Estudantes contam como usaram o Enem para estudar em Portugal

Mundo Lusíada com ABr

Dados preliminares do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 apontam para 71,9% de participação na prova do último domingo, 5 de novembro, em que mais de 3,9 milhões estavam inscritos para o exame nacional brasileiro.

Os candidatos fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. No próximo dia 12, farão as provas de matemática e ciências da natureza. As notas das provas podem ser usadas para concorrer a vagas no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu); a bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni); e a financiamentos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o Enem também pode ser usado para estudar no exterior.

“Eu passei duas semanas de muito nervosismo na espera do resultado e, por fim, estava lá meu nome, uma mistura de felicidade e ansiedade que nada pode descrever”. Foi um longo processo, que envolveu desde o preparo, a inscrição e o levantamento de documentos para a obtenção de visto para que a estudante Giulia Borim pudesse finalmente ingressar na Universidade de Coimbra, em Portugal, usando a nota do Enem. Mas, segundo ela, todo o planejamento valeu a pena.

“Pode ter certeza que vale muito a pena. Viver essa experiência, independentemente da ansiedade, foi uma das melhores escolhas que fiz. Depois de muitos e muitos documentos, chega o grande dia de viajar e começar a aventura mais louca e incrível de todas”, conta a estudante, que está no terceiro ano do curso de engenharia civil na universidade portuguesa.

Localizada na cidade de Coimbra, em Portugal, a universidade é a instituição de ensino superior mais antiga do país e uma das mais prestigiadas da Europa. Em 2013, foi incluída na lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Foi também a primeira universidade estrangeira a firmar convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), para o uso das notas do Enem no processo seletivo. Atualmente essa lista conta com 51 universidades portuguesas. 

Cada uma delas tem uma exigência específica em relação à nota que deve ser obtida nas provas e em relação aos requisitos necessários para os novos alunos. O estudante deve se informar o que é necessário para ingressar na universidade que deseja. O ensino não é gratuito, mas é possível buscar bolsas de estudo para ajudar nos custos.

Quem passou e está passando pela experiência de estudar fora recomenda: é importante planejar e se preparar para as provas, para obter bom desempenho.

Giulia é de Campinas (SP) e cursou o terceiro ano do ensino médio em meio à pandemia. “Isso dificultou muitas coisas, porém consegui conciliar tudo e estudar em casa sozinha mesmo. Devido à minha condição financeira na época, não pude pagar cursinho, então achei no Youtube um cursinho gratuito, de professores da cidade de São Carlos (SP), que queriam ajudar os alunos na pandemia e me inscrevi. Fui aceita e estudei por um ano inteiro todos os dias – dias de semana e fins de semana -, fazendo resumos e assistindo às aulas do cursinho. Minha média diária de estudo era de 11 horas nos dias de semana”, conta a estudante.

Uma estratégia usada por ela foi colar post-its nos locais onde mais ia na casa, com as fórmulas, datas e informações importantes. “Ou seja, sempre que ia à cozinha fazer um café,eu lia as datas das guerras, por exemplo”. Ela também recomenda cuidado com o corpo, exercícios e um hobby.

Um sonho realizado
Para o estudante Mateus Nishiyama, estudar fora do país era um sonho. “Sempre tive muto interesse de abrir esses horizontes, de descobrir um lugar novo, cultura nova, ter essa experiência de morar e estudar fora do país”. Nishiyama nasceu no Japão e viveu no país até os 4 anos de idade. Como a família é metade brasileira, ele mudou-se para Aquidauana (MS), onde estudou até ser aprovado na Universidade de Coimbra, no curso de relações internacionais.

Assim como Giulia Borim, Nishiyama fez o Enem em meio à pandemia, em 2021. Ele também buscou, na internet, a complementação para os estudos. Cursou o ensino médio no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e, para se preparar para o Enem, buscou um curso de redação, prova que considera o diferencial no Enem. Apesar de toda a ansiedade no preparo, ele conta que a vontade de estudar fora foi o que o motivou. “De certo modo, é um combustível para ajudar nesse caminho, que nem sempre é fácil, sempre tem esse momento de ansiedade, de dúvida”, diz.

Ele também recomenda muito planejamento. “Seja o planejamento com o estudo, seja do que quer fazer, seja o planejamento financeiro para quando for mudar. Tudo parte de um planejamento e isso é muito importante para que consiga se colocar na realidade a respeito das oportunidades e possibilidades. O que quer fazer, o que pode fazer e quais são as suas opções. Acho que isso é muito importante, principalmente quando vai mudar para outro país. Saber, de forma mais prática, qual custo de vida para se mudar, quais as opções de curso, quais os documentos que preciso”.

Os estudantes contam que tiveram muito apoio da universidade em todas as dúvidas no processo seletivo e também no processo de adaptação, quando chegaram em Coimbra.

Planejamento
Estudar fora do país, de acordo com a especialista em estudos internacionais da Fundação Estudar, Beatriz Alvarenga, exige um planejamento de longo prazo. “Meu sonho é que um aluno do 9ª ano soubesse que pode pensar em fazer graduação fora. Não precisa decidir para qual universidade quer ir, mas precisa saber que há essa possibilidade”.

Beatriz explica que muitas das instituições de ensino, sobretudo as de língua inglesa, analisam uma série de aspectos do aluno na hora da admissão na graduação. Contam, por exemplo, as atividades extra classe que ele realizou ao longo do período escolar, se ganhou ou não algum prêmio. As notas no Enem, naquelas que aceitam o exame, e o desempenho em todo o ensino médio são apenas alguns dos aspectos analisados. Assim, quanto antes o estudante começar a se preparar, mais chances tem de ser aceito.

Além disso, como as universidades são pagas, é preciso um planejamento financeiro, além de dominar o idioma. “Primeiro, saber que essa possibilidade existe, entender as possibilidades concretamente, quanto custa para onde quero ir, qual idioma, se não tiver indo para Portugal. O dinheiro necessário, quanto custa? Se não tenho, existem bolsas?”, diz Alvarenga. É preciso também levar em consideração aspectos emocionais: “Tem o desafio do autoconhecimento, que a gente não trabalha como deveria. Entender para onde quer ir e entender que é onde vai morar pelo próximos três, quatro anos. Isso é fundamental para a saúde mental enquanto tiver fazendo graduação”.

Ela explica que o convênio das universidades portuguesas com o Inep ajuda na hora da seleção. Além de a língua não ser uma barreira, o processo seletivo tende a ser mais simples, considerando basicamente o desempenho no Enem. A questão do custo, no entanto, ainda é uma barreira, já que Portugal não tem a oferta de bolsas como uma política, assim como o governo brasileiro. O estudante precisa então verificar se a universidade na qual deseja estudar oferece bolsas ou buscar bolsas por conta própria.

A Fundação Estudar está com dois processos seletivos abertos, o programa Líderes Estudar e o Tech Fellow, voltado para a área de tecnologia. As inscrições podem ser feitas até abril de 2024, e o estudante precisa ser aprovado até maio na instituição que deseja cursar. As bolsas chegam a até 95% dos custos. “Ainda assim, não é de graça. Depende de o jovem encontrar bolsas externas, não é simples encontrar para fazer graduação”, diz.

Além das universidades que têm convênio com o Inep, outras instituições no mundo aceitam o Enem como parte do processo seletivo, como na Irlanda, EUA, Canadá e Reino Unido.

Confira as Instituições de educação superior portuguesas que aceitam notas do Enem

1. Universidade de Coimbra (UC) – 26/5/2014 | Renovação em 6/6/2019
2. Universidade do Algarve (UAlg) – 18/9/2014 | Renovação em 6/6/2019
3. Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) – 24/4/2015
4. Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) – 10/7/2015
5. Instituto Politécnico do Porto (P.Porto) – 26/8/2015
6. Instituto Politécnico Portalegre (IPP) – 8/10/2015
7. Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA) – 9/11/2015
8. Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) – 24/11/2015
9. Universidade de Aveiro (UA) – 25/11/2015
10. Instituto Politécnico da Guarda (IPG) – 26/11/2015
11. Universidade de Lisboa (ULisboa) – 27/11/2015
12. Universidade do Porto (U.Porto) – 9/3/2016
13. Universidade da Madeira (UMa) – 14/3/2016
14. Instituto Politécnico de Viseu (IPV) – 15/7/2016
15. Instituto Politécnico de Santarém (IPSantarem) – 15/7/2016
16. Universidade dos Açores (UAc) – 4/8/2016
17. Universidade da Beira Interior (UBI) – 20/9/2016
18. Universidade do Minho – 24/10/2016
19. Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (Cespu) – 24/3/2017
20. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Universidade Lusófona) – 5/4/2017
21. Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) – 5/4/2017
22. Instituto Politécnico de Bragança (IPB) – 6/4/2017
23. Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) – 22/5/2017
24. Universidade Lusófona do Porto (ULP) – 25/5/2017
25. Universidade Portucalense (UPT) – 26/7/2017
26. Instituto Universitário da Maia (Ismai) – 26/7/2017
27. Instituto Politécnico da Maia (Ipmaia) – 6/10/2017
28. Universidade Católica Portuguesa (UCP) – 22/1/2018
29. Universidade Fernando Pessoa (UFP) – 26/2/2018
30. Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Ispa) – 27/4/2018
31. Instituto Leonardo da Vinci (ILV) – 27/4/2018
32. Escola Superior de Saúde do Alcoitão (Essa) – 23/5/2018
33. Universidade Lusíada – Norte – 23/5/2018
34. Universidade Lusíada – 23/5/2018
35. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) – 21/9/2018
36. Escola Superior Artística do Porto (Esap) – 29/10/2018
37. Universidade Europeia – 20/12/2018
38. Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL) – 6/6/2019
39. Escola Superior de Saúde Norte da Cruz Vermelha Portuguesa (ESSNorteCVP) – 6/6/2019
40. Universidade Autônoma de Lisboa (UAL) – 6/6/2019
41. Instituto Politécnico da Lusofonia (Ipluso) – 14/8/2019
42. Instituto de Estudos Superiores de Fafe (IESFafe) – 17/10/2019
43. Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (Ismat) – 19/11/2019
44. Instituto Superior Dom Dinis (Isdom) – 19/11/2019
45. Instituto Superior de Gestão (ISG) – 19/11/2019
46. Instituto Superior de Gestão e Administração de Santarém (Isla Santarém) – 19/11/2019
47. Instituto Superior de Gestão e Administração de Gaia (Isla Gaia) – 19/11/2019
48. Instituto Português de Administração de Marketing (Ipam) de Lisboa – 23/1/2020
49. Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) – 13/3/2020
50. Instituto Português de Administração de Marketing (Ipam) do Porto – 5/5/2021
51. Universidade Nova de Lisboa – 7/1/2021

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