CCLB reclama ‘desinteresse’ de autoridades brasileiras e portuguesas no “22 de Abril”

Antonio de Almeida e Silva diz que “nem as autoridades de lá, nem as de cá – com raríssimas exceções – fazem esta comemoração, está lá no artigo 18, mas ninguém faz, é uma vergonha”, diz o dirigente ligado a várias entidades luso brasileiras.

 

Por Odair Sene

No último dia 06 de maio, aconteceu no Salão Nobre da Portuguesa o tradicional evento do Conselho da Comunidade Luso Brasileira do Estado de São Paulo (CCLB), solenidade transferida do Ibirapuera para o Canindé, o “Dia da Comunidade Luso Brasileira” 22 de Abril e “Dia do Descobrimento do Brasil”.

Por conta da importância da data, o CCLB celebra há mais de 20 anos, com uma solenidade comemorativa que estava (até então) a ser realizada no Parque do Ibirapuera em S.Paulo, onde está a estátua de Pedro Álvares Cabral.

Explicação – Em dezembro de 1930, um decreto promulgado no governo de Getúlio Vargas consolidou a celebração do descobrimento em 22 de Abril. No entanto, o texto retirou a data do calendário de feriados nacionais. Sobrou como feriado o dia 21 de abril, data da morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Sobre o Parque do Ibirapuera onde o CCLB sempre realizou o evento, o processo de privatização começou com a concessão deste que é o principal parque da cidade, no ano de 2019, em projeto iniciado por João Doria, quando ainda era prefeito e finalizado depois por Bruno Covas, morto em maio de 2021.

Paralelamente às mudanças, a comunidade portuguesa seguiu se empenhando em valorizar a data, nunca deixou de dar a importância que a data e a memória dos descobridores merecem (menos, claro, na época da pandemia), e neste ano quando o CCLB programou seu calendário para retomar a celebração, os atuais administradores do Parque comunicaram a cobrança de uma taxa de R$ 40 mil pelo uso do espaço, o que, segundo o CCLB, inviabilizou a realização.

A Solenidade

Sendo assim, com protocolo da Sra. Fabiola Vaz, e contando com apresentação do Grupo Folclórico Raízes de Portugal e porta-bandeiras de diversos grupos, o evento foi “acolhido” pela Portuguesa e assim realizado em 06 de maio na Rua Comendador Nestor Pereira, 33 no Canindé.

Foram anunciados os nomes para o palco, do Presidente do CCLB Manuel Magno Alves, o Vereador Marcelo Messias (MDB), e da Sra. Denise Boni de Mattos – vice presidente da Portuguesa. Com execução dos hinos de Brasil e Portugal deu-se início à solenidade com a primeira fala do Presidente Manuel Magno.

Magno iniciou com especial agradecimento ao vereador Marcelo Messias que se empenhou para a efetivação do acordo para o evento no Ibirapuera “que infelizmente não pôde ser realizado, apesar de, através do seu gabinete, estivesse tudo aprovado, e fomos surpreendidos com a notícia que todos já conhecem, mas quero agradecer publicamente pelo empenho do vereador”, disse o presidente.

Magno seguiu na leitura de uma mensagem citando a histórica carta de Pero Vaz de Caminha e a comunidade de portugueses como sendo uma “comunidade valente, empreendedora, acolhedora e entusiasta” e pelos seus valores, dizendo que o CCLB trabalha para não deixar a data cair no esquecimento.

“O CCLB por meio dos seus diretores, trabalha e se empenha para não deixar cair no esquecimento esta especial data de 22 de abril, além de manter os valores históricos e culturais, por meio do seu movimento associativo, hoje é um momento especial para expor a verdadeira e honrada história de nossa gente”, disse.

Fabiola Vaz leu um histórico sobre a época da construção do Conselho por iniciativa de um grupo de portugueses liderados pelo saudoso Valentim dos Santos Diniz (morto em março de 2008) que presidiu o Conselho por 11 anos, seguido de Antonio dos Ramos, Antonio de Almeida e Silva e Manuel Magno Alves.

Nesta noite o Conselho prestou homenagens para cinco personalidades oferecendo justamente a “Medalha Valentim dos Santos Diniz”: Marcelo Messias, Antonio dos Ramos, Antonio de Almeida e Silva, Antero Pereira e Antonio Carlos Castanheira.

O vereador Marcelo Messias foi anunciado para passar sua mensagem aos presentes e também receber a homenagem. Ele que participa de diversas associações, entidades e órgãos representativos, disse estar “lisonjeado” por estar num ambiente luso de onde seu pai de sobrenome “Costa” deve ter descendência.

“Eu tenho muito carinho pela comunidade portuguesa porque vocês fizeram São Paulo, fizeram o Brasil e quando falo de portugueses também falo da Igreja Católica que veio com os portugueses e eu tenho um carinho enorme por este povo que não é só das padarias, os portugueses realmente fizeram a diferença em nosso país – se o Brasil existe é porque os portugueses estão aqui – sou muito grato a Deus por estar aqui”, referiu.

Também homenageado nesta noite o ex-presidente do CCLB Com. Antonio dos Ramos (atual presidente da Casa de Portugal de SP) que não pôde comparecer por motivos de saúde, foi representado pelo diretor da Casa o Sr. Antonio Joaquim de Oliveira Paiva Freixo, que agradeceu em nome do presidente Ramos.

Outro ex-presidente homenageado com a Medalha Valentim dos Santos Diniz foi o advogado Dr. Antonio de Almeida e Silva, que está no Brasil desde 1956 quando chegou com dois anos. Ele foi inserido no meio da comunidade em 1974 pelo saudoso Dr. Joaquim Justo dos Santos (falecido em janeiro de 2020 aos 86 anos), que o levou para a Portuguesa onde o conhecido “Almeidinha” ocupou vários cargos diretivos, sendo também presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas (órgão consultivo do Governo português), entre outros inúmeros cargos em diversas associações.

Em seus agradecimentos Almeida e Silva fez questão de falar sobre a falta de interesse de autoridades nesta importante para a história do Brasil. “Nós estamos comemorando o dia 22 de Abril, Dia da Comunidade Luso Brasileira. E foi criado através de um diploma legal em Portugal e no Brasil e neste diploma legal diz que: tanto as autoridades diplomáticas de lá quanto de cá, no dia 22 de abril farão comemorações que dê notabilidade à importância da data. Só tem uma coisa, nem as autoridades de lá, nem as de cá com raríssimas exceções, fazem esta comemoração, está lá no artigo 18 mas ninguém faz, é uma vergonha”, disse o dirigente explicando que a comunidade tem feito, até porque “não precisamos de autoridades para comemorar a data, mas seria importante, e infelizmente não acontece”, comentou dizendo que fez um alerta apenas porque “portugueses e brasileiros tem um patrimônio comum e cabe a nós fiscalizar este patrimônio”, encerrou sendo bastante aplaudido.

Outro homenageado desta noite foi o Sr. Antero José Pereira, dirigente ligado à área da panificação e também a Comunidade Gebelinense de São Paulo sendo um dos fundadores. Chegou ao Brasil em 1968 atua em várias entidades como no Conselho, na Lusa, Arouca e Gebelinense. Antero Pereira agradeceu e também cobrou mais atenção para a data – pela importância e lamentou também o problema do Ibirapuera que ficou lá com a estátua “que foi os portugueses que fizeram e a colocaram lá”, reforçou.

O último nome anunciado para receber a homenagem foi o Presidente da Portuguesa (e sócio do clube desde 1971) Antonio Carlos Castanheira, que não esteve presente (estava em viagem) sendo representado pelo diretor Avelino Tomaz, que também fez uso da palavra para agradecimentos em nome do presidente. Ele defendeu que a data seja novamente valorizada e comemorada com ênfase pela sua importância e representatividade.

Marcelo Messias

Por fim o Vereador de São Paulo Marcelo Messias – MDB (presente pela primeira vez numa solenidade luso brasileira) ainda falou ao Mundo Lusíada comentando sobre o assunto que sobressaiu nesta noite, sobre o uso do Parque Ibirapuera.

Lembrado pela reportagem que o saudoso vereador Toninho Paiva foi por muitos anos a voz da comunidade, Marcelo Messias que pode assumir esta bandeira de defesa da comunidade na Câmara, disse que recebeu este convite da comunidade com muita alegria, mas o assunto acabou entristecendo.

“Eu fiquei muito triste com isso porque já tínhamos disponibilizado através do nosso gabinete toda a estrutura para fazer o evento, e uma semana antes eles comunicam aos organizadores sobre ‘uma simples taxa’ que até nos dispomos a pagar, mas quando passaram que o valor seria de R$ 40 mil reais – eu imaginei que seria R$ 2 mil / R$ 3 mil – eu daria de presente para a comunidade, então achei um absurdo, tentei várias vezes retomar o assunto com a assessoria mas não tive sucesso, peço desculpas como vereador”, disse Marcelo prometendo marcar uma reunião com eles, para saber como chegaram ao absurdo valor.

Questionado sobre a posse da estátua de Pedro Álvares Cabral, que é uma figura cultural emblemática ligada à historia do descobrimento do Brasil, Marcelo Messias entende que é um patrimônio de São Paulo e se dispôs a ver o que há no contrato.

“É difícil acreditar que eles [administradores] estão sendo retentores da estátua que é de São Paulo, vou averiguar o que foi feito neste contrato nesta Parceria Público Privada (PPP) para ver se a gente consegue tirar a imagem de lá para um lugar onde a comunidade queira, não podemos permitir que eles tenham a estátua de Pedro Álvares Cabral, não é possível, é um patrimônio cultural da cidade e da comunidade portuguesa”, referiu prometendo comunicar futuras novidades sobre o assunto.

O encontro foi finalizado com apresentação do Grupo Folclórico Raízes de Portugal da Associação dos Poveiros de São Paulo, com apresentação do Sr. Albino Vieira.

Porta bandeiras dos Grupo Folclóricos de São Paulo estiveram presentes representando praticamente todas as associações. São eles: Grupo Folclórico da Casa dos Açores, Casa de Portugal de São Paulo, Grupo Folclórico da Portuguesa de Desportos, Rancho Folclórico Pedro Homem de Mello, Grupo Folclórico do Arouca SP Clube, Rancho Folclórico Português Aldeias da Nossa Terra do Arouca SP Clube, Grupo Folclórico Raízes de Portugal da Associação dos Poveiros de São Paulo, Grupo Folclórico Casa Ilha da Madeira Infanto Juvenil, Folclore e Etnografia da Região Autônoma da Madeira, Grupo Folclórico Lusitano, e Grupo Folclórico da Casa do Minho de SP.

Agradecimentos do protocolo também para alguns presidentes e representantes de entidades luso brasileiras citados nesta noite como a Sra. Maria Vieira Sardinha Gonçalves (Conselheira da Diáspora Madeirense no Brasil); Franhklin Antero de Sá Pereira, Presidente da Comunidade Gebelinense de S.Paulo; Antonio Carlos, presidente do Arouca, Manuel Dias Bettencourt, presidente da Casa Ilha da Madeira, Jorge Rosmaninho, presidente da Associação dos Poveiros de S.Paulo.

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