Unesco anuncia Fado como Patrimônio Imaterial da Humanidade

Mundo Lusíada
Com agencias

VI Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, analisando a candidatura do Fado a Patrimônio Imaterial, em Bali, Indonésia, 25 de novembro de 2011. Foto: ANTONIO AMARAL / LUSA

Um “motivo de orgulho para todos os portugueses” enfatizou o Presidente Aníbal Cavaco Silva. Esta foi a reação do presidente português após o anúncio do Fado como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
O Comitê Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) anunciou em 27 de novembro em Bali, na Indonésia, a distinção do fado como Património Imaterial da Humanidade.
Para o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, “é um ato de justiça e de cultura”. O ministro congratulou “todos os agentes cujo trabalho mantém viva e atual a canção nacional como forma maior de expressão da cultura portuguesa”. Segundo ele, a decisão da UNESCO oficializa “o reconhecimento popular que torna o fado único e divulgado em todo o mundo”.
A candidatura foi lançada em 2004 pelo então presidente da Câmara de Lisboa, Pedro Santana Lopes, que escolheu como embaixadores os fadistas Mariza e Carlos do Carmo. E foi aprovada por unanimidade pela Câmara de Municipal de Lisboa no dia 12 de maio de 2010 e apresentada publicamente na Assembleia Municipal, no dia 01 de junho, tendo sido aclamada por todas as bancadas partidárias.
No dia 28 de junho de 2010, foi apresentada ao Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e formalizada junto da Comissão Nacional da UNESCO. Em agosto desse ano, deu entrada na sede da organização, em Paris. E neste domingo em Nusa Dua, na ilha indonésia de Bali, a UNESCO proclamou o Fado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
O secretário de Estado da Cultura também congratulou-se com a notícia, considerando que a candidatura aprovada “segue-se ao reconhecimento internacional que o fado já tinha”.
Francisco José Viegas, no Museu do Fado onde se deslocou logo após o anúncio da vitória da candidatura portuguesa, sublinhou que a importância desta notícia é tanto maior por ocorrer numa altura escassa em boas notícias. “Este reconhecimento da UNESCO é a confirmação do talento, do gênio propriamente de um elemento fundamental da cultura portuguesa”, disse o governante.

São Paulo
A comunidade portuguesa em São Paulo recebeu a notícia da escolha do Fado como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade com “grande entusiasmo” e promete celebrar a vitória com festas em diversas associações. “Estamos todos eufóricos. É um sentimento de toda a comunidade portuguesa, mas em São Paulo vínhamos torcendo muito para isso e acreditávamos muito que isso iria acontecer”, afirmou o presidente do Conselho da Comunidade Luso-brasileira em São Paulo, Antonio de Almeida e Silva.
Este galardão ajudará a “acordar” todo o mundo para a importância que o Fado possui nos valores culturais e históricos de Portugal. “Acredito que a escolha ajudará também a elevar a autoestima do português nesse momento de crise”, ressaltou.
A comunidade portuguesa no estado de São Paulo possui aproximadamente 500 mil portugueses natos, além de milhares de luso-descendentes, organizados em 47 associações. “Todos os fins de semana temos muitas festas nas associações e em todas elas o Fado será lembrado, comentado e muito comemorado”, enfatizou.

Embaixadora e Fadistas
Mariza, embaixadora da candidatura do Fado, frisou que a distinção da UNESCO “não é de alguns é de todos, a começar pelos intérpretes, mas passando pelos instrumentistas, poetas, e todos, todos”. A fadista afirmou-se “muito contente e satisfeita” e disse que com esta distinção “vamos passar a ver o fado com outros olhos”.
“Em vez de estarmos cada um a puxar para os eu lado vamos todos puxar para o mesmo, ficarmos juntos e só assim faz sentido”, disse Mariza que acredita que esta distinção irá unir mais o meio fadista. O trabalho como embaixadora “valeu mais do que a pena”, e referiu as muitas pessoas que no dia anterior ao anúncio levou milhares de pessoas a irem até ao Museu do Fado em Alfama, em Lisboa.
Mariza salientou que apesar do “trabalho desenvolvido nos últimos seis anos, esta candidatura começou em 2004 com Pedro Santa Lopes [então presidente da Câmara de Lisboa]” que a convidou para embaixadora. A criadora de “Cavaleiro monge” referiu ainda o “excelente trabalho, muito importante” de Carlos do Carmo, o de Rui Vieira Nery, de Sara Pereira que “esteve de alma e coração” e “de todos quantos nela colaboraram”.
“Mas antes de ser um Património Imaterial da Humanidade é um património nosso e isto não o podemos esquecer. É de todos nós. De todas as pessoas que o acarinharam”.
Para Ana Moura, “o Fado sempre foi Patrimônio da Humanidade”, e acrescentou que distinção “vai aconchegar a alma [dos portugueses] e encher-nos a todos de orgulho”.
Maria da Fé qualificou a classificação como “uma coisa maravilhosa para o Fado e para o nosso país”, considerando que “daqui para a frente é uma incógnita” mas afirmou a “esperança que traga mais clientes, não só turistas como, muito especialmente, portugueses” às casas de Fado que todos dias apresentam este gênero musical, sem amplificações.
Camané afirmou que distinção trará maior divulgação e António Rocha, por seu turno, disse que irá dar mais trabalho” a quem atua nos palcos internacionais.

Exportação
Também a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) congratulou-se com a classificação do fado pela UNESCO, destacando que esta decisão é importante “para a exportação da música feita em Portugal.
Em comunicado, José Jorge Letria, presidente da direção da SPA, manifestou “profunda satisfação” com a decisão. “Esta decisão confirma a importância desta forma de expressão musical no quadro de um mundo marcado pela diversidade cultural, mas ao mesmo tempo globalizado e sujeito à influência hegemônica de linguagens e produtos provenientes dos países mais ricos e poderosos”, sublinha Letria.
Para a SPA, este “triunfo da candidatura” do fado “é importante para compositores, poetas, intérpretes e músicos, para a imagem de Portugal no mundo e para o contributo que a cultura e as artes podem dar para a recuperação da economia nacional, designadamente através da exportação da música feita em Portugal”.
“Daí a importância que poderá e deverá assumir o Gabinete de Exportação da Música Portuguesa, cuja instalação depende, neste momento, das instâncias de decisão política, uma vez que o projeto se encontra há meses estruturado”, considera.

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