Germano Almeida recebe Prêmio Camões no Rio de Janeiro

Da Redação

Histórias de personagens das ilhas cabo-verdianas, em especial São Vicente, onde nasceu, marcam a obra do escritor e poeta Germano Almeida, vencedor da 30ª edição do Prêmio Camões de Literatura.

Na noite de terça-feira, na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, ladeado pelos ministros da Cultura de três países, o cabo-verdiano recebeu o maior galardão dedicado a escritores de língua portuguesa. Ouviu palavras carinhosas e elogiosas das autoridades e em seu discurso de agradecimento, dedicou a honraria ao povo de Cabo Verde. “Povo que me deu a conhecer suas histórias. Eram histórias encantadoras, muitas encantadas, que desafiavam nossa imaginação por mundos incógnitos”, lembrou.

Em “O Testamento do Sr. Nepomuceno”, obra de estreia do escritor, Germano conta a história de um homem que foi “apanhado pelas coisas”. Desembarcou descalço em São Vicente e não só comprou sapato, como enriqueceu. Já em “Dois Irmãos”, uma de suas obras mais famosas, o drama de uma família marcada por um crime de fratricídio é descrito de forma rica e minuciosa, com suas diferentes nuances.

Para Germano, escrever é algo natural, como comer, ou respirar. “Eu escrevo desde sempre; publiquei com quase 50 anos de idade por acaso, pois nunca escrevi com a ideia de publicar. Se tenho uma história pra contar, eu sento e escrevo”, diz ele.

Talvez essa naturalidade justifique o espanto do escritor ao receber a notícia de que tinha sido o agraciado com o Prêmio Camões de Literatura. “Eu recebi a ligação do ministro da Cultura e fiquei muito feliz, mas logo pensei: tanta gente que poderia estar recebendo este prêmio”.

Prêmio lusófono

O ministro da Cultura do Brasil, Sérgio Sá Leitão, disse que Germano Almeida elevou com sua obra a língua portuguesa e que seus livros precisam ser mais conhecidos e divulgados em todos os países lusófonos. Já o ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, orgulhoso do escritor de sua terra, parabenizou Germano dizendo que a honraria é celebrada por todos os cabo-verdianos. “Apesar de sermos um país tão pequeno, conseguimos causar impacto através das nossa história e o Germano, de certa forma, homenageia a nossa humildade e simplicidade, mas de uma forma muito (…) humana”.

Luis Filipe de Castro Mendes, ministro de Portugal, enfatizou a importância da língua portuguesa, “primeira mais falada no hemisfério Sul, quinta mais falada no mundo”. “É uma grande alegria que este prémio tenha sido concedido a um escritor cabo-verdiano, por Cabo-Verde ser um país muito importante no mundo dos países de língua portuguesa mas, sobretudo, porque ele é um grande escritor. Tem uma grande ironia, uma grande capacidade de distância e que se aproxima até um pouco do espírito brasileiro, nessa vontade de não se levar demasiado a sério e nesse humor que ele mantém”, salientou à Lusa o governante português.

O Prêmio Camões foi instituído entre os governos de Portugal e do Brasil em 1988 e é considerado o mais importante da literatura em língua portuguesa. O objetivo é o de consagrar, anualmente, um autor da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que, pelo conjunto de sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua. A comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa. O vencedor recebe 100 mil euros, sendo 50 mil euros arcados pelo Ministério da Cultura do Brasil.

O Brasil teve 12 representantes premiados nas 30 edições do evento. Antes de Almeida, outro cabo-verdiano recebeu a premiação. O poeta e ensaísta Arménio Vieira foi o vencedor da edição de 2009.

Vida e Obra

Germano Almeida estudou Direito na Universidade de Lisboa e dedica-se à advocacia na ilha cabo-verdiana de São Vicente. Estreou como contista no início da década de 1980. Seu primeiro romance, O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo, teve os direitos vendidos para vários países e foi adaptado ao cinema. As suas obras foram também editadas no Brasil, França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Holanda, Noruega e Dinamarca.

Seus primeiros textos foram assinados com o pseudônimo de Romualdo Cruz. Esses relatos, revistos ou reescritos, juntamente com outros até então inéditos, foram publicados em 1994 sob o título A ilha fantástica, a que se juntou A família trago, publicado em 1998, obras que recriam os anos da sua infância e o ambiente social e familiar da Ilha da Boa Vista.

Entre a sua extensa obra também se destacam títulos como O meu poeta (1990), Estórias de dentro de casa (1996), A morte do meu poeta (1998), Dona Pura e os Camaradas de Abril (1999), As memórias de um espírito (2001), O mar na Lajinha (2004) e Eva (2006). O escritor também foi um dos cofundadores da revista literária Ponto e Vírgula e seu romance mais recente é O Fiel Defunto (2018).

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