Por Eulália Moreno
Para Mundo Lusíada
Vá até a busca do Google e digite “Sevastopol” ou “ Simferopol”. Não se surpreenda ao encontrar um link para o site http://www.guitarraportuguesa.com.br/. Os responsáveis? Três jovens guitarristas, luso-descendentes, Ricardo Araújo (32), Renato Araújo (27) e Saulo Rodrigues (24) que levaram a essas duas cidades da Península da Criméia, Ucrânia, o instrumento musical de excelência da música portuguesa e a inscreveram na história de ambas as cidades.
O convite feito por Dimitry Belinsky do quarteto Skaz e pelo Maestro Valentim Lobanov do Colégio Tchaikovsky levou os músicos a uma viagem com escalas em Amsterdam e Kiev até a base da digressão, na cidade de Simferopol. Hospedados num hotel de boa qualidade, com uma van disponibilizada para deslocações e um intérprete, alta patente no exército, que pede o anonimato mas explica que aprendeu a falar português quando combateu em Angola.
Com os seus 370 mil habitantes Sevastopol é uma cidade portuária, localizada às margens do Mar Negro na Península da Criméia, distante 100 quilômetros de Simferopol, que, em tempos serviu de base naval para a ex-URSS. Na época da Guerra Fria era chamada de “Cidade Proibida” já que o acesso era apenas permitido a pessoas devidamente autorizadas, pois ali eram abastecidos e reparados submarinos nucleares. Pela sua localização geográfica foi e continua a ser de grande importância estratégica para os russos que mesmo depois da pulverização da USRR ainda administram o porto em parceria com a Ucrânia até 2047. Mas também é uma popular estância balneária e turística possuindo um museu a lembrar a todos que o medo de uma hecatombe nuclear fazia parte do dia a dia dos soviéticos.
Nessa cidade, no Teatro Dramático e Musical deu-se a primeira apresentação, mas antes disso e a convite da prefeita local, conheceram os pontos turísticos da cidade tendo almoçado com as autoridades da administração local, oportunidade em que foram convidados para retornar em 2012 a cidade. “Eu serei jurado de um concurso internacional de Balalaika e o trio se apresentará em vários espetáculos. Fiquei muito feliz e honrado com esse convite porque a Ucrânia é um país que busca sempre a alta qualidade nos instrumentos musicais”, diz Ricardo.
O concerto foi para aproximadamente 200 pessoas entre autoridades locais, civis e militares, estudantes e professores de música. “No final do concerto, um dos presentes nos disse que pensava que o Brasil só tinha bons jogadores de futebol mas que se tinha enganado: também tinha bons músicos. Na equipe local do Sevastopol jogam oito brasileiros”, recorda Ricardo que exibe orgulhoso o quepe de marinheiro que foi oferecido a cada integrante do trio.
O Colégio Tchaikovsky em Simferopol, capital da Criméia, foi o palco da segunda atuação. “Cinco emissoras locais de televisão gravaram e no final demos uma coletiva de imprensa onde os jornalistas queriam saber da minha relação com a Balalaika, se gostava, se sabia tocar, se tinha alguma em casa. Foi muito engraçado”. No repertório, algumas músicas clássicas como Ave Maira de Gounod/Bach, Marcha Turca de Mozart, peças populares tradicionais de Armandinho, Artur Paredes, Manuel Marques, Brasileirinho (Waldir Azevedo), Santa Morena (Jacó do Bandolim) e uma surpresa: uma composição inédita de Ricardo Araújo, “Melodias de Gratidão”, que foi muito elogiada.
No dia seguinte foi o mais importante: o Dia da Balalaika, um evento anunciado como o Encontro de Grandes Músicos do Planeta que aconteceu no teatro da cidade e reuniu 12 músicos, cada qual tocando duas músicas e transmitido ao vivo para toda a Ucrânia. “Escolhemos o Corridinho do Nelito e o Brasileirinho. No final, todos participantes tocaram com orquestra a música tradicional russa, Katiuschka. Foi emocionante”, recorda.
Levando e deixando saudades de Simferopol e Sevastopol, o trio rumou para Paris onde o trio se apresentou a convite de Tereza e Antonio Sylos, diretores da Associação Brésil Liens. “O Antonio é meu aluno de guitarra on-line e foi ele quem organizou tudo para que nos apresentássemos em Paris no Le Lieutades e no evento de reinauguração da Associação que ajuda famílias carentes de portugueses, brasileiros e luso-descendentes. Fomos muito bem recebidos, até demos entrevista ao Luso Jornal”.
Ainda neste mês de julho Ricardo, Renato e Saulo entram em estúdio para gravar o seu primeiro cd comercial, “Sem Fronteiras” que contará com a participação do quarteto Skaz Moscou. Planos é que não faltam. “Pretendemos lançar esse nosso cd no próximo ano quando voltarmos a Ucrânia. Para nos dedicarmos a isso fui obrigado a reduzir o meu número de alunos presenciais e on-line, só no curso à distância eu tenho 10 alunos permanentes em 9 países. As apresentações do trio prosseguem no Bacalhoeiro, Quinta do Olivardo, Marques de Marialva, em shows de Fado acompanhando cantores como Fafá de Belém e sempre agradecendo aos nossos Amigos e patrocinadores que continuam sempre nos apoiando”.
As apresentações do trio na Ucrânia estão disponíveis no Youtube em: