Presidente da Guiné-Bissau assassinado em casa

Da Redação Com Lusa

 

João Bernardo “Nino” Vieira morreu na madrugada de 01 de março na sequência de um ataque contra a sua residência. A casa do presidente guineense foi atacada por militares das Forças Armadas, poucas horas após o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié, ter morrido num atentado à bomba em pleno Quartel-General, em Bissau.

A primeira-dama da Guiné-Bissau, Isabel Vieira, está viva e em lugar seguro, apesar do ataque à residência em que foi assassinado o presidente guineense. Não foi revelado o local onde a primeira-dama está por razões de segurança. Segundo informações não oficiais, Isabel Vieira estaria refugiada na Embaixada de Angola em Bissau.

Segundo a Constituição guineense, em caso de morte do presidente, o responsável máximo do Parlamento assume provisoriamente o Estado até a realização de eleições, num prazo máximo de 90 dias.

Países de Língua Portuguesa Praticamente todos os países de língua portuguesa manifestaram seu pesar e preocupação com a situação na Guiné-Bissau após o assassinato do presidente “Nino” Vieira.

“Portugal lamenta profundamente a morte do presidente “Nino” Vieira, vitimado por um atentado verificado nas últimas horas na Guiné-Bissau, e apresenta sentidas condolências ao presidente da Assembleia Nacional, bem como a todo o povo da Guiné-Bissau”, indica nota oficial do governo português. Para o governo, é “fundamental que todas as autoridades políticas e militares do país respeitem a ordem constitucional guineense”.

Foi anunciado por Portugal ainda a convocação nas próximas horas de uma reunião de emergência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para debater os acontecimentos no país africano.

O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, pediu que o presidente do Parlamento da Guiné-Bissau assuma interinamente a chefia do país e o apoio da comunidade internacional para a realização de eleições presidenciais dentro de 60 dias. “Apelamos a que a ordem constitucional seja respeitada, ou seja, que o presidente da Assembleia Nacional (Popular – ANP, Raimundo Pereira) assuma a Presidência da República e que a comunidade internacional apoie a Guiné-Bissau para que sejam realizadas novas eleições (presidenciais) no prazo de 60 dias”, afirmou Neves.

Paralelamente, o ministro cabo-verdiano da Administração Interna, Lívio Lopes, reúne-se na manhã de 02 de março com o Serviço Nacional de Proteção Civil (SNPC) para preparar um plano de emergência para a eventual retirada de cabo-verdianos residentes na Guiné-Bissau e receber refugiados, como já aconteceu depois do conflito militar de 1998. O ministro português das Relações Exteriores considerou que a situação é mais um revés no desenvolvimento do país. Em declarações à Agência Lusa, Luís Amado lamentou “os acontecimentos violentos” desta madrugada em Bissau e apelou à “reposição da ordem constitucional”.

Segundo Amado, os acontecimentos provam que “o ciclo de violência e instabilidade política que se abriu há dez anos atrás ainda não foi encerrado”. “Há tensões em algumas instituições, designadamente nas Forças Armadas e de segurança que ainda não estão completamente estabilizadas e por isso mesmo temos estado a acompanhar nos últimos meses o processo de reforma do setor de segurança e defesa”, disse Amado.

O ministro garantiu ainda que “os portugueses estão bem” e que o governo de Portugal está acompanhando diretamente a situação, tendo sido acionado no domingo o plano de emergência, que prevê a retirada dos cidadãos nacionais em caso de necessidade. “O plano de emergência foi ativado ontem à noite para que, se houver um desenvolvimento mais dramático da situação, as pessoas saibam o que deve ser feito e os mecanismos de apoio sejam ativados”, disse Amado.

O governo de Angola também condenou “veementemente” a violência que levou à morte o presidente da Guiné-Bissau. Angola tem estado na linha da frente das iniciativas diplomáticas para normalizar a agitação político-militar na Guiné-Bissau, incluindo apoio financeiro para a estabilização do país.

Na recente visita que o primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, realizou a Angola, Luanda disponibilizou uma linha de crédito estimada em cerca de US$ 30 milhões. No campo diplomático, Luanda tem igualmente mantido um esforço continuado para a estabilização da Guiné-Bissau. Além da diplomacia, Luanda mantém fortes interesses econômicos na Guiné-Bissau, sobretudo nas áreas da exploração de minerais e petróleo.

General morto O CEMGA da Guiné-Bissau, major general Baptista Tagmé Na Waié, morreu na noite de domingo, 01 de março, na sequência de uma explosão registrada junto do seu gabinete de trabalho, no quartel-general em Bissau. De etnia Balanta, uma das mais importantes da Guiné-Bissau, Tagmé Na Waié era CEMGFA desde o princípio de 2005, sucedendo ao general Veríssimo Correia Seabra, morto em 6 de outubro de 2004.

A morte de Tagmé Na Waié é a terceira de um Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) na Guiné-Bissau na última década, depois das de Ansumane Mané (2000) e de Veríssimo Correia Seabra (2004), ambos abatidos em circunstâncias ainda desconhecidas.

Em 4 de janeiro último, Tagmé Na Waié acusou membros das milícias do presidente guineense, João Bernardo “Nino” Vieira, os “Aguenta”, de o terem tentado assassinar. Na ocasião, ele adiantou que tudo ocorreu quando, próximo da meia-noite, passava em frente à presidência da República, no centro de Bissau. Os acontecimentos descritos pelo CEMGFA sucederam-se a um ataque por um grupo de militares à residência de “Nino” Vieira, em 23 de novembro de 2008, de que o presidente guineense saiu ileso.

Após os acontecimentos nesta segunda, o general das Forças Armadas da Guiné-Bissau garantiu, em comunicado, que vai obedecer ao poder político e às instituições guineenses e pediu à população que se mantenha calma e serena.

O texto assinado pelo capitão de Mar Zamora Induta, ao qual a Agência Lusa teve acesso, indica que “no dia 1º de março pelas 19h41 (16h45 em Brasília), uma bomba colocada por indivíduos ainda não identificados explodiu no edifício principal do Estado-Maior vitimando mortalmente o general Tagmé Na Waié, tendo deixado gravemente feridos três escoltas seus quando subiam para o gabinete”. “Não obstante, as medidas tomadas para evitar possíveis dissabores, um grupo de cidadãos por identificar assaltou a residência do presidente da Guiné-Bissau, João Bernardo “Nino” Vieira, tendo-o baleado até à morte”, indica a nota.

Afirmando que tudo aconteceu “num momento em que o Estado tem vindo a promover ações no quadro da reconciliação no seio das Forças Armadas”, a instituição militar informa que “a situação está sob controle, apela à população para se manter calma e serena e não abandonar as residências”.

Além disso, as Forças Armadas reafirmam ainda “o compromisso e a firmeza em obedecer ao poder político e às instituições da República” e garante que “vai manter-se intransigente com a sua missão constitucional”.

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