Santander espera que não haja “surpresas negativas” com o Novo Banco

Da Redação
Com Lusa

O presidente do Santander em Portugal, Vieira Monteiro, disse  esperar que “não haja surpresas negativas” no Fundo de Resolução após a injeção de capital no Novo Banco, considerando ser “preciso dar o benefício da dúvida” à instituição apoiada.

“Vamos ver o que se vai passar, mas espero que não haja surpresas negativas”, afirmou o responsável, falando em conferência de imprensa da apresentação dos resultados do banco referentes ao primeiro semestre, em Lisboa.

De acordo com Vieira Monteiro, “é preciso dar o benefício da dúvida relativamente a tudo o que se está a passar” no Novo Banco.

“As pessoas estão a fazer um esforço grande no sentido de resolver os problemas do Novo Banco e com certeza vão usar todos os meios à disposição para atingir esses resultados”, argumentou.

Em 2017, o Fundo de Resolução agravou o déficit de recursos próprios para 5.104 milhões de euros, mais 344 milhões de euros do que no ano anterior (4.760 milhões de euros), segundo dados divulgados no início de julho.

Entre as componentes que determinaram o agravamento do déficit de recursos próprios do Fundo de Resolução estão “os efeitos ainda decorrentes da aplicação de medidas de resolução, cujo valor global líquido ascendeu a -459 milhões de euros”, refere o Relatório e Contas 2017, divulgado naquela altura.

Este valor resulta do “efeito conjugado da provisão de 792 milhões de euros relacionada com a utilização do mecanismo de capitalização contingente celebrado com o Novo Banco e da valorização, em 333 milhões de euros, da participação emergente após a conclusão da operação de venda desse banco”.

Recorde-se que, este ano, o Fundo de Resolução injetou 792 milhões de euros no Novo Banco, no âmbito do mecanismo de capitalização contingente, para fazer face a perdas muito significativas registadas no banco em 2017.

Na conferência de imprensa de hoje, Vieira Monteiro foi também questionado sobre a exclusão de ações, por parte do grupo Santander, em mercados secundários de ações, entre os quais a Euronext de Lisboa.

Sobre esta questão, o responsável justificou que “esse pedido resultou da falta de liquidez” nesses mercados.

Na Euronext de Lisboa, estão em causa 30 mil acionistas.

Porém, “ainda não temos data marcada” para a saída, apontou Vieira Monteiro.

O Santander vai agora “receber as ordens, transmitir as ordens para Espanha e, a título gratuito, sem encargo para as pessoas, as operações são feitas na bolsa e nós aqui acreditamos essas importâncias aos clientes”, explicou o responsável, notando que o que muda “é que o mercado deixa de funcionar localmente”.

Em causa estão as bolsas de valores da Argentina, Brasil, Lisboa e Itália. O banco vai permitir que estes acionistas possam vender as participações entre agosto e janeiro do próximo ano.

Habitação

O Santander em Portugal tem 1.300 créditos à habitação nos quais terá de deduzir juros negativos devido à nova legislação, segundo p presidente, “a lei vai beneficiar os melhores clientes do banco”.

Para o responsável, “a lei, nos termos em que está, vai beneficiar sobretudo os melhores clientes do banco, os que têm as taxas mais baixas”.

Notando que “a lei sofreu muitas alterações que vieram melhorar muito a situação”, Vieira Monteiro considerou também que “o resultado que se pretendia obter com a lei não foi obtido”.

Porém, o presidente do Santander escusou-se a apontar como é que este processo será feito, se através da dedução dos juros ao capital em dívida ou se através da criação de um crédito de juros a favor dos clientes.

“A escolha virá no seu devido momento, [mas] o número de contratos que estamos a falar é tão pequeno que não é uma coisa muito importante”, defendeu.

Um diploma publicado em meados de julho em Diário da República estipulou que os bancos serão obrigados a refletir nos contratos do crédito à habitação os valores negativos das Euribor, tendo tido até 30 de julho para rever o indexante de cálculo da taxa de juro dos créditos.

O diploma esclareceu que “o valor negativo apurado deve ser deduzido ao capital em dívida na prestação vincenda”, e especificou que as alterações publicadas se aplicam às prestações vincendas dos contratos de crédito em curso à data da sua entrada em vigor.

Já questionado na ocasião sobre as recomendações do Banco de Portugal (BdP) relativas à concessão de crédito, nomeadamente à habitação, Vieira Monteiro assegurou que “grande parte das recomendações […] já estavam a ser aplicadas pelo banco na concessão de crédito”.

“Sempre fomos muito conservadores na concessão de crédito”, assinalou. Por isso, Vieira Monteiro recusou também que tais regras tenham impacto nas contas do Santander.

Em 01 de julho, entraram em vigor as novas regras do BdP que criam restrições à concessão de novos créditos à habitação e ao consumo, estabelecendo que as famílias apenas podem gastar metade do seu rendimento com empréstimos bancários.

As novas regras foram anunciadas em 01 de fevereiro, tendo o supervisor e regulador bancário justificado que o objetivo é os bancos não assumirem riscos excessivos nos novos créditos e que os clientes tenham capacidade de pagar as dívidas, quando há receios de uma ‘bolha’ nos preços do imobiliário.

Na ocasião, Vieira Monteiro aludiu também à situação do setor imobiliário, nomeadamente em Lisboa, admitindo um “crescimento quer dos preços, quer do próprio investimento na área”.

Contudo, “penso que não possamos dizer que esses crescimentos são totalmente anormais”, ressalvou.

A seu ver, “é cedo demais” para se falar de “uma situação de grande aquecimento do crescimento” que leve a “uma situação de bolha imobiliária”.

“O crescimento, até há algum tempo, era só no centro das cidades, e não se sentia nas áreas suburbanas, mas agora já se sente esse crescimento”, adiantou o responsável, falando ainda em “novos atores” neste mercado.

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