Real Gabinete Português de Leitura reúne intelectuais e personalidades durante “aniversário” no Rio

Por Igor Lopes
Do Rio para Mundo Lusíada

Mais um ano de vida promovendo a cultura portuguesa. Foi com esse sentimento que dezenas de pessoas decidiram prestigiar a cerimônia de comemoração dos 175 anos de fundação do Real Gabinete Português de Leitura no Rio. A sessão solene, realizada na própria sede do Gabinete, no Centro, no último dia 14, contou com a presença de intelectuais e amantes da literatura e história portuguesas, além de figuras conhecidas da comunidade lusitana carioca. O prédio, que é conhecido pela sua vasta biblioteca e pela fachada detalhadamente trabalhada, não se deixa passar despercebido, mesmo durante uma típica noite de chuva na cidade maravilhosa.

O evento conseguiu reunir personalidades sonantes do meio literário. Prova disso foi a participação de Cleonice Berardinelli, membro da Academia Brasileira de Letras e especialista em literatura portuguesa. Oradora oficial da solenidade, Cleonice destacou o papel do Gabinete ao longo dos anos, a importância da língua portuguesa, e dos seus escritores, no processo de afirmação da cultura lusa no Brasil e no mundo. A festa ficou completa com a entrega de Títulos Honoríficos às personalidades que estiveram presentes no “aniversário”. Houve espaço ainda para uma exposição de fotografias alusiva à história da entidade. O apagar de velas ficou por conta da promessa de que o trabalho vai continuar.

Segundo Antônio Gomes da Costa, presidente do Real Gabinete desde 1992, o coração se enche de orgulho ao ver a entidade completar tantos anos de sucesso.

“Estamos dando continuidade ao que foi feito no passado pelos nossos antecessores. Durante gerações, o Gabinete sempre foi um marco das organizações portuguesas no Brasil”, diz Gomes da Costa que afirma que é necessária muita batalha para manter a atual estrutura.

“No século XIX, havia queixas de que faltavam recursos no Gabinete. No século XX, também e, no século XXI vai continuar a ser assim. Estamos passando por uma grande reformulação. A comunidade portuguesa tende a desaparecer. A faixa etária é muito elevada. Não há imigração”, realça o responsável.

Por sua vez, o cônsul-geral de Portugal no Rio, Nuno Bello, reconheceu que já tinha conhecimento da existência da entidade desde quando trabalhava junto ao gabinete dos secretários de Estado da Comunidade Portuguesa. Contudo, segundo ele, estar no local foi uma descoberta.

“Eu sabia que o Real Gabinete era uma instituição importantíssima no Rio, mas não tinha consciência da riqueza do espólio da entidade, o que faz com que, de fato, seja um templo de cultura portuguesa numa cidade como o Rio”, comenta o cônsul, que revela que essa estrutura lhe transmite um orgulho enorme de ser português.

“Acho que este local é impressionante em termos arquitetônicos, de riqueza, de qualidade intelectual das pessoas que participaram dessa cerimônia e se aprofundam na história de Portugal e no relacionamento entre os dois países. Essa é uma realidade que eu acho que é única no mundo”, conclui Nuno Bello.


Fundação histórica

O Real Gabinete foi fundado em 14 de maio de 1837, como uma associação de portugueses residentes no Brasil. O intuito era o de valorizar e divulgar a cultura lusitana. Após a sua sede passar por vários endereços, a entidade acabou criando raízes profundas no Centro do Rio. Hoje, o prédio tem como vizinhos ambientes cariocas de muita riqueza cultural, como o Largo de São Francisco de Paula, a Praça Tiradentes e o Teatro João Caetano.


Gomes da Costa, Cleonice Berardinelli e Nuno Bello.

Imponência em pleno Centro carioca

Quem passa pelo Centro do Rio se impressiona. Do lado direito de quem passa na rua Luís de Camões, no sentido da Praça Tiradentes, um prédio se destaca pela sua imponência arquitetônica. De estilo neomanuelino, a estrutura deixa uma clara mensagem de que o local é fonte de orgulho para os cariocas. E não só. A edificação representa um marco histórico para a comunidade portuguesa residente no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro. A sua importância é tal que o local está tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. O edifício, projetado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro, foi erguido entre 1880 e 1887.

A fachada, trabalhada por Germano José Salle em pedra de lioz, foi inspirada no Mosteiro dos Jerônimos, um dos principais pontos turísticos de Lisboa. Logo de frente, vêem-se quatro estátuas que retratam Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante D. Henrique e Vasco da Gama. Medalhões fazem recordar os escritores Fernão Lopes, Gil Vicente, Alexandre Herculano e Almeida Garrett. Tudo isso num momento único de viagem pela história dos dois países irmãos.

No interior, a sua beleza é ainda maior. Também de estilo neomanuelino nas portadas, estantes de madeira para os livros e monumentos comemorativos, o local conta com o teto do Salão de Leitura trabalhado e um candelabro e clarabóia em estrutura de ferro, que se caracteriza por ser o primeiro exemplar desse tipo de arquitetura no Brasil.

Com tantos detalhes, é possível entender o motivo que fez com que diretores de programa de televisão se apaixonassem pelo seu cenário. O prédio foi utilizado como locação para filmes, telenovelas e especiais de televisão, tais como “O Primo Basílio” (1988), de Daniel Filho, “Os Maias” (2001), de Luiz Fernando Carvalho e “O Xangô de Baker Street” (2001), de Miguel Faria Jr., entre outros.


Biblioteca de luxo

O prédio alberga a maior e mais valiosa biblioteca de obras de autores portugueses fora de Portugal. O acervo reúne cerca de 270 mil livros, sendo alguns raros. Aberta ao público desde1900, abiblioteca guarda exemplares valiosos, como a edição “princeps” de “Os Lusíadas”, de Camões (1572), as “Ordenações de D. Manuel” (1521), os “Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles fizeram” (1539), um manuscrito da comédia “Tu, só tu, puro amor”, de Machado de Assis, entre outras.

Diariamente, o recinto recebe, em média, 150 visitantes. Na lista de visitantes do passado figuram Machado de Assis, Olavo Bilac e João do Rio.

Outro grande orgulho do Real Gabinete é o Centro de Estudos, que nasceu em 1969 com a finalidade de realizar cursos, conferências, palestras e congressos, bem como promover o intercâmbio e a colaboração com universidades e institutos culturais e artísticos do Brasil e do exterior.

Vinculado ao Centro de Estudos, funciona o Polo de Pesquisa sobre Relações Luso-Brasileiras (PPRLB), criado em abril de 2001 por Gilda Santos, professora e atual coordenadora-geral do projeto.

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