a Cabo Verde, ainda não obteve resultado prático, em decorrência das medidas restritivas às viagens internacionais no contexto do controle da pandemia de covid-19. Esperamos que, quando as ligações aéreas rotineiras forem restabelecidas, a supressão de vistos possa ter o efeito esperado”, apontou.

Colbert Soares Pinto ingressou no serviço diplomático brasileiro em 1990 e já trabalhou, no exterior, nas Embaixadas do Brasil em Roma (Itália) e Caracas (Venezuela), bem como no Consulado em Montreal (Canadá).

Foi ainda cônsul-geral em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) e antes de assumir o cargo em Cabo Verde era embaixador em Lusaca (Zâmbia).

Nas funções em Cabo Verde assume o objetivo de “expandir o relacionamento bilateral e a agenda de cooperação”, mostrando-se satisfeito com o que encontrou no arquipélago.

“Nesses dois meses, tive uma perceção inicial de um excelente clima de trabalho, em que prevalece a boa disposição dos interlocutores com quem tenho mantido contactos”, concluiu.

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