Mario Centeno espera arrefecimento dos preços das casas em Portugal

Mundo Lusíada com Lusa

 

O governador do Banco de Portugal disse neste dia 22 esperar um arrefecimento dos preços das habitações em Portugal e do número de vendas, mas sem consequências para a estabilidade do setor financeiro.

“O que é esperado face ao impacto da política monetária é um arrefecimento, uma desaceleração do crescimento do preço das habitações, claramente uma redução do número de transações”, disse Mário Centeno, na apresentação do Boletim Económico de março, em Lisboa.

Segundo Centeno, os dois indicadores têm evoluído até momento de forma compatível com a estabilidade do setor da banca, existindo mitigantes que permitem perspetivar que assim continue.

No Boletim Económico, hoje divulgado, o Banco de Portugal (BdP) considera que o ciclo restritivo de política monetária iniciado pelo Banco Central Europeu (BCE) em julho de 2022 terá contribuído para a recente redução das transações de habitações em Portugal, e em menor escala, “para o comportamento dos preços (que não se têm reduzido, mas desacelerado)”.

O regulador bancário assinala que também se tem verificado uma menor reação das transações de habitações novas.

O BCE subiu dez vezes desde meados de 2022 as taxas de juro, colocando-as no nível mais elevado de sempre, como forma de tentar reduzir a taxa de inflação, que disparou em 2022, e secar liquidez na economia.

Quando o BCE altera as taxas de juro diretoras, tal reflete-se no conjunto da economia, tendo impacto por exemplo nos empréstimos bancários, nos empréstimos a nível do mercado, no crédito à habitação, nas taxas de juro dos depósitos bancários ou em outros instrumentos de investimento.

Contudo, desde outubro de 2023, que a instituição presidida por Christine Lagarde mantém as taxas de juro em 4,5% – o nível mais elevado desde 2001 -, a facilidade de crédito (que empresta aos bancos durante a noite) em 4,75% e a facilidade de depósito (que remunera as reservas excedentárias durante a noite) em 4%.

Compras

As compras de casa por residentes em Portugal recuaram 19,8% em 2023 face a 2022, para 126.108 unidades, representando 92,4% do número total de transações, o peso mais baixo da série iniciada em 2019, segundo o INE.

De acordo com os dados avançados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em valor, as aquisições de compradores com domicílio fiscal no território nacional representaram 24.400 milhões de euros do total de 28.000 milhões de euros dos alojamentos transacionados em 2023, o que representa um peso relativo de 87,3%, também o mais baixo da série iniciada em 2019 e uma redução de 1,3 pontos percentuais face a 2022.

Quanto às aquisições de alojamentos por compradores com domicílio fiscal fora de Portugal, contabilizaram-se 10.391 unidades, menos 3,1% relativamente a 2022, somando 3.600 milhões de euros, um recuo homólogo de 1,4%.

Nas transações relativas a compradores com domicílio fiscal no estrangeiro, o INE diz terem-se registrado duas situações distintas face a 2022: A categoria União Europeia, com um total de 5.025 unidades, registou uma redução no número de vendas de 13,5%; relativamente à categoria de domicílio fiscal ‘restantes países’, observou-se um aumento de 9,3% nas aquisições por estes compradores, para um total de 5.366 alojamentos.

Preços

O Índice de Preços da Habitação (IPHab) aumentou 8,2% em 2023, menos 4,4 pontos percentuais do que em 2022, tendo o número de transações de casas recuado 18,7%, divulgou INE.

“Em 2023, os preços das habitações transacionadas mantiveram uma trajetória de crescimento, tendo-se registado, no entanto, uma desaceleração, com a taxa de variação média anual do IPHab a passar de 12,6%, em 2022, para 8,2%”, refere o INE.

Já o número de transações de habitações foi de 136.499 no ano passado, uma redução de 18,7% relativamente a 2022 e o registo mais baixo desde 2017.

O valor total dos alojamentos transacionados em 2023 ascendeu a 28.000 milhões de euros, menos 11,9% do que em 2022.

Segundo o instituto estatístico, assistiu-se a um aumento dos preços quer das habitações já existentes, quer das habitações novas, mas a subida foi “mais pronunciada” nas primeiras (8,7%) face às segundas (6,6%).

A diferença no ritmo de crescimento dos preços das duas categorias de alojamentos reduziu-se para menos de metade no último ano, passando de 5,2 pontos percentuais em 2022 para 2,1 pontos percentuais em 2023.

As transações de habitações novas fixaram-se em 28.119 unidades, 20,6% do total e o peso relativo mais elevado desde 2015, já que, apesar de a redução do número de transações ter acontecido em ambas as categorias de habitação, foi mais pronunciada no caso das habitações existentes (-21,4%) do que nas novas (-6,1%).

No ano passado, o valor das transações de alojamentos existentes decresceu 16,5% comparativamente a 2022, para 20.100 milhões de euros, enquanto nas habitações novas se observou um aumento de 2,6%, para 7.900 milhões de euros.

O setor institucional das famílias adquiriu 116.752 habitações por um total de 23.500 milhões de euros, o que representa uma redução anual de 19,8% em número e 13,8% em valor, e respondeu por 85,5% do total de transações, menos 1,2 pontos percentuais face a 2022, e por 83,9% do respetivo valor, menos 1,9 pontos percentuais.

Considerando apenas o último trimestre de 2023, a taxa de variação homóloga do IPHab foi 7,8%, mais 0,2 pontos percentuais do que no trimestre anterior.

Neste período, os preços das habitações existentes aumentaram a um ritmo superior ao das habitações novas: 8,1% e 6,9%, respetivamente.

No quarto trimestre do ano passado foram transacionadas 34.126 habitações correspondendo a uma redução homóloga de 11,4% (variação de -18,9% no trimestre anterior) e a uma redução em cadeia de 0,4%.

Neste período, o valor das habitações transacionadas totalizou 7.200 milhões de euros, menos 2,6% face ao mesmo período de 2022.

Numa análise regional, o INE refere que, em 2023, todas as regiões registaram reduções do número e do valor das transações de alojamentos relativamente ao ano anterior, sendo que o Centro, com reduções de 11,8% no número e de 7,4% no valor face a 2022, foi a região com a menor contração do mercado imobiliário no último ano.

Na região Norte foram transacionadas 39.715 habitações, 29,1% do total, mais 0,9 pontos percentuais relativamente a 2022.

O Centro, o Oeste e Vale do Tejo e o Alentejo foram as restantes regiões que registraram um incremento face a 2022 nas respetivas quotas relativas, respetivamente, 1,2, 0,1 e 0,1 pontos percentuais. Nestas regiões, as habitações transacionadas perfizeram 21.406, 12.734 e 6.966, unidades, pela mesma ordem.

A Grande Lisboa, com um total de 9.100 milhões de euros, concentrou 32,3% do valor das transações de alojamentos em 2023, tendo pela primeira vez nos últimos seis anos, registado um incremento homólogo do seu peso relativo (+0,3 pontos percentuais).

Quanto ao valor das habitações transacionadas no Norte, ascendeu a 6.600 milhões de euros, enquanto no Centro atingiu os 2.500 milhões de euros, representando 23,7% e 8,9% do total do valor, pela mesma ordem.

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