Prêmio financiará estudo sobre prática médica no Brasil colonial

Da redação

A professora Ana Carolina de Carvalho Viotti foi contemplada em uma chamada promovida pela Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais (EHESS) que lhe permitirá dar continuidade aos seus estudos sobre saúde, doença e alimentação na atuação de missionários da Companhia de Jesus.

Viotti é historiógrafa do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa Histórica (CEDAPH) e professora no Programa de Pós-Graduação em História, ambos no câmpus de Franca.

O EHESS é um prestigiado centro público francês de caráter científico, cultural e profissional voltado para o ensino superior, atuando especificamente com a pós-graduação e a pesquisa. Intitulado Prix international d’encouragement aux études postdoctorales – etudes globales (Prêmio Internacional de Incentivo para Estudos de Pós-Doutorado – Estudos Globais, em uma tradução livre), o resultado foi divulgado no começo deste ano.

Além do centro francês, a chamada teve apoio do Instituto Europeu de Ciências e da Cultura P. Manuel Antunes, da Universidade Aberta, de Portugal e da Sociedade Internacional de Estudos Jesuítas (SIEJ), uma organização comprometida com a produção do conhecimento crítico a respeito da Companhia de Jesus.

A pesquisadora desenvolverá a proposta “Conhecimento do corpo, da natureza e da ciência médica em um livro jesuíta para as ‘terras destituídas de médicos e boticas’ (Goa, século XVIII)”. Em 2018, Viotti publicou o livro As práticas e os saberes médicos no Brasil colonial (1677-1808), com o apoio da Fapesp.

“O projeto está estritamente ligado às minhas atividades de pesquisa e de orientação na área de história da medicina, da saúde, da alimentação e dos jesuítas no mundo lusófono”, explica Viotti, que receberá um valor de 8 mil euros e desenvolverá o projeto junto ao Centre Alexandre-Koyré, instituto vinculado ao EHESS com foco na história social e cultural da ciência, do conhecimento e da tecnologia.

Brasil colônia

No livro As práticas e os saberes médicos no Brasil colonial (1677-1808), o leitor encontra o mapeamento de um conjunto de conhecimentos produzidos entre meados do século XVII e o início do oitocentos que, ao amalgamarem costumes dos nativos e técnicas importadas, compuseram As práticas e os saberes médicos no Brasil colonial.

A autora fez “levantamento mais completo possível dos escritos publicados por médicos e cirurgiões que atuaram no Brasil durante o período considerado. No primeiro capítulo, enfoquei os médicos e a hierarquia que havia entre eles. No segundo, as doenças e como os doentes eram descritos. No terceiro estão as receitas e os ingredientes empregados em sua confecção”, disse Viotti à Agência FAPESP.

“A escolha dessa obra – publicada com o título Queixas repetidas em ecos dos arrecifes de Pernambuco contra os abusos médicos que nas suas capitanias se observam tanto em dano das vidas de seus habitadores – foi bastante intencional, porque ela explicita, logo de início, um conflito que perpassou todo o período, constituído pela oposição entre médicos formados nas universidades europeias e práticos não diplomados e curandeiros que atuavam no país”.

Viotti lançou ainda livro em Portugal durante o XIV Colóquio Raízes Medievais do Brasil Moderno – A Viagem, na Universidade do Minho em 2019. “Cuidar do espírito e do corpo entre o velho e os novos mundos (séculos XIII-XVIII)”, foi organizada pelas professoras da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Unesp de Franca, Susani Silveira Lemos França e Ana Carolina de Carvalho Viotti.

A obra aborda múltiplas relações sociais e culturais mediadas pelo Atlântico entre os séculos XIII e XVIII, com ênfase sobre instrumentos moralizadores que, ao longo dos séculos, contribuíram para estabelecer um modo de viver qualificado como virtuoso, sustentado na ética cristã e focado ora no corpo, ora na alma, ora em ambos.

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