Presidente da Comissão Europeia e do Brasil discutiram avanços no acordo UE-Mercosul

Mundo Lusíada com Lusa

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o presidente brasileiro, Lula da Silva, mantiveram uma conversa telefônica neste dia 20 sobre o “andamento da negociação do acordo entre Mercosul e União Europeia”, anunciou hoje o Governo brasileiro.

“Os dois concordaram em acompanhar de perto o trabalho dos negociadores nos próximos dias e deverão voltar a se encontrar na próxima semana, durante a COP-28, em Dubai, Emirados Árabes”, indicou, em comunicado, a Presidência brasileira, sobre a conversa telefônica entre os dois lideres.

A presidência brasileira recordou que o país ocupa a presidência do Mercosul até o dia 07 de dezembro e, por isso, tem estado a discutir com a  União Europeia os pontos finais do acordo entre os dois blocos.

Mais cedo, a Comissão Europeia fez saber que mantém a intenção de fechar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e Mercado Comum do Sul (Mercosul) este ano, apesar da oposição do ultraliberal Javier Milei, vencedor das presidenciais argentinas.

“Continuamos a trabalhar no sentido de cumprir o prazo estabelecido para que este acordo seja concluído antes do final do ano, continua a ser esse o caso”, declarou o porta-voz do executivo comunitário para a pasta do Comércio, Olof Gill.

“O que posso dizer é que as negociações [sobre o acordo UE-Mercosul] estão em curso e estão a ser extremamente construtivas e concentradas, tendo sido realizadas três reuniões entre os principais negociadores em outubro e na semana passada”, adiantou Olof Gill.

Javier Milei, candidato ultraliberal, venceu o peronista Sergio Massa na segunda volta das presidenciais que decorreram no domingo na Argentina.

Milei tem vindo a defender posições polêmicas, como a retirada da Argentina do Mercosul, tendo mesmo classificado este bloco como uma “união aduaneira de má qualidade, que cria distorções comerciais e prejudica os membros”. Depois recuou defendendo uma reforma no bloco.

A UE e Mercosul têm mantido um contato regular, no sentido de conseguirem concluir as negociações nomeadamente em questões como os compromissos ambientais, após um primeiro aval em 2019, que não teve seguimento.

As discussões evoluíram bastante nos últimos dois meses levando à expectativa de ambos os blocos em concluir o acordo na cimeira dos presidentes do Mercosul, marcada para 07 de dezembro, no Rio de Janeiro.

O próximo Presidente argentino, que sucederá ao peronista Alberto Fernández (2019-2023), governará a partir de 10 de dezembro para o período 2023-2027.

O acordo UE-Mercosul abrange os 27 Estados-membros da UE mais Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o equivalente a 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.

Relação Institucional

Em entrevista a Agencia Brasil, o cientista político argentino Leandro Gabiati destacou que aliados e assessores do futuro presidente da Argentina, apesar de afirmarem que ele não terá relação pessoal com o presidente Lula, afirmam que haverá contatos institucionais via Itamaraty ou ministérios.

“Ainda que os dois presidentes não conversem diretamente, há interesses em comum que farão com que as relações entre os dois países continuem relativamente normais. Enxergo como algo parecido com o que aconteceu entre o ex-presidente Bolsonaro e o presidente argentino Alberto Fernández. Os dois não dialogaram durante suas gestões, mas muita coisa continuou avançando”, ponderou.

Gabiati acredita, porém, que medidas de teor liberal, ainda que não tire a Argentina do Mercosul, pode enfraquecer o bloco. “Não será uma relação fácil entre Argentina e Brasil, mas não se chegará ao radicalismo de tirar a Argentina do Mercosul porque isso traria sérios impactos para economia e indústria argentina”, afirmou.

Para o professor Nildo Ouriques, a relação entre Brasil e Argentina, dada a dependência entre os dois países, não deve ser alterada. O presidente do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (Iela-UFSC) defendeu que a política é feita de atos, não de declarações.

“Uma campanha eleitoral na América Latina não tem a menor importância prática se você não vincular as declarações com os atos. Vamos ver o que o Milei vai fazer, mas será muito pouco. O Mercosul é o paraíso das multinacionais. Por isso mesmo, o bloco não corre nenhum risco. Acha que Lula ou Milei vão se enfrentar com as multinacionais? De jeito nenhum. Das 15 maiores empresas do comércio entre Brasil e Argentina, 13 são multinacionais”, explicou à EBC.

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