Cidade de Wuhan e mercado chinês não podem ser vistos como origem da pandemia

Da Redação Com Lusa

A cidade de Wuhan e o mercado de Huanan, na China, não podem ser considerados como ponto de origem da pandemia, conclui o relatório da equipe de cientistas da Organização Mundial da Saúde que investigou a origem do coronavírus.

A investigação realizada por estes especialistas indica que houve casos iniciais que nada tinham a ver com o mercado Huanan, em Wuhan, e que agora se sabe que, em dezembro de 2019, houve uma transmissão considerável do vírus na comunidade que também não pode ser associada àquele lugar.

Estas informações “sugerem que aquele mercado não foi a fonte do surto”, afirma o relatório.

Esta é a primeira conclusão da missão internacional de 17 cientistas, que trabalharam com uma equipe composta pelo mesmo número de especialistas chineses, numa visita de 28 dias a Wuhan, metade dos quais foram passados pelo primeiro grupo em quarentena.

O local de onde o coronavírus SARS-CoV-2 se espalhou inicialmente permanece um mistério, porque, apesar de o mercado não estar totalmente descartado, não há provas suficientes de que a crise sanitária causada pela covid-19 tenha começado ali.

“Neste momento, não se podem tirar conclusões firmes sobre o papel do mercado de Huanan na origem do surto ou sobre a forma como a infeção terá chegado ao mercado”, sublinha o relatório.

Os cientistas apontaram também que estudos de diferentes países sugerem que o SARS-CoV-2 pode ter circulado várias semanas antes de o primeiro caso ser detectado em Wuhan.

Isto pode sugerir “a possibilidade de uma circulação ignorada em outros países”, referem os cientistas, que consideram importante conhecer estes casos anteriores.

Uma das narrativas mais comuns das autoridades chinesas é que o vírus não se espalhou pelo mundo a partir de Wuhan, mas tendo começado noutro lado.

Animal

A OMS considera que é muito provável que o coronavírus SARS-CoV-2 tenha passado do reino animal para os humanos, mas ainda não determinou como aconteceu.

A hipótese do salto indireto, ou seja, por meio de uma espécie intermediária, é a que mais peso tem no relatório final os especialistas.

No entanto, ainda não há provas suficientemente fortes para apontar para uma espécie em particular, apesar do facto de os pangolins serem os principais suspeitos.

Das quatro hipóteses avançadas pela equipa internacional de cientistas que esteve em Wuhan, a que é considerada menos provável é a que aponta para um acidente de laboratório.

A hipótese de salto direto da espécie portadora do coronavírus para uma pessoa parece-lhes uma probabilidade um pouco maior do que a da propagação do SARS-COV-2 na espécie humana através de um alimento congelado.

Em relação à hipótese inicial (transmissão por uma espécie intermediária), que aparece no relatório como a mais plausível, os cientistas lembram que os dados genómicos recolhidos em animais indicam que os coronavírus mais próximos do causador de covid-19 foram encontrados em morcegos e pangolins, o que mostra que esses mamíferos podem atuar como reservatórios naturais.

No entanto, a conclusão não é concreta já que “nenhum dos vírus que foram identificados nessas espécies são suficientemente semelhantes ao SARS-CoV-2 para serem seus progenitores diretos”, explica o relatório.

Da mesma forma, o fato de que, neste período de pandemia, vários outros mamíferos – como gatos ou martas – terem sido propensos ao contágio indica que não se pode excluir que outro animal tenha servido de ponte para o contágio em humanos.

Outro elemento que serve de dúvida para a possibilidade de os morcegos terem sido os responsáveis pelo contágio é que o vírus não foi detetado em amostras e análises de populações de morcegos e de outros animais selvagens em toda a China.

“Foram recolhidas mais de 80.000 amostras de animais selvagens, gado e aves em 31 províncias da China e não houve resultados que pudessem ser identificados com o novo coronavírus”, afirmam os cientistas no documento hoje apresentado.

O que não há dúvida, porque a ciência o estabeleceu, é que a grande maioria dos vírus emergentes têm origem em animais, mas a investigação amplia o círculo de animais que podem ter servido como intermediários e transmissores para humanos, incluindo agora coelhos, cães, guaxinins e gatos domesticados.

A hipótese de um acidente de laboratório é vista pela missão da Organização Mundial de Saúde como improvável, desde logo porque não há registro de nenhum laboratório que tenha trabalhado, antes de dezembro de 2019, com um vírus parecido com o do SARS-CoV-2 ou estudado genomas que, combinados, pudessem dar dar-lhe origem.

Sobre os três laboratórios em Wuhan, que os cientistas puderam visitar brevemente e que trabalham com o coronavírus, todos foram vistos como tendo altos padrões de biossegurança e gestão.

Ao contrário de certas informações que têm circulado, o relatório afirma que não houve, entre os trabalhadores, qualquer pessoa que tenha apresentado sintomas compatíveis com covid-19 nas semanas e meses anteriores ao final de 2019.

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