PT/Oi: O “sonho” de grande operadora de telecomunicações lusófona enterrado

Da Redação
Com Lusa

OiPT_PortugalTelecomDois anos após o anúncio da fusão da PT SGPS e Oi, o ‘sonho’ de criar uma grande operadora de telecomunicações brasileira está enterrado, os gestores saíram, o BES passou a banco ‘mau’ e a PT Portugal mudou de mãos.

Na manhã de 02 de outubro de 2013, as ações da Portugal Telecom (PT SGPS) dispararam 8,5% com o anúncio da proposta de fusão com a operadora brasileira Oi, numa operação que estimava sinergias de aproximadamente 1,8 mil milhões de euros.

A nova empresa que daí resultasse iria beneficiar de “maior escala” e da posição de liderança em Portugal e no Brasil, referia o acordo de intenções divulgado ao mercado, que avançava que a nova entidade seria presidida por Zeinal Bava, na altura presidente executivo da Oi e da PT Portugal, e que o lugar de vice-presidente seria ocupado por Henrique Granadeiro, então presidente executivo e ‘chairman’ da PT.

A fusão iria criar “um operador de telecomunicações multinacional de matriz lusófona e ambição global”, afirmava Henrique Granadeiro, numa mensagem interna aos trabalhadores, sublinhando que a empresa não iria ter presença apenas em Portugal e no Brasil.

“Não queremos apenas uma empresa com presença no Brasil e em Portugal, mas sim uma empresa de raiz lusófona que tem por base os 250 milhões de falantes de língua portuguesa”, afirmava o gestor, que dez meses depois acabaria por renunciar a todos os cargos na PT após ter sido tornado público o investimento de 897 milhões de euros da ‘holding’ em papel comercial da Rioforte, do Grupo Espírito Santo (GES).

A ideia de uma grande operador para a lusofonia já estava na base da parceria estratégica realizada com a Oi em 2010, depois da PT ter vendido a sua participação na brasileira Vivo à espanhola Telefónica.

Por sua vez, Zeinal Bava explicava que “a ambição” da nova empresa era estar “entre os maiores ‘players’ globais, assumindo uma vocação multinacional” e “afirmando-se como uma referência em termos de inovação tecnológica, excelência operacional e criação de valor acionista”.

Para Ricardo Salgado, na altura presidente do Banco Espírito Santo (BES), acionista de referência da PT, a fusão era “o culminar de uma estratégia em que o grupo BES esteve e continuará fortemente envolvido”, salientando que esta seria uma operação que “rasga novos horizontes para Portugal” e que iria contribuir para o reforço das relações entre Lisboa e Brasília.

O ‘sonho’ de criar uma operadora de telecomunicações lusófona, uma “das maiores do mundo com mais de 100 milhões de clientes, 30 mil colaboradores e presente em quatro continentes”, como sublinhava Zeinal Bava, viria a cair por terra com a ‘descoberta’ do investimento da operadora em papel comercial da Rioforte.

A 30 de junho de 2014, a PT SGPS assumia o investimento e isso seria o detonador da mudança que a operadora iria sofrer nos meses seguintes, com a Oi exigir esclarecimentos sobre a aplicação financeira. O primeiro impacto é o afastamento de Henrique Granadeiro do Conselho de Administração da nova operadora lusófona.

Em seguida, o BES, tal como era conhecido, deixa de existir: divide-se a instituição entre o banco ‘mau’ e o Novo Banco, este último ainda por vender.

A operadora não resiste à crise do seu acionista de referência, Granadeiro abandona todos os cargos que ocupava; os acionistas da PT aprovam um novo acordo com a Oi, que passa de processo de fusão para combinação de negócios; Zeinal Bava deixa a Oi; e a PT Portugal, dona da Meo e do Sapo, que tinha passado para as mãos da Oi, é colocada à venda.

Desde o início deste verão que a PT Portugal é detida pela multinacional Altice.

No final de setembro, o regulador brasileiro CVM informou o mercado que está a analisar um pedido de reavaliação da fusão entre a Oi e Pharol, apresentado pelo acionista brasileiro Polo Capital.

Até hoje continua por esclarecer quem foi ou foram os responsáveis pelas aplicações na Rioforte, já que ninguém assumiu a responsabilidade, quer justificando a falta de memória ou desconhecimento sobre a matéria.

A Pharol (anterior PT SGPS) vai avançar com processos em tribunal pelos danos causados pela aplicação na Rioforte, mas já não vai recuperar o ‘sonho’ de uma grande operadora lusófona: a PT Portugal é agora uma subsidiária de uma multinacional francesa.

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