Miranda do Douro saúda criação de grupo de trabalho para promoção da língua mirandesa

Da Redação com Lusa

Entidades ligadas à salvaguarda e divulgação do mirandês reagiram “com satisfação” à constituição do grupo de trabalho para promoção da língua mirandesa, hoje publicada em Diário da República, abrindo caminho à estratégia “há tanto tempo ambicionada” por associações locais.

A presidente da câmara de Miranda do Douro, a social-democrata Helena Barril, disse à agência Lusa que viu “com satisfação” a publicação do diploma, apontando no entanto “o momento de pré-campanha eleitoral” em que é feito, quando “houve outras oportunidades” anteriores não aproveitadas.

O presidente da Associação de Língua e Cultura Mirandesa, Alfredo Cameirão, confessa-se igualmente satisfeito, e recorda que a constituição do grupo de trabalho decorre do Orçamento de Estado para 2024. Para este responsável, é ainda o primeiro passo “para a criação de uma unidade orgânica há tanto tempo ambicionada pela comunidade mirandesa, que possa guiar os destinos da língua”.

O presidente do Agrupamento de Escola de Miranda do Douro, António Santos, por seu lado, disse à Lusa que espera que “a medida se imponha, porque toda a gente sabe que a língua mirandesa está em risco de desaparecimento.”

O grupo de trabalho para promoção da língua mirandesa tem por missão definir uma estratégia para promover e proteger a língua mirandesa, até ao final de julho, assim como propor a criação de uma unidade orgânica para operacionalizar essa estratégia, segundo o despacho publicado em Diário da República, assinado pelos ministros da Cultura e da Educação, e pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação.

Este grupo, segundo o diploma, envolve a autarquia e as escolas de Miranda do Douro, a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa – Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM), e os organismos centrais instituto Património Cultural, Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Direção-Geral da Educação e o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC), do Ministério da Cultura, que coordena.

Para as entidades locais, a publicação do diploma significa sobretudo continuar a trabalhar na defesa da língua, agora com “mais garantias”, sobretudo pela perspetiva da definição de peças importantes, como a estratégia de defesa e promoção da língua e a unidade orgânica para a pôr em prática.

A autarca Helena Barril, lamentando que “a medida seja publicada num momento de pré-campanha eleitoral”, quando “houve outras oportunidades” para o Governo “ter outro papel nesta matéria”, mostrou-se determinada a prosseguir o trabalho iniciado pelo município com outras entidades, que assim ganha “aval do Governo”.

Por seu lado, o presidente da ALCM indicou que é “mais um passo para a criação de uma unidade orgânica há tanto tempo ambicionada pela comunidade, que possa guiar os destinos da língua mirandesa.”

“Desta forma ficamos com mais garantias para lutar pela preservação do idioma, para que não desapareça. Nós sempre defendemos que a existência desta entidade é fundamental e todos os passos que forem dados neste sentido são vistos como muitos positivos”, disse Alfredo Cameirão.

Do lado do Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, António Santos reiterou que “a criação de uma unidade orgânica em forma de instituto é uma peça importante para a recuperação da língua mirandesa.”

A perspetiva de criação de um instituto também foi saudada pela Federação Distrital de Bragança do Partido Socialista, quando “o reconhecimento do Mirandês, completa 25 anos” e há um “sério perigo” do seu “desaparecimento como língua viva”.

O despacho para a constituição do grupo de trabalho dá cumprimento à rubrica definida no Orçamento do Estado para 2024 de “Promoção da língua mirandesa”, aprovada na Comissão de Orçamento e Finanças, por proposta do Livre, com uma dotação de 200 mil euros.

A definição de uma estratégia e a criação de uma entidade para a defesa da língua tem vindo a ser defendida pelas entidades locais, ao longo dos anos, com argumentos reforçados desde fevereiro do ano passado, quando foram conhecidos os resultados do estudo da Universidade de Vigo, que davam conta de uma situação “muito crítica”, devido ao abandono desta forma de falar por parte de entidades públicas e privadas.

Lançado no terreno em 2020, o estudo estimou em cerca de 3.500 o número de pessoas que conhecem o mirandês, com cerca de 1.500 a usá-lo regularmente, identificando uma rotura com o idioma, sobretudo nas gerações mais novas, através de uma “forte portugalização linguística”, assente em particular na profusão dos meios de comunicação nas últimas décadas, e na identificação do mirandês com a ruralidade e a pobreza locais.

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