Governo português aposta a sua cultura no Brasil

Ministérios da Cultura planejam para 2012 o ano de Portugal no Brasil. Para Bienal das Artes, Portugal investiu cerca de 200 mil euros nas instalações portuguesas do evento em São Paulo.

 

Mundo Lusíada

>> Antonia Gaeta, técnica responsável pela vinda dos portugueses, Fátima Pereira (subdiretora do Ministério da Cultura), e João Aidos, diretor do Ministério da Cultura.

Por Vanessa SeneMundo Lusíada

O Ministério da Cultura de Portugal auxiliou a vinda dos artistas portugueses para a 29ª Bienal das Artes de São Paulo. Neste ano, o evento recebeu obras de sete artistas lusos, e para tal, contou com um investimento do Ministério da Cultura de cerca de 200 mil euros.

Em entrevista ao Mundo Lusíada, o diretor geral das Artes, João Aidos, falou da política de internacionalização do Ministério da Cultura de Portugal nas suas várias áreas, entre as quais artes plásticas. “Para nós é fundamental essa presença de Portugal no Brasil numa Bienal tão importante, que este ano apostou forte depois de alguns momentos piores” diz João Aidos, citando a edição de 2008, chamada por alguns de “Bienal do Vazio”, que teve uma redução de 120 para 42 artistas e uma ameaça de corte de 40% no orçamento. Na edição de 2010, o evento retomou a larga participação de artistas, reunindo 159 deles.

Segundo Aidos, o Brasil é uma das prioridades de Portugal dentre os países de língua portuguesa. Por isso, os ministérios da Cultura do Brasil e de Portugal pretendem planejar uma melhor interação na área. “Estamos a falar de um país enorme, e nós queremos o mais possível, ainda mais num país irmão, que não só os nossos artistas mas os brasileiros  – que são excelentes e existem muitos bons artistas plásticos contemporâneos que sejam também vistos em Portugal – que haja essa troca fundamental” defende o diretor, citando que muitos dos artistas portugueses contam com renome internacional e por vezes são desconhecidos no Brasil, ou vice-versa.

O Ministério luso da Cultura, na pessoa do João Airos, esteve mantendo contatos com algumas instituições e galerias brasileiras a fim de aumentar a circulação de artistas portugueses, e assim, preparar a programação do ano de 2012, que vai ser o ano de Portugal no Brasil. Segundo o diretor, passado este momento de eleições, será iniciada a estratégia do evento até o final do ano, que engloba a divulgação da cultura com apresentações, música, cinema, gastronomia e demais tópicos de um país no outro. “Já começamos a trabalhar a fundo, pelo menos do nosso lado, a perceber o que pode ser importante para 2012”.

Comentando a baixa divulgação da música, arte e cinema português no Brasil, João Aidos afirmou que está sendo feito algum trabalho a este respeito através dos Ministérios. “É verdade que algumas áreas não existe essa troca tão grande, como por exemplo a música” disse o diretor. Para ele, o Brasil tem uma música fantástica, mas em Portugal há uma série de novos músicos portugueses que são desconhecidos pelos brasileiros.

“Há áreas que estão mais divulgadas, como a dança contemporânea, é uma área muito conhecida em Portugal e vice-versa. Há muitos artistas portugueses com residência no Rio e em São Paulo, muitos coreógrafos a trabalhar no Brasil. Mas esta área da música é muito mais difícil, por conta do mercado” diz citando por exemplo a cantora Mariza que esteve em São Paulo a convite de uma empresa portuguesa, mas exemplificou a entrada da cultura portuguesa no país com o cinema e artes plásticas. “Para certas áreas é necessário fazer um caminho estratégico. Estamos a trabalhar exatamente nesta estratégia”.

Neste âmbito, o diretor citou o lançamento do DOC TV CPLP – I Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,  composto por nove documentários, num trabalho conjunto entre instituições e profissionais de todos os países-membros da CPLP, além de Macau. E prevê a realização de um evento de lançamento em cada pólo nacional. Em Portugal, o lançamento foi organizado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) e pelo Ministério da Cultura de Portugal, e a missão brasileira foi chefiada pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, representando o Ministério da Cultura.

“Tivemos lá uma semana para conversar e este projeto é para continuar a aposta não em documentários, mas em longa-metragem. Então há uma aposta muito grande, e o Brasil é a principal delas dentro dos países da CPLP”.

Bienal das ArtesNa área de artes plásticas, João Airos comentou da falta de apoio que enfrenta alguns artistas, assim como acontece no Brasil. “Estamos resolvendo isso neste momento. É uma política de apoio na área das artes plásticas, não existia antes, sobretudo para que galeristas possam participar das principais feiras em termos de estratégia política do próprio Ministério, e permitir que os artistas sejam conhecidos a nível internacional e que nossa imagem seja projetada”.

Portugal está num momento econômico difícil, como toda Europa, e vem sofrendo com as restrições orçamentais do déficit, afirma Aidos. “As principais instituições que compram arte estão com mais dificuldades porque há cortes em todos os setores. Nós temos procurado parcerias com outras empresas e outras áreas” para não deixar de apoiar.

Segundo ele, a seleção dos sete artistas portugueses foi dos próprios curadores da Bienal. “Nós demos liberdade para eles escolherem os artistas que lhes interessavam dentro do tema para este ano”. Dentre os portugueses, João Airos destacou a obra de Carlos Bunga. “É uma adaptação ao espaço, acho que quando os artistas fazem trabalhos no próprio espaço, a obra atinge uma outra potencialidade. Eu gostei muito da obra dele. A obra de Pedro Barateiro também é muito interessante”.

Citou também Pedro Costa como um dos artistas conhecidos no Brasil. “Nesta comitiva temos artistas mais jovens como Pedro Barateiro, tanto como outros mais conceituados. Portanto, há uma complementaridade muito interessante. E uma aposta muito forte, uma das grandes apostas de Portugal”.

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