Relatório sobre expediente, tempo laboral e novos regimes cita Brasil e Portugal

Da Redação com ONUNews

Uma análise de Horas Trabalhadas e Equilíbrio de Trabalho pelo Mundo destaca, pela primeira vez, o impacto da pandemia no meio laboral e a conciliação entre vida profissional e pessoal.

A Organização Internacional do Trabalho, OIT, apresentou a publicação na última sexta-feira, em Genebra, enfatizando como novos regimes podem favorecer economias, empresas e trabalhadores. Os benefícios incluem uma maior produtividade e o melhor equilíbrio entre o trabalho e vida privada.

O estudo ressalta que uma parte substancial da força global trabalha muito acima ou abaixo do padrão laboral de oito horas diárias, ou da semana com 40 horas.

Falando à ONU News, de Brasília, o diretor da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro, disse que mais de um terço dos trabalhadores no mundo atua acima de 48 horas semanais, um excesso que pode gerar problemas.

“Para as empresas, um conflito entre família e trabalho, por parte dos trabalhadores, pode trazer impactos muito negativos sobre os níveis de produtividade. Traz maior absentismo e problemas de gestão da equipe. Para os trabalhadores, maiores desequilíbrios entre a vida laboral e familiar podem levar a sérios riscos, em especial no que tange ao bem-estar, saúde mental e emocional.”

Ao detalhar a série de efeitos da sobrecarga laboral, o documento confirma que a Covid-19 evidenciou o cenário. Apesar do controle da crise, Vinícius Pinheiro chama a atenção para o que considera pandemia não-declarada: a da saúde mental.

“São problemas de ansiedade, pânico, de burnout, uma as principais doenças do cérebro, a exaustão emocional, o esgotamento de energia emocional, o aumento do distanciamento social do trabalho, o sentimento negativo em relação ao trabalho e redução de eficácia profissional. Depressão, com alteração de peso, sono, culpa excessiva, alteração do sono, dificuldade de concentração e aumento de consumo de sustâncias, incluindo o consumo de estimulantes e álcool.”

Vida profissional e pessoal
O relatório, também conduzido em países lusófonos, detalha situações de Portugal e Brasil. Vinicius Pinheiro cita ações em andamento em contexto brasileiro para abordar os efeitos do trabalho excessivo.

“Aqui no Brasil, nesse contexto, promovemos o janeiro branco, período em que se dá ênfase aos problemas da saúde mental e emocional, e em especial os amplificados pela pandemia. O relatório trata esse tema: o impacto que o melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal pode ter tanto para empresas quanto para as pessoas.”

Países devem aproveitar experiências que desenvolveram com o tempo de trabalho, a redução de horas laborais e flexibilidade.

Pinheiro disse que grande parte delas não teve espaço porque suas tarefas, na maioria em meio informal, não podiam ser feitas de casa. O resultado foi o aumento do desemprego.

“Houve uma queda bastante abrupta do número de horas trabalhadas. No Brasil, eram mais ou menos 39,5 por semana, durante a fase pré-pandemia. Isso caiu para quase 30 horas por semana. Isso num dos períodos mais difíceis da pandeia. Isso significou, é claro, um impacto sobre a renda, a riqueza. Mas a partir do momento em que a pandemia passa a estar sob controle, passa à fase de vacinação, nós voltamos aos níveis anteriores. Mas com a possibilidade de, em algumas circunstâncias, realizar o trabalho remoto. Mas é preciso deixar claro que o trabalho remoto, hoje, se restringe a algumas categorias.”

Vinícius Pinheiro apresentou o cenário global e revelou que o Brasil está no meio entre economias com maiores e menores horas trabalhadas.

“Nos países mais desenvolvidos, como os escandinavos, chegam a 35 horas de trabalho por semana, devido à alta produtividade. São países mais ricos e mais produtivos e que se dão ao luxo de ter uma média de horas trabalhadas menores. China e Índia, por temas culturais também, têm um número de horas mais trabalhadas. São 49 horas, 48,8, por semana, enquanto para a Ocde são 37,5. O Brasil estaria em torno de 39,5.”

No mapa de setores em que mais se trabalha pelo mundo lidera o comércio, com 49,1 horas por semana. Os transporte e comunicações somam, em média, 48,8 horas. O campo da indústria e manufatura tem 47,6 horas semanais de trabalho.

Informalidade e fraca remuneração
O relatório destaca haver um quinto de trabalhadores em tempo parcial ou em regimes precários. A informalidade dita a fraca remuneração e gera instabilidade de renda associada no setor mais propenso a ter pessoas atuando em variações do padrão.

A OIT alerta que arranjos flexíveis visando uma melhor vida familiar, podem ser acompanhados de custos, incluindo maiores desequilíbrios de gênero e riscos à saúde.

Após o início da pandemia, empregadores brasileiros tiveram mais 0,3% de probabilidade de manter empregos com cada hora adicional de trabalho por semana. Para os autônomos o acréscimo foi de 0,5%. Na realidade de Portugal as porcentagens foram de 0,4 e 0,2%.

Em Portugal, houve uma queda de 21,4% de empregos na sequência do Covid-19 em 2020, quando comparado ao primeiro trimestre desse ano. Na região europeia, o país esteve atrás de Espanha e na frente da França nesse quesito

Tempo de trabalho e flexibilidade
Já a redução de horas reais de trabalho por semana em Portugal foi de cerca de 90 minutos por trabalhador.

A OIT considera as leis e regulamentos sobre o horário laboral diário e períodos de descanso obrigatório como “conquistas que contribuem para a saúde e o bem-estar a longo prazo de uma sociedade e não devem ser colocados em risco.”

Mais horas de trabalho estão associadas à menor produtividade da unidade laboral enquanto o inverso é verdadeiro.

A agência fez um apelo aos países para que aproveitem as experiências que desenvolveram com o tempo de trabalho, a redução e a flexibilidade durante a crise para promover regimes laborais inclusivos curtos com os subsídios mais elevados possíveis.

Efeitos de futuras crises econômicas
Nessa realidade, os esforços devem ser feitos não só para manter o emprego, mas também sustentar o poder de compra e criar a possibilidade de amortecer os efeitos das crises econômicas.

O relatório adverte que deve haver decisões em termos de políticas públicas para promover reduções nas horas de trabalho em muitos países, associadas a um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal e maior produtividade.

O documento ressalta que o teletrabalho ajuda a manter o emprego e cria novas possibilidades para a autonomia dos trabalhadores.

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